Papa: coerência no dia a dia para respeitar a Criação
08/09/2016Papa: ecumenismo de sangue fortalece caminho para a unidade
08/09/2016As mudanças culturais que estamos vivendo, que tem na destradicionalização uma de suas características, atinge o modo de compreender o domingo. Em linhas gerais, pode-se dizer que o domingo passou a ser “fim de semana”. Então, a compreensão do domingo precisa ser reconfigurada, não somente na esteira de uma tradição cultural, mas a partir de um caminho de iniciação cristã que lhe dê o seu verdadeiro significado. O “fim de semana” traz consigo elementos muito importantes: o tempo do descanso do trabalho, de mudança da rotina, do encontro familiar ou com amigos e tantas outras opções que fazem ser um dia diferente dos demais. “É um dia de protesto contra as escravidões do trabalho e o culto do dinheiro” (CIC 2172). Ele traz a marca da gratuidade, pois tudo é de Deus, inclusive o tempo. Muitos viajam para descansar numa praia ou no sítio. Muitos jovens que saem para estudar, aproveitam para rever sua família. Outros reduzem o fim de semana a momentos festivos, divertindo-se à noite e dormindo durante o dia. Há, também, os que o reservam para atividades culturais e desportivas. Claro que, para nós, cristãos, o domingo não pode se reduzir ao restrito horizonte do fim de semana. Ele traz em si algo próprio, que o caracteriza, que está no seu próprio nome: dia do Senhor.
São João Paulo II, ao escrever uma belíssima carta sobre o domingo, a Encíclica Dies Domini (1998), recordou as várias dimensões deste dia: dia do Senhor; dia de Cristo; dia da Igreja; dia dos homens, do descanso; dia dos dias, apontando para a plenitude dos tempos. “Aos discípulos de Cristo, contudo, é-lhes pedido que não confundam a celebração do domingo, que deve ser uma verdadeira santificação do dia Senhor, com o «fim de semana» entendido fundamentalmente como tempo de mero repouso ou de diversão.” (Dies Domini 4).
O domingo, segundo a experiência cristã, é, sobretudo, uma festa pascal, totalmente iluminada pela glória de Cristo ressuscitado. Por isso, deve ser santificado. É a celebração da nova criação inaugurada pelo Ressuscitado. S. Justino testemunhou: “Reunimo-nos sempre no dia do sol, porque é o primeiro dia, o dia em que Deus, extraindo a matéria das trevas, criou o mundo e, nesse mesmo dia, Jesus Cristo, nosso Salvador, ressuscitou dentre os mortos.” Santificar o domingo é, em primeiro lugar, encontrar minha comunidade de fé. Aí, celebrar com os irmãos e irmãs, ouvir a Palavra, alimentar a fé, elevar a Deus ação de graças, celebrar a Eucaristia, viver a comunhão e a solidariedade e ser enviado em missão. A Eucaristia é “a alma do domingo” (S. João Paulo II). É a celebração da presença viva do Ressuscitado no meio de nós. Não falta quem afirma que reza sozinho, no silêncio e no recolhimento, sem a comunidade reunida. Ambos os momentos são importantes: a oração pessoal e a celebração comunitária. Dizia São João Crisóstomo: “Não podes rezar em casa como na Igreja, onde se encontra o povo reunido, onde o grito é lançado a Deus de um só coração. Há algo mais ali, a união dos espíritos, a harmonia das almas, o vínculo da caridade, as orações dos presbíteros.”Também, é bom lembrar que a vida cristã não se reduz à participação à missa ou à celebração da Palavra dominical. Parte da consciência de um vínculo essencial de cada cristão a uma comunidade de fé, a partir do batismo, e se expressa nas muitas maneiras do cristão viver a fé na comunidade e na sociedade. Toda esta vida tem sua expressão e ponto culminante da celebração dominical. Por isso, é muito pobre uma vida cristã sem uma comunidade de referência. Sem dúvidas, a consciência do lugar do domingo passa pela iniciação à vida cristã.
Por Dom Adelar Baruffi – Bispo de Cruz Alta