Todos os Santos
01/11/2016Identidade cristã
01/11/2016“Enquanto o passado não se pode modificar, aquilo que se recorda e o modo como se recorda podem ser transformados. Rezamos pela cura das nossas feridas e das lembranças que turvam a nossa visão uns dos outros. Rejeitamos categoricamente todo o ódio e violência, passados e presentes, especialmente os implementados em nome da religião”.
Catedral de Lund, 31 de outubro de 2016. Uma data para entrar na história do cristianismo. Uma celebração ecumênica, também com forte caráter penitencial, um pedido perdão pelos erros do passado e pelas divisões, e o propósito de caminhar juntos e trabalhar pelo bem da humanidade.
Uma celebração para curar a memória, para cicatrizar as feridas, para ultrapassar as barreiras levantadas ao longo dos séculos. Presentes representantes de diversas Confissões cristãs.
A procissão de ingresso na Catedral de Lund precedida pela Cruz, símbolo da viagem, feita pelo salvadorenho Christian Ayala, e que durante a celebração ocupou um local de destaque no altar, deu o tom sereno, espiritual e jubiloso da celebração.
Canções de Taizé marcaram toda a celebração ecumênica, produzindo um efeito impactante já no início com o Laudate Dominum. No altar, o Papa Francisco, o Presidente e o Secretário da Federação Luterana Mundial, respectivamente Dr. Munib Younan e Martin Junge, o Cardeal Kurt Koch e a Primaz da Igreja da Suécia, Arcebispa Antje Jackelen.
O ecumenismo de sangue, que recebe frequentes referências do Papa Francisco, foi recordado no canto do Kyrie, cuja letra em aramaico foi composta pelo bispo sírio-ortodoxo Mar Gregorios Youhanna Ibrahim, sequestrado em abril de 2013 na Síria.
“Estamos aqui reunidos para redescobrir quem somos em Cristo”, disse Martin Junge, ao pronunciar-se em espanhol, lamentando a perda da unidade em Cristo. “Como seguir caminhando agora?”, perguntou.
O Papa, ao tomar a palavra, clamou pelo dom da unidade, insistindo na necessidade de um testemunho comum crível para que o mundo creia. “Com a comemoração comum da Reforma de 1517 – disse – temos uma nova oportunidade para acolher um percurso comum, que se foi configurando ao longo dos últimos cinquenta anos no diálogo ecumênico entre a Federação Luterana Mundial e a Igreja Católica. Não podemos resignar-nos com a divisão e o distanciamento que a separação gerou entre nós”.
“Com este novo olhar ao passado – observou – não pretendemos fazer uma correção inviável do que aconteceu, mas «contar essa história de maneira diferente». Peçamos ao Senhor – disse Francisco – que a sua Palavra nos mantenha unidos, porque Ela é fonte de alimento e vida; sem a sua inspiração, nada podemos fazer”.
Na Declaração comum assinada pelo Papa Francisco e pelo Presidente da Federação Luterana Mundial, é lançado um apelo “a todas as paróquias e comunidades luteranas e católicas” do mundo inteiro para que sejam “corajosas e criativas, alegres e cheias de esperança no seu compromisso de prosseguir na grande aventura que nos espera. Mais do que os conflitos do passado – afirma o texto – há de ser o dom divino da unidade entre nós a guiar a colaboração e a aprofundar a nossa solidariedade”.
Pouco antes das 16 horas, hora local, a Cruz com a procissão deixa o altar da Catedral da Lund ao som de júbilo do Laudate Dominum, de Taizé, numa celebração histórica que reafirmou o propósito de continuar e solidificar o caminho comum rumo a um futuro de unidade.
Encontro com a Família Real
Antes da oração na Catedral, o Papa Francisco fez uma uma visita de cortesia à Família Real sueca. Ao chegar no Palácio, pouco antes do Pontífice, o Rei Carl XVI Gustav e a Rainha Silvia foram ovacionados pelos presentes no parque circundante, marcado pelas cores do outono. Na chegada do Papa, por sua vez, foi a comunidade latino-americana presente na Suécia a saudá-lo em espanhol, com o tradicional “se vê, se siente, el Papa está presente”.
Após o encontro, que durou cerca de 20 minutos, Francisco e o casal real foram saudados por um grupo de coroinhas luteranos e católicos diante do Palácio, encaminhando-se então, à pé até a Catedral, distante cerca de 100 metros. Ao longo do percurso, Francisco beijou crianças, saudou e conversou com os presentes. Não faltaram bandeiras da Argentina.
Por Rádio Vaticano