João Bosco deveria estar no seminário para iniciar a sua formação sacerdotal no dia 30 de outubro de 1835. Seu pequeno e humilde enxoval estava pronto. Todos os seus parentes estavam contentes. João, seguramente, mais contente que todos. Mamãe Margarida, porém, se punha a observar seu filho, como se quisesse dizer alguma coisa.
Um dia antes de João partir, Margarida o chamou e lhe disse estas palavras inesquecíveis:
– Meu Joãozinho, acabas de vestir a batina. Sinto toda consolação que uma mãe pode sentir pela alegria do seu filho. Lembra-te, porém, que não é o hábito que honra teu estado, mas as virtudes que praticares. Se por desgraça vieres um dia a duvidar de tua vocação, ah! Por caridade! Não desonres a batina. Larga-a imediatamente. Prefiro ter como filho um pobre camponês, a um padre negligente nos seus deveres. Quando nasceste eu te consagrei a Nossa Senhora: quando começastes os estudos, eu te recomendei a devoção a nossa Mãe. Pois agora também recomendo-te que sejas todo dela. Ama os companheiros devotos de Maria. E se chegares a ser sacerdote, recomenda e propaga sempre a devoção a Nossa Senhora.
Ao terminar essas palavras, Mamãe Margarida estava muito comovida. E João chorava.
– Mamãe, agradeço-lhe todas as suas palavras e tudo o que fez por mim; seus conselhos não foram dados em vão, serão por toda vida o meu tesouro.
No outro dia pela manhã, bem cedo, João foi para Chieri e na tarde do mesmo dia ingressou no seminário. Tratava-se do antigo convento dos padres filipenses (congregação fundada por São Filipe Nery), suprimido pelo governo francês e readquirido em 1828 por Dom Chiaverotti, arcebispo de Turim, para estabelecer o seminário arquidiocesano. O arcebispo era monge camaldulense e quis propor ao seminário um ambiente conventual, recolhido, distante da superficialidade do ambiente urbano.
O seminário possuía uma disciplina estrita e uma ascética como a que pedia o Concílio de Trento. Mas havia antes de tudo a proposta de uma maneira de ser sacerdote: o modelo do Cristo Bom Pastor que dá a vida pelas ovelhas. O arcebispo repetia incansavelmente essa proposta em suas cartas ao clero e aos seus seminaristas.
O seminário de Chieri era uma alternativa ao seminário de Turim, onde estava no seu cume a disputa entre uma moral rigorista e uma moral mais compreensiva e benigna, como norma para o ministério da confissão. Estas polêmicas prejudicavam seriamente a formação dos seminaristas.
Depois de cumprimentar os superiores e arrumar a cama, João foi passear com seu amigo Guillermo Garigliano para conhecer os dormitórios, corredores e o pátio. Lá, olhando para um relógio de sol, leu a seguinte frase: “Afflictis lentae, céleres gaudentibus horae”. Em uma tradução livre, quer dizer que para os tristes lentas, mas para os alegres rápidas passam as horas.
João, voltando-se para o seu amigo, disse:
– Eis aí o nosso programa. Vamos estar sempre alegres e o tempo passará depressa.
No dia seguinte, começou um retiro de três dias, o qual procurou fazer da melhor forma possível. Ao fim destes dias, conversou com o professor de filosofia, o teólogo Ternavásio, de Bra, e lhe pediu alguma norma de vida para cumprir bem os deveres e conquistas a confiança dos superiores.
– Uma coisa só: o cumprimento exato do dever – respondeu o sacerdote.
João acolheu esse conselho e se empenhou com toda a alma na observância das regras do seminário. Não se importava se o toque do sino era para o estudo, para a igreja, para o refeitório, para o recreio ou para o repouso. Era pontualíssimo! Essa característica lhe fez ganhar o afeto dos colegas e a estima dos superiores.
Pe. Glauco Félix Teixeira Landim, SDB
Animador das Dimensões Vocacional, Missionária e de Evangelização e Catequese da Pastoral Juvenil Salesiana
E-mail: [email protected] / Facebook: www.facebook.com/glaucosdb
ESPAÇO VALCOCCO
Capítulo 1: Espaço Valdocco: somos Dom Bosco que caminha
Capítulo 2: Um começo de vida marcado pela pobreza e por uma fatalidade
Capítulo 3: Uma mãe corajosa, amorosa e cheia de fé
Capítulo 4: Antônio, José e João: três irmãos muito diferentes
Capítulo 5: O início dos estudos de João Bosco e o começo dos conflitos familiares
Capítulo 6: Um sonho que ficou gravado profundamente na mente
Capítulo 7: Um sonho que é memória e profecia
Capítulo 8: Um sonho que envia um pastor para os jovens
Capítulo 9: Um saltimbanco de Deus
Capítulo 10: Deus tomou posse do teu coração
Capítulo 11: A fúria de Antônio
Capítulo 12: Um lugar com a família Moglia
Capítulo 13: Uma experiência rica de família e trabalho
Capítulo 14: Um tempo para aprender a falar com Deus
Capítulo 15: Um amigo inesperado
Capítulo 16: Um pai para Joãozinho Bosco
Capítulo 17: Um desastre que desfalece as esperanças
Capítulo 18: “O vaqueiro dos Becchi” retorna para a escola
Capítulo 19: Mais dificuldades na escola de Castelnuovo
Capítulo 20: Um amigo para toda a vida
Capítulo 21: “Se eu for sacerdote, serei muito diferente”
Capítulo 22: Férias em Sussambrino
Capítulo 23: O sacrifício de pedir ajuda
Capítulo 24: Chieri, uma cidade repleta de história, piedade e estudos
Capítulo 25: O início dos estudos em Chieri
Capítulo 26: Uma memória extraordinária
Capítulo 27: O cuidado de João em escolher suas amizades
Capítulo 28: A Sociedade da Alegria: uma maneira de evangelizar os colegas
Capítulo 29: O cultivo da espiritualidade na Sociedade da Alegria
Capítulo 30: João Bosco, filho de Maria Santíssima e testemunho da santidade para os seus colegas
Capítulo 31: O ano escolar de 1832-1833: a crisma de João Bosco e a ordenação do Pe. Cafasso
Capítulo 32: O amigo Luís Comollo
Capítulo 33: Um trabalho exigente no Café Pianta
Capítulo 34: Uma presença que causava admiração e fazia a diferença
Capítulo 35: A amizade e a conversão do judeu Jonas
Capítulo 36: Um jovem com muitos talentos e habilidades
Capítulo 37: Crise vocacional de João Bosco e a decisão de fazer-se franciscano
Capítulo 38: “Deus te prepara outro lugar, outra messe”
Capítulo 39: O Pe. Cinzano, instrumento da providência divina no caminho vocacional de João Bosco
Capítulo 40: O dia em que João Bosco recebeu a batina
Capítulo 41: E João finalmente entrou no seminário