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11/03/2016Os Exercícios espirituais para o Papa Francisco e a Cúria Romana se concluíram na manhã desta sexta-feira, 11, na Casa ‘Divino Mestre’, em Ariccia. Para a meditação conclusiva dos exercícios espirituais Padre Ermes Ronchi propôs ao Papa e à Cúria Romana uma viagem dentro dos versículos da Anunciação, “evento que se realiza no cotidiano, sem testemunhas, longe das luzes e emoções do templo”, disse o pregador.
“O primeiro anúncio de graça do Evangelho foi entregue à normalidade de uma casa, ou seja, ao lugar onde cada um é si mesmo. É ali que Deus nos encontra e nos toca”.
Deus está na cozinha
“Santa Teresa de Ávila no ‘O livro das fundações’ escreveu para as suas monjas as seguintes palavras: Irmãs, recordem: Deus está entre as panelas, na cozinha. Mas como, o Senhor do universo se move na cozinha do mosteiro, entre jarras, panelas, pratos, caçarolas e frigideiras! Deus na cozinha significa levar Deus a um território de proximidade. Se você não o sente doméstico, isto é, dentro das coisas mais simples, você não encontrou o Deus da vida. Ainda está na representação racional do Deus da religião.”
Promessa de felicidade
“Olhamos para Maria para tentar costurar o rasgão mais dramático de nossa fé: o Deus da religião que se separou do Deus da vida”.
“A mulher de Nazaré como dona de casa nos lança um desafio enorme: passa de uma espiritualidade que se fundamenta na lógica do extraordinário para a mística do cotidiano. Neste cotidiano, o sentimento que prevalece é o da alegria e são as primeiras palavras da Anunciação: ‘Alegre-se Maria’, pois quando Deus se aproxima traz uma promessa de felicidade”.
“A nós que estamos cobertos de gravidade e peso, e de responsabilidades também, Maria recorda que a fé é alegria ou não é fé. Maria entra em cena como uma profecia de felicidade para a nossa vida, como uma bênção de esperança, consoladora, que desce em nosso mal de viver, nas solidões sofridas, nas ternuras negadas, na violência que nos circunda, mas que não vencerá, porque a beleza é mais forte que o dragão da violência, garante o Apocalipse. O anjo com esta primeira palavra diz que existe uma felicidade no crer, o prazer de crer”.
Obra em nossas casas
“Depois, Maria entra em cena como uma mulher que crê no amor”, disse Pe. Ronchi. “O anjo”, lê-se no Evangelho, “foi mandado a uma virgem, prometida em esposa a um homem chamado José”. Segundo o evangelista Lucas, a anunciação é feita a Maria, e segundo Mateus, a José: “Mas se sobrepomos os dois Evangelhos vemos com alegria que o anúncio é feito ao casal, ao esposo e à esposa juntos, ao justo e à virgem apaixonados. Deus está na obra em nossos relacionamentos, fala dentro das famílias, dentro de nossas casas, no diálogo, no drama, na crise, nas dúvidas e nos impulsos. Deus não rouba espaço à família, não invade, não fere, não subtrai, procura um sim plural que se torna criativo porque é a soma de dois corações, a soma de muitos sonhos e muito trabalho paciente.”
Fé rochosa ou frágil, mas autêntica
Maria sabe se dirigir a Deus, sabe perguntar como irá acontecer o que lhe foi dito. “Ter perplexidade, fazer-se perguntas é uma maneira de estar diante do Senhor, com toda a dignidade humana”, disse Pe. Ronchi. “Aceito o mistério, mas ao mesmo tempo uso toda a minha inteligência. Digo quais são as minhas estradas e depois aceito estradas acima de mim”.
“Em nenhum lugar se diz que a fé rochosa seja melhor que a fé pequena entrelaçada com perguntas. Basta que seja autêntica, aquela que na sua pequenez precisa ainda mais de Deus. O que me dá esperança é ver como no Povo de Deus continuam crescendo as perguntas, ninguém se contenta mais com respostas e palavras já ouvidas, com respostas prontas, querem entender, ir a fundo, querem fazer própria a fé. Um tempo quando todos ficavam calados diante do sacerdote era um tempo de mais fé? Acredito que seja verdadeiro o contrário e se isso é mais fadigoso para nós é também um aleluia, um finalmente.”
O pensamento conclusivo é sobre a maternidade de Deus. “Sem o corpo de Maria o Evangelho perde corpo”, é a consideração final de Pe. Ronchi. “Todos os cristãos são chamados a ser mães de Deus, porque Deus sempre precisa vir ao mundo”.
Por Rádio Vaticano