Papa aos jovens: não destruam sua vida no efêmero, escolham Deus
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13/06/2018
Pediram-me para responder à pergunta: “O que posso fazer para mudar o mundo?” A pergunta supõe que o mundo precisa ser mudado. Concordo com essa premissa. Também eu não estou contente com o mundo em que vivo. Como estar satisfeito se a humanidade conseguiu globalizar a economia, as ciências, a arte etc., mas não conseguiu globalizar a solidariedade, a partilha e a justiça?
É preciso fazer alguma coisa. Mas o quê, se sou limitado e não tenho os poderes de um Presidente dos Estados Unidos, não sou o dono da Microsoft e nem consigo, nos meios de comunicação, o espaço de um Neymar? Diante da imensidão de desafios que encontro ao longo da vida, sinto, como qualquer cidadão, que também poderia ter a tentação experimentada por Severino, no poema “Morte e Vida Severina”, de João Cabral de Melo Neto. A um dado momento, o retirante pergunta a alguém se vale a pena continuar vivendo, diante de uma vida tão severina. Ouviu, então, como resposta: é melhor lutar com as mãos do que deixá-las abandonadas para trás.
A vida me ensinou que as grandes transformações do mundo nasceram de pessoas que tiveram a capacidade de sonhar grande e repartiram seus sonhos com outras pessoas que, por sua vez, os assumiram como seus. E há sonho mais belo do que aquele que diz respeito a uma vida que seja melhor para todos e não apenas para alguns?… Tenho a convicção de que só conseguirei mudar o mundo se olhar o outro – isto é, cada pessoa –, como um irmão ou uma irmã. Se para Sartre “o inferno são os outros”, para mim os outros me completam, me enriquecem, me ajudam a conhecer meus limites e despertam em mim mil energias e criatividade.
Vivo num mundo que vê multiplicarem-se marcas de violência por toda a parte. Bem dizia um dos personagens de Guimarães Rosa, em “Grande Sertão, Veredas”: “Viver é muito perigoso!” Em contrapartida, animo-me com Dom Helder Câmara, com a afirmação que é como que um resumo de sua vida: “Feliz de quem tem mil razões para viver!”
Não tenho medo do futuro, porque descubro, a cada passo, o quanto de capacidade para o bem há no coração humano. Aprendi com meu mestre e senhor, Jesus Cristo, que é preciso conjugar, a cada dia, verbos como amar, doar-se, repartir, perdoar, respeitar, conviver etc. São “verbos” difíceis de se colocar em prática, eu sei, eu o experimento. Mas Jesus nunca afirmou que segui-lo e imitá-lo seria fácil. Conto, para isso, com sua ajuda e procuro anunciá-lo, pois compreendo cada vez melhor sua afirmação: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”. É isso que enche minha vida de alegria; é isso que eu quero que todos experimentem. Anunciar seu Evangelho é a melhor maneira que encontro para mudar o mundo, tornando-o melhor, muito melhor.
Por Dom Murilo Krieger – Arcebispo de São Salvador da Bahia (BA)