Francisco: mercado de armas é uma ameaça para a humanidade
11/01/2019Papa: no Batismo estão as raízes de nossa vida em Deus
14/01/2019
Jesus viveu cerca de trinta anos em Nazaré e arredores. Aprendeu e exerceu o mesmo ofício de carpinteiro, ali na oficina de São José. Com certeza foi testemunha de todos os fatos corriqueiros de uma pequena vila, com seus eventuais conflitos e coisas positivas. Não foi um tempo desperdiçado, mas uma realização do mistério da encarnação. Sendo Deus verdadeiro, o homem verdadeiro que é Jesus teve suas mãos calejadas pelo trabalho, cansou-se com as caminhadas pelas estradas de seu tempo, experimentou o afeto maravilhoso da família de Nazaré, cultivou amizades, conviveu com gente de todo tipo.
Depois chegou o tempo que é chamado de “vida pública”, preparado pelo ministério de João Batista, aquele que andou pregando a conversão e a penitência, em preparação da manifestação daquele que “tira o pecado do mundo”. O que não tinha pecado entrou na fila dos penitentes, tornando-se solidário com toda a humanidade. Descendo às águas, carrega sobre si os pecados e os sofrimentos de todos os homens e assume a missão do servo sofredor anunciado por Isaías (Is 53,11), que expia os pecados e tira os males corporais, que são a consequência e a pena do pecado. Foi às águas do Jordão para santifica-las!
À margem do Jordão, acontece a manifestação do Espírito Santo em forma de pomba, recordando o Espírito que pairava sobre as águas no início da criação (Gn 1,2) e a pomba lançada por Noé no final do Dilúvio (Gn 8,10-11). A voz do Pai, dirigida a Jesus, completa a revelação de seu mistério e a vida da Trindade. O Pai, o Filho e o Espírito Santo estão radicalmente comprometidos com a vida e a salvação da humanidade!
Tornando-se solidário e assumindo sobre si a humanidade machucada pelo mal, Jesus não se isola, mas desencadeia um processo que envolve discípulos. Do meio dos próprios discípulos de João houve alguns que o seguiram. Logo a seguir, anuncia a Boa Notícia e chama aqueles com os quais compartilhará a missão, tornando-os portadores da graça que vem dele mesmo, “ungido com o óleo da alegria e enviado para evangelizar os pobres” (Missa do Batismo do Senhor).
A Igreja proclama nesta festa que nas águas do Jordão foi relevado o novo Batismo, através dos sinais admiráveis ali testemunhados. Celebrá-la nos conduz a refletir sobre a nossa própria missão de batizados, mergulhados não nas profundezas das trevas, mas na vida da Santíssima Trindade, passando a viver em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo e a ser portadores da Boa Nova do Evangelho de Jesus Cristo.
Quando Jesus foi ao Jordão e ali se manifestou a natureza de sua vida e missão, revela-se o Messias pobre e servidor, que veio para nos libertar e salvar. Nele todos nós encontramos nossa vocação e homens e mulheres chamados a sair de nós mesmos para um renovado compromisso com o Reino de Deus.
No início do Ano Jubilar de nossa Arquidiocese de Belém, recordamos todas as pessoas que deram seu tempo, suor, lágrimas e muita dedicação para a vida da Igreja em nossa terra. Foram muitos os missionários e missionárias que aqui aportaram, provenientes de outras paragens do Brasil e do mundo, para formar no Evangelho o nosso povo. E aqui surgiram muitas vocações, vindas de nosso povo, pessoas que em todas as etapas da vida de Belém se dedicaram à Igreja. Desejo provocar positivamente a memória de todos os que fazem parte da geração atual para colherem de dentro de sua própria história de vida cristã, as lembranças das pessoas, especialmente sacerdotes, religiosos, religiosas e catequistas que influenciaram em sua educação cristã.
Proponho também que se edifique um memorial espiritual no qual sejam incluídas todas as obras edificadas pela Igreja Católica desde a fundação de Belém, já que antes dos trezentos anos ela já se encontrava aqui. Podemos pensar na educação de tantas gerações, e temos a Igreja de Santo Alexandre com todas as edificações a ela anexas que testemunham a saga de formação de tantas gerações, para referir apenas à primeira obra educativa, seguida por outras muitas e testemunhada pela excelência da educação católica existente hoje, como fruto do esforço de Congregações religiosas aqui presentes.
E o que fazer com o tesouro recebido das gerações passadas? Trata-se de receber esta herança e fazê-la frutificar! As pessoas mais maduras têm a responsabilidade de não deixar cair os valores a nós transmitidos. Não existe mais o “meu tempo”, como se pudéssemos viver de lembranças e que o passado fosse melhor. O tempo que se chama hoje, para usar uma expressão da Carta aos Hebreus, é que é o nosso. Os adultos de hoje sejam dignos do que receberam, perguntem-se sobre as próprias responsabilidades e coloquem mãos à obra para dar o melhor de si mesmos para a Evangelização e a Igreja, em vista do crescimento do Reino de Deus.
As novas gerações, e aqui pensamos na grande quantidade de jovens que se envolvem na vida de Igreja em nossa Arquidiocese, numa riqueza fabulosa de manifestações, carismas, criatividade e prontidão para responder aos apelos de Deus, estão prontas para tomar nas mãos a verdadeira tocha olímpica da fé que o Jubileu quer representar? Este ano quer ser de um novo protagonismo juvenil em nossa Igreja de Belém, o que significa o surgimento de novas vocações para os diversos ministérios e para as pastorais dedicadas à Evangelização da juventude, mas significa também o novo e positivo olhar para a família e o matrimônio, assim como novas respostas para a vida sacerdotal e religiosa e as novas formas de dedicação a Deus e vida missionária.
O Espírito Santo paire também sobre nós e nos conduza!
Por Dom Alberto Taveira Corrêa – Arcebispo de Belém do Pará, via CNBB