Solenidade de todos os Santos – 05/11/2023
16/11/2023Missa de tomada de posse e acolhida do novo pároco
29/01/2024“O Advento é um tempo para aprender de novo quem é o nosso Senhor.” [Papa Francisco]
De origem latina, a palavra Adventus tem o significado de “chegada”, “vinda”, derivando do verbo Advenire, ou seja, “chegar a”, “o que está para vir”. E essa vinda, como sabemos, é dAquele que é a razão da nossa fé e, em primeira e última análise, da nossa própria existência: Jesus Cristo, o Senhor; o Verbo que se fez carne; a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade.
Nesse tempo, que abre o calendário litúrgico, a Igreja se veste de roxo, assim como na Quaresma, mas num sinal de piedosa e alegre expectativa, preparando-se em vista do encontro com o Senhor que vem no Natal. Há, sim, um aspecto ligado à penitência, porém, não tão rigoroso quanto aquele ao qual somos motivados a viver no período quaresmal. No Advento, o caráter penitencial está intimamente ligado à preparação do coração para acolher o Filho do Deus Eterno, nosso Salvador, pois é justamente na manjedoura do coração penitente de cada um de nós que Jesus quer nascer.
Marcado por quatro domingos, o Advento tem, no terceiro deles, a cor rósea predominando nos paramentos sacerdotais, simbolizando a mistura do roxo com o branco do Natal que se aproxima. Nessa ocasião, a Igreja se alegra com a proximidade da vinda do Menino Deus, no denominado “Domingo Gaudete”, expressão retirada do prefácio daquela Missa: “Gaudete in Domino semper!” (“Alegrai-vos sempre no Senhor!”).
Mas há, ainda, outros traços marcantes desse tempo.
Vejamos, então, o que a Santa Igreja legisla através da Instrução Geral do Missal Romano:
“No Tempo do Advento ornamente-se o altar com flores com moderação tal que convenha à índole desse tempo, sem, contudo, antecipar aquela plena alegria do Natal do Senhor (…).” [IGMR 305]
“(…) No Tempo do Advento, o órgão e outros instrumentos musicais sejam usados com moderação tal que convenha à índole desse tempo, sem, contudo, antecipar aquela plena alegria do Natal do Senhor (…).” [IGMR 313]
Resta claramente demonstrado que, nessas semanas que antecedem o Natal, a sobriedade é um sinal da mencionada expectativa. Por isso que o templo tem uma decoração mais discreta, assim como há maior singeleza na música, cujos instrumentos devem apenas sustentar o canto do povo.
Omite-se, também, o Glória, rezado ou cantado, a menos que se trate de uma solenidade ou festa inserida no período, de modo que volte a ser entoado pela Igreja somente na véspera da solenidade do Natal.
Há também outros costumes, movidos pela tradição popular, que, embora paralitúrgicos (ou seja, paralelos, que não pertencem exatamente à Liturgia), por uma questão consuetudinária acabam por fazer parte desse tempo expectante. Os mais expressivos, possivelmente, são a coroa do Advento e o presépio.
Aqui, duas curiosidades históricas.
O primeiro presépio da história foi construído por São Francisco de Assis, no século XIII. Numa gruta da cidade de Greccio, Itália, o Pobrezinho de Assis quis que as pessoas pudessem compreender melhor o nascimento de Jesus. Assim, pediu para que um amigo seu preparasse o local conforme as suas instruções.
Já a coroa do Advento tem sua origem também na Europa, mas na Alemanha. Os povos bárbaros, pré-cristãos, já tinham o hábito de acender velas em volta de coroas de flores nos meses escuros do inverno, antecipando os meses mais quentes e claros que chegariam com a primavera. Posteriormente, depois da Reforma Protestante, ocorrida no século XVI, pouco mais de 300 anos após esse evento, os seguidores do luteranismo reviveram essa tradição dos seus antepassados, dando a ele uma conotação cristã. Mal sabiam nossos irmãos separados que, mais tarde, por volta do ano de 1925, esse enfeite seria adotado pela Igreja Católica, sendo usado pela primeira vez na famosa catedral de Colônia, acabando por se espalhar pelo mundo ocidental até os tempos atuais
Em tempo, vale uma observação: não existe uma “regra” para as cores desse ornamento. Em alguns lugares, por exemplo, costumam-se usar quatro velas de cores diferentes (verde, vermelho, roxa e branca), cada uma com um significado. Já na nossa paróquia, como em tantas outras, têm sido adotadas as cores litúrgicas de cada um dos domingos desse tempo. Assim, no primeiro, segundo e quarto domingo, as velas são roxas e, no terceiro, é rosada, com todas elas sendo colocadas em uma coroa verde (que representa a esperança), com detalhes em vermelho (simbolizando o martírio de São João Batista, recordado no segundo e terceiro domingo do Advento).
Mas, que fique claro: com toda a sua beleza e significados, continuamos tratando de paraliturgia.
Prosseguindo, no ano que passou, tivemos outro momento marcante nesta paróquia, também ligado à tradição: a Missa Rorate. Com seu título retirado do Livro do Profeta Isaías (“Rorate caeli desuper et nubes pluant justum”, algo como “Orvalhai, ó céus, dessas alturas, e as nuvens chovam justiça”), trata-se de uma Missa votiva em honra à Santíssima Virgem Maria, originada, possivelmente, no século XV, celebrada nos sábados do Advento, sendo também chamada de “Ofício Angélico” (porque nela se lia o evangelho da Anunciação) ou “Missa dourada” (por iniciar na escuridão da madrugada e, a partir da Liturgia Eucarística, passar a ser iluminada pelos primeiros raios solares, os quais simbolizam a Luz do Mundo, Jesus Cristo).
Na nossa paróquia, pela primeira vez em sua história de mais de meio século de existência, os fiéis puderam participar dessa celebração tão rica e bela, que encheu o coração de cada um dos presentes no início da manhã do dia 16 de dezembro. Dia esse, aliás, limite para que tal Missa fosse celebrada, pois, a partir dali, a Igreja entra de vez na expectativa do Natal, com o início de sua Novena, no dia 17.
Avançando um pouco no calendário e mudando o Tempo com a véspera do Natal do Senhor (e a inserção da cor branca), solenidade que alegra os católicos do mundo inteiro, tivemos a oportunidade recente de imergir de modo especial na Liturgia, através da música. Sim, pois
como diz um antigo brocardo: “Quem canta bem, reza duas vezes” [IGMR, 39]. E como cantaram bem aquele coral e a assembleia na noite do dia 24 de dezembro! Com a participação de vários paroquianos, entre crianças com vozes angelicais e adultos dedicados, todos assíduos frequentadores das aulas de canto litúrgico ministradas pela maestrina Maria Regina, paroquiana e música de formação, fomos agraciados com um componente litúrgico que é capaz de, quando bem executado, trazer aquela sensação de antecipação do Céu.
Seguindo, assim como acontece com a Páscoa, a Igreja celebrou o Natal por oito dias, naquela que é denominada “Oitava do Natal”, encerrada com a solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus, comemorada no primeiro dia do ano civil (e como ocorre com toda solenidade, já na sua véspera).
No domingo seguinte, teve vez a solenidade da Epifania do Senhor e, encerrando o Tempo do Natal, a festa do Batismo do Senhor, no dia 08 de dezembro, uma segunda-feira.
No momento, já adentramos a primeira parte do Tempo Comum (cor verde), a qual terá fim na Quarta-feira de Cinzas, que abre o Tempo da Quaresma (cor roxa), passando a seguir pelo Tempo da Páscoa (cor branca), que se encerrará em Pentecostes, antes de iniciarmos a segunda e última parte do Tempo Comum (cor verde), dando fim ao presente ano do calendário litúrgico. Após, virá mais um Advento e, assim, sucessivamente, até que este mundo exista, antes da segunda e definitiva vinda do Senhor.
De tudo isso, o que podemos concluir é que viver a Sagrada Liturgia, com cada uma de suas características, é um dos maiores dons que Deus nos concedeu, como membros do seu Corpo Místico, a Santa Igreja.
Para encerrar, vale a observação que, recentemente, tivemos o privilégio de termos como nosso pároco o já saudoso Padre Cesar Almeida Siqueira sdb, que tanto nos enriqueceu liturgicamente. Porém, como Deus não cessa de manifestar a sua Graça de diferentes formas, podemos agora viver uma espécie de “pequeno advento”, na expectativa e exultantes, da chegada do novo pastor desta paróquia, o Padre Eraclides Reis Pimenta, sdb. Saber que tínhamos e continuaremos a ter entre nós sacerdotes que, reconhecidamente, vivem e valorizam as coisas de Deus, é um alento na alma de cada paroquiano, já que é através dela, Liturgia, que podemos expressar na vida e manifestar aos outros o mistério de Cristo e a autêntica natureza da verdadeira Igreja, como nos ensina o Catecismo da Igreja Católica em seu número 1068.
Por isso e tudo o mais: “Bendigamos ao Senhor: demos graças a Deus!”
Texto: Bruno Salomão | Imagens: Pascom | Design Imagem Capa: Pascom