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20/08/2019
Normalmente os ditados populares expressam de forma simples e sucinta a sabedoria de um povo. Mas há também algumas exceções. Uma delas, ao meu entender, se expressa num ditado popular que diz: “Cada um por si e Deus por todos”.
Não conheço a sua origem e por isso não me atrevo a dar um juízo moral sobre isso. Em todo caso, embora respeitando a cultura popular, podemos afirmar que não se trata de um ditado inspirado pelo evangelho de Jesus e pela sua prática. É egoísmo refinado achar que cada um é por si, pois o evangelho, retomando a sabedoria do Primeiro Testamento, nos lembra que somos chamados a “amar o próximo como a si mesmo!”
Além do mais, o Deus revelado por Jesus como Pai “nosso”, não pode satisfazer as vontades de “cada um por si”, pois nos vê e nos ama como filhos e filhas que provém do seu amor e formam uma única família.
Como não se trata de um ditado recente, reparamos que ele é a expressão de uma cultura entranhada na cabeça e no coração de muitos, manifestando um egoísmo muito forte pelo qual cada um aprende a se virar, sem refletir se vai prejudicar ou não a outras pessoas: importante é levar vantagem em tudo para si próprio.
Tudo isso é reforçado hoje pela mídia, sobretudo pelas redes sociais. Ficamos impressionados ao ver o uso contínuo que muitas pessoas delas fazem e a dependência que esses meios de comunicação criam quando não são usados com moderação e prudência. Eles isolam cada vez mais as pessoas levando-as a viver num mundo fictício, dando-lhes a ilusão de ter amigos e amigas que, por serem “virtuais”, carecem de concretude, de afeto e de reciprocidade.
É muito mais gostoso dar e receber um abraço ou um sorriso, olhar uma pessoa nos olhos do que todas as mensagens do Whatsapp ou do Facebook ou ainda dos outros meios que usamos, onde podemos selecionar e excluir os nossos relacionamentos, encaminhar o que recebemos e etc.
A realidade é outra! E a realidade você não pode excluí-la nem eliminá-la porque ela existe! Assim as pessoas! Elas existem e encontrando-as a gente se relaciona e se posiciona. Infelizmente o ditado “cada um por si e Deus por todos” pode ser aplicado também à vida das pessoas e levá-las a fazer justiça com suas próprias mãos. O individualismo ou os interesses podem induzir a eliminar quem atrapalha!
Por isso fiquei estarrecido e amedrontado depois de ler o decreto assinado no dia 15 de Janeiro p.p. pelo Presidente da República. Trata-se da liberação, praticamente geral, da posse e uso de armas de fogo. Não se trata mais só de legítima defesa: é violência amparada pela lei.
Como Pastor, quero, posso e devo manifestar a minha indignação e repúdio total a esse decreto; ao mesmo tempo, expresso minha concreta e irrenunciável adesão à palavra de Jesus: “Bem aventurados os que constroem a paz, porque serão chamados filhos de Deus” (Mt 5,9).
Não à flexibilização das regras para posse e uso de armas de fogo pela população! É anti-evangélico! Quanto mais armas, mais mortes!
Por Dom Francisco Biasim – Bispo de Barra do Pirai- Volta Redonda (RJ), via CNBB