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Ninguém é autossuficiente. A humanidade configura-se a partir das relações – cada pessoa depende da outra para sobreviver. Em cada etapa de sua história, as civilizações se constituem a partir do modo como os mais diferentes processos são conduzidos. É a partir dessa condução que se configuram culturas e dinâmicas no âmbito da política, da economia e, inclusive, das religiões. Por isso, a regência qualificada dos processos fecunda respostas novas. Na direção oposta, quando a condução é equivocada, perpetuam-se atrasos, com graves prejuízos. Assim é importante reconhecer: é fundamental investir na regência dos processos, atitude determinante para cuidar da vida em suas muitas formas, do próprio planeta, nossa Casa Comum.
Todos os processos socioculturais, econômicos, administrativos e humanitários dependem de atitudes individuais. Nesse sentido, cada pessoa, no cumprimento de suas próprias responsabilidades, deve assumir o compromisso de sempre agir de modo eficaz. E isso significa promover relações mais humanizadas, capazes de cultivar a solidariedade – remédio determinante e, sem exageros, o mais necessário, para se construir um mundo melhor.
Para compreender essa situação, vale recorrer a um contexto próximo a todos: a realidade doméstica. Imagine duas pessoas. Uma prepara o alimento. A outra se dedica a cuidar do ambiente onde a família se reunirá para a refeição. No fim, o lugar está perfeitamente arrumado. Porém, o alimento não foi preparado adequadamente – ficou com gosto de “cabo de guarda-chuva”, conforme o dito popular. Percebe-se que uma das pessoas conseguiu reger, com qualidade, um dos processos. A outra, não foi bem-sucedida. E, no fim, ambas perderam, sem conseguir deliciar-se com uma boa refeição.
Obviamente, não se pode esperar que todos os indivíduos reúnam, desde sempre, os requisitos necessários para desempenharem bem os seus papéis. Mas, deve ser a meta de cada pessoa buscar as condições para cuidar, de modo qualificado, das próprias responsabilidades. Isso inclui dedicar-se ao indispensável exercício da autocrítica, para avaliar se, de fato, as próprias atribuições estão sendo exercidas de modo responsável e apropriado. Todos devem se reconhecer, como pessoas que integram uma sociedade, construtoras do conjunto de processos que impactam a rede de relações.
Desenvolver a competência para conduzir processos é fundamental na conquista de avanços, em diferentes áreas e instituições. De modo contrário, uma pessoa com fraco desempenho na regência de dinâmicas pode dizimar uma organização. Por isso se diz que uma instituição assimila traços da feição de seu dirigente. Pode ser inovadora ou de conservação, não importa, vai refletir o perfil do gestor. Lamentavelmente, por vezes, é marcada por retrocessos, refletindo a incapacidade de seu dirigente. Vale, pois, rever sempre os métodos de gestão, buscando identificar e superar os vícios que ferem a moralidade, a corrupção, a falta de vontade política, particularmente quando inviabiliza conquistas para o povo.
Qualificar a ação humana na regência de processos exige considerar, especialmente, as influências de aspectos ambientais e da interioridade na conformação da conduta de cada pessoa. Deve-se cuidar dos muitos aspectos exteriores que ajudam a constituir as pessoas – os ambientes familiar, educativo e cultural, por exemplo, promovendo práticas pedagógicas e organizacionais arejadas, e até ousadas, capazes de impulsionar a evolução humana, inspirar a elaboração de respostas adequadas aos desafios contemporâneos.
Ao mesmo tempo, a atuação qualificada na gestão das muitas dinâmicas da vida depende do que vem da interioridade: as atitudes, as escolhas, as decisões e os modos de agir. Cada pessoa precisa se orientar pelos parâmetros da moralidade e da ética. Se todos agissem dessa forma, muitos passivos poderiam ser evitados, pois ninguém iria candidatar-se a determinada função sem antes realizar um necessário exercício de autocritica e avaliar, com honestidade, se, de fato, está preparado para assumir os desafios do cargo que deseja ocupar. Consequentemente, as instituições estariam livres das cegueiras que impedem o seu desenvolvimento e cada pessoa ocuparia o lugar adequado às suas características individuais. Ao mesmo tempo, com o contínuo processo de autocrítica, os indivíduos poderiam se desenvolver, conquistando novas competências. O crescimento pessoal, orientado para a promoção do bem comum, levaria as instituições a ampliarem os processos de participação, determinantes para se alcançar sucesso em diferentes projetos. Afinal, uma grande rede de agentes focados em um objetivo partilhado confere mais inteligência às dinâmicas institucionais.
Oportuno lembrar que o cérebro humano é um território extenso, com conexões equivalentes ao número de astros de uma galáxia. Cada cidadão dispõe, assim, de todas as condições para evoluir e, dessa forma, oferecer contribuições na edificação de um mundo melhor. Sem esse compromisso com o próprio desenvolvimento pessoal, todos perdem, não por falta de condições, mas pela incapacidade de gerenciar as próprias responsabilidades. É tarefa de cada pessoa capacitar-se para a regência de processos, dedicando-se à própria qualificação, para contribuir na defesa da vida e do planeta, a nossa Casa Comum.
Por Dom Walmor Oliveira de Azevedo – Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte