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Por S. Magno Fonzar, sdb
“No princípio, criou Deus o céu e a terra (…). E Deus viu que era bom”, Depois, para guardar todos os bens criados, “homem e mulher os criou” (cf. Gn 1)[1].
Deus, em sua bondade, tudo criou e organizou de tal forma que a natureza encontrava-se em plena harmonia, assim com o seu criador. Tudo era bom! Ao homem e a mulher, criados segundo à sua imagem, Ele ordenou: guardai e cultivai todas essas coisas (Gn 2, 15). Todavia, veio o pecado e como consequência também a fome e o conflito (Gn 3, 17-19/ 4, 8).
Jesus, o Cristo, no anúncio dos profetas e já em seu nascimento, é proclamado o Príncipe e portador da paz (Is 9,6/ Lc 2, 14). Então, porque ainda existe conflitos? Mesmo após a sua ressurreição (Lc 24, 36/ Jo 20, 19.26)?
Essa é um questão que pode nos provocar. Uma outra seria quanto a fome. Deus nunca foi indiferente a necessidade de seu povo comer (Ex 16, 8-12/ Nm 11, 21/ IIRs 4, 42-44). Jesus, olhou com compaixão o seu povo e lhes deu pão (Mt 14, 13-21. 15, 32-39/ Mc 6, 32-44. 8, 1-9/ Lc 9, 10-17/ Jo 6, 5-15). Então, porque ainda há fome neste mundo?
Tais questionamentos que podem hoje inquietar crentes e descrentes provocaram também o Filho de Deus (Mt 4, 1-11/ Lc 4, 1-13).
Jesus, o Cristo, teve fome (Mt 4, 2/ Lc 4, 2. 24, 41-43/ Jo 21, 5.12) e foi perseguido, difamado, injustamente acusado e morto. De fato, a ausência de paz e a falta do que comer afligiram o Messias. Assim, porque não nos trouxe a paz definitiva e porque não cessou a penúria do alimento? Não seriam esses grandes sinais de seu poder e glória?
“O núcleo de toda tentação é colocar Deus de lado”[2]. Deus não foi indiferente as questões da paz e da fome. Jesus sofreu em sua carne tais ausências, bem como, foi tentado por elas. Mas, Ele não deixou, em sua missão, de iluminar tais realidades. Assim, a continuidade dessas tentações não seria antes uma incompreensão da adequada resposta a essas necessidades ou mesmo um desvio daquilo que é ainda mais fundamental e preciso?
“Eu vos asseguro que me procurais, não pelos sinais que vistes, mas porque ficastes saciados de pão” (Jo 6, 53). Jesus repreende e alerta: “Não somente de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus” (Mt 4, 4).
“O homem e a mulher se esconderam” e se esquivaram de sua responsabilidade (Gn 3, 8-13). Quiseram somente vantagem e abandonaram o grande compromisso (Gn 4, 5.9). Eis o erro e a origem de todo mal e suas consequências, dentre as quais: a ausência de paz e a fome.
“Nós somos colaboradores de Deus” (ICor 3, 9). “Eu vos dei o exemplo, para que façais o que eu fiz” (Jo 13, 15). Assim como na criação, Deus com liberdade e amor, confia ao homem e a mulher todos os bens criados e os faz seus colaboradores, também Jesus em sua vida e missão, ensina e envia todo discípulo com testemunhas[3].
“Dai-lhes vos de comer” (Mt 14, 16/ Mc 6, 37/ Lc 9, 13). O pão está sempre em referência a partilha. Quanto a paz, Ele falou: “Vós sois irmãos” (Mt 23, 8), “Amarás o próximo como a ti mesmo” (Lv 19, 18/ Mt 22, 39). “Nisso conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns pelos outros” (Jo 13, 35). A paz se constrói no serviço e no amor.
“O poder de Deus é suave nesse mundo, mas é o verdadeiro, o poder que permanece”[4]. Nada se constrói como mágica. Deus não nega nossa liberdade, não exclui nossa responsabilidade e não subestima nossa capacidade. Deus nos motiva, “para que tenham vida, uma grande vitalidade” (Jo 10, 10).
Jesus revela-nos o ser e o agir de Deus e traz o homem ao homem fazendo-lhe conhecer a sua sublime vocação[5]. Esse grande ensinamento de Cristo, dado com autoridade, não perece e tampouco se esgota.
“Eu vim pôr fogo à terra, e o que mais quero se já está aceso” (Lc 12, 49). Aquele que permite-se transformar pelo Espírito do Senhor, o reconhece verdadeiro pão (Jo 6, 35) e a autêntica paz (Jo 14, 6), e desse modo, agirá como força transformadora no mundo que tem fome e carece de paz.
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[1] BÍBLIA: Bíblia do Peregrino. São Paulo: Paulus, 2006, passim.
[2] RATZINGER, Joseph Alois. Jesus de Nazaré: do batismo no Jordão à transfiguração. São Paulo: Planeta, 2007, p. 41.
[3] cf. Lc 24, 48.
[4] RATZINGER. Op. cit., 2007, p. 54.
[5] Vide CONSTITUIÇÃO Gaudium et Spes sobre a Igreja no mundo de hoje. In: CONCÍLIO VATICANO II (1962-1965). São Paulo: Paulus, 1997, n. 22.