Como vimos nos últimos textos, o período entre os nove e os dez anos de Dom Bosco foi marcado por aquele grande sonho, com aquele “homem venerando vestido de branco” e aquela “senhora de aspecto majestoso”.
Este sonho, como o próprio Dom Bosco escreveu, ficou profundamente gravado em sua mente e condicionou a sua maneira de viver e de pensar. Mesmo preferindo ficar com a opinião de sua avó, de não se importar com o sonho, Joãozinho de uma certa forma começa a colocá-lo em prática. Os seus primeiros destinatários são os seus próprios vizinhos, seus amigos jovens que viviam nas redondezas dos Becchi.
Nas “Memórias do Oratório de São Francisco de Sales”, Dom Bosco narra que “aos 10 anos fazia o que era compatível com essa idade: uma espécie de oratório festivo […] “Eu era ainda muito pequenino, e já estudava o caráter dos meus companheiros. Olhando para o rosto de um deles, quase sempre descobria os propósitos que lhe iam no coração. Era por isso muito querido e respeitado pelos da minha idade”.
Ainda nas memórias, Dom Bosco lembra que quando menino, durante o inverno, reunia os seus vizinhos no estábulo para ler algumas histórias de livros que o Pe. Lacqua, seu professor, lhe emprestava. E completa: “antes e depois das minhas histórias, todos fazíamos o Sinal-da-Cruz e rezávamos a Ave-Maria”.
Mas a temperatura esquenta? Como atrair os seus amigos para reuni-los? Joãozinho Bosco se encantava com os saltimbancos da feira que havia na vila vizinha aos Becchi. O povo todo se amontoava para assistir os números dos prestidigitadores e acrobatas. É suficiente para o jovem Bosco concluir que ele precisava aprender a fazer estas coisas para continuar fazendo as suas reuniões, mesmo durante a primavera e o verão.
Exercitava-se todos os dias até aprender a tirar coelhos da cartola e caminhar sobre a corda. Foram meses de treino, de constância e de tombos também. Nas Memórias, Dom Bosco declara que “aos 11 anos fazia jogos de prestidigitação, dava saltos mortais, imitava a andorinha, andava com as mãos, caminhava, saltava e dançava na corda como um saltimbanco profissional”.
O final das apresentações era o mesmo que o final das histórias do tempo do inverno. João tirava um terço do bolso, se punha de joelhos e convidava todos a rezar. Ou senão, repetia o sermão que tinha ouvido pela manhã. Participar deste momento era o único pagamento que Joãozinho exigia de sua plateia. Depois, todos voltavam para a casa.
Para continuar indo à feira e aprender números novos, conseguia algumas moedas com a sua mãe ou com outras pessoas. Deixava de comprar doces ou outras coisas que qualquer criança gosta para economizar e ter o suficiente para assistir as apresentações dos saltimbancos.
Por falar em Mamãe Margarida, o que ela achava de tudo isso? Dom Bosco conta que “ela sabia de tudo, observava e me deixava agir. E se tinha necessidade de algo, dava com gosto”.
E assim foi que Dom Bosco, apenas um menino ainda, começou a evangelizar os seus amigos. Essa experiência começa a amadurecer a vocação de Joãozinho Bosco. Ao ser ouvido e querido pelos seus amigos, ele percebe que pode ajudá-los a serem pessoas melhores. E coloca todo o seu empenho nesta tarefa!
Pe. Glauco Félix Teixeira Landim, SDB
Animador das dimensões Vocacional, Missionária e de Evangelização e Catequese da Pastoral Juvenil Salesiana
E-mail: [email protected] / Facebook: www.facebook.com/glaucosdb
ESPAÇO VALCOCCO – CAPÍTULOS
Capítulo 1: Espaço Valdocco: somos Dom Bosco que caminha
Capítulo 2: Um começo de vida marcado pela pobreza e por uma fatalidade
Capítulo 3: Uma mãe corajosa, amorosa e cheia de fé
Capítulo 4: Antônio, José e João: três irmãos muito diferentes
Capítulo 5: O início dos estudos de João Bosco e o começo dos conflitos familiares
Capítulo 6: Um sonho que ficou gravado profundamente na mente
Capítulo 7: Um sonho que é memória e profecia
Capítulo 8: Um sonho que envia um pastor para os jovens
Capítulo 9: Um saltimbanco de Deus
Capítulo 10: Deus tomou posse do teu coração
Capítulo 11: A fúria de Antônio
Capítulo 12: Um lugar com a família Moglia
Capítulo 13: Uma experiência rica de família e trabalho
Capítulo 14: Um tempo para aprender a falar com Deus
Capítulo 15: Um amigo inesperado
Capítulo 16: Um pai para Joãozinho Bosco
Capítulo 17: Um desastre que desfalece as esperanças
Capítulo 18: “O vaqueiro dos Becchi” retorna para a escola
Capítulo 19: Mais dificuldades na escola de Castelnuovo
Capítulo 20: Um amigo para toda a vida
Capítulo 21: “Se eu for sacerdote, serei muito diferente”
Capítulo 22: Férias em Sussambrino
Capítulo 23: O sacrifício de pedir ajuda
Capítulo 24: Chieri, uma cidade repleta de história, piedade e estudos
Capítulo 25: O início dos estudos em Chieri
Capítulo 26: Uma memória extraordinária
Capítulo 27: O cuidado de João em escolher suas amizades
Capítulo 28: A Sociedade da Alegria: uma maneira de evangelizar os colegas
Capítulo 29: O cultivo da espiritualidade na Sociedade da Alegria
Capítulo 30: João Bosco, filho de Maria Santíssima e testemunho da santidade para os seus colegas
Capítulo 31: O ano escolar de 1832-1833: a crisma de João Bosco e a ordenação do Pe. Cafasso
Capítulo 32: O amigo Luís Comollo
Capítulo 33: Um trabalho exigente no Café Pianta
Capítulo 34: Uma presença que causava admiração e fazia a diferença
Capítulo 35: A amizade e a conversão do judeu Jonas
Capítulo 36: Um jovem com muitos talentos e habilidades
Capítulo 37: Crise vocacional de João Bosco e a decisão de fazer-se franciscano
Capítulo 38: “Deus te prepara outro lugar, outra messe”
Capítulo 39: O Pe. Cinzano, instrumento da providência divina no caminho vocacional de João Bosco
Capítulo 40: O dia em que João Bosco recebeu a batina
Capítulo 41: E finalmente João entra no seminário