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20/04/2017A comunhão e a missão são duas dimensões constitutivas de nossas comunidades cristãs.Existem como comunhão missionária. O texto bíblico do Domingo da Oitava da Páscoa, a aparição do Ressuscitado (Jo 20,19-31), nos permite afirmar que na raiz, no fundamento de cada comunidade está o Crucificado-Ressuscitado, que irrompe inesperadamente na vida dos discípulos, transmite a paz, devolve-lhes a alegria, suscita a fé e envia-os em missão. Os discípulos, reanimados na fé e guiados pelo Espírito Santo, não terão mais a presença física de Jesus, mas têm a certeza de sua presença como Ressuscitado, que desperta neles a alegria e a paz. Desta novidade nasce a força evangelizadora que os discípulos tiveram até o martírio.
O Ressuscitado se manifesta na comunidade de fé. O cristianismo terá sempre esta marca comunitária. Podemos encontrá-lo vivo, pelo testemunho visível dos irmãos e irmãs. Sabemos que Ele é fonte de vida e nele está a paz. Ele é o centro. Nenhuma outra pessoa ou ideologia pode tirar seu lugar único. Uma comunidade não é uma ONG, nem somente uma sociedade de amigos, mas irmãos e irmãs que vivem o seguimento de Jesus Cristo. O erro de Tomé foi não ter acreditado no testemunho da comunidade. Porém, vemos em sua atitude uma advertência para nosso tempo. Verdadeiramente somos capazes de um testemunho autêntico, que seja credível e atraia os homens e mulheres do nosso tempo? Passou o tempo de uma fé exterior, de alguns ritos sem muita ressonância no projeto de vida, transmitida unicamente pela cultura e cada vez mais em crise. Como Tomé precisamos fazer um caminho, acolhendo todas as interrogações e dúvidas que a vida apresenta, até afirmarmos, como convicção: “Meu Senhor e meu Deus” (Jo 20,28). É bom que a comunidade não se considere já pronta, mas aceite, com naturalidade, os membros que ainda não conseguiram ter uma fé madura. A comunidade será o lugar para, como Tomé, encontrar-se com Jesus Cristo ou, como a Samaritana,sentar-se à beira do poço, conversar com Ele e acolher a “água viva” que sacia a sede para sempre.
A centralidade de Cristo e seu projeto, pelo dinamismo renovador do Espírito Santo, forma um jeito de ser, molda convicções, revela os valores que Jesus viveu e pregou. Por isso, o Ressuscitado apresenta suas chagas a Tomé e aos outros apóstolos. Elas confirmam a história que Jesus viveu com os apóstolos, que culminou na sua morte de cruz. Esta não pode ser esquecida. O cristão não pode fugir da história ou ceder à tentação, muito presente no nosso tempo, de um espiritualismo desligado da realidade.
Por isso, Jesus os envia em missão. Não podem os cristãos ficar “de portas fechadas” e “com medo” (cf. Jo 20,19). O mesmo dinamismo que parte do Pai ao enviar seu Filho ao mundo, agora, com a força do Espírito Santo, envia os apóstolos: “Como o Pai me enviou, eu também vos envio” (Jo 20,21). Todos os batizados, nos diferentes ministérios e serviços, participam da mesma e única missão que Jesus recebeu do Pai. Viver de portas fechadas é ainda não compreender que o encontro com Cristo sempre impele para fora, para ir ao encontro dos irmãos e irmãs. Quando todos nos colocarmos, verdadeiramente, em missão, voltados para fora, abrindo as portas para buscar as ovelhas perdidas e oferecendo a todos “o bálsamo da misericórdia”, testemunharemos que formamos comunidades do Ressuscitado.
Por Dom Adelar Baruffi – Bispo de Cruz Alta