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É muito bom receber um elogio! Essa é a forma mais singela de demonstração do reconhecimento do nosso trabalho, do nosso esforço, da nossa dedicação. Ganhamos ânimo para fazer mais e talvez até melhor. Contudo, por vezes, essa animação é, na verdade, uma busca pela aprovação do outro, que pode ser prejudicial para nossa caminhada cristã.
Imagine que você começou, hoje, em um novo emprego. Como uma forma de fazer amizade com os novos colegas, você decide preparar um café, pois sabe que é muito bom nessa prática (talvez, até teria sido um barista bem-sucedido). No primeiro dia, são diversos os elogios: “maravilhoso”, “inigualável”, “incrível” entre outros. Orgulhoso por agradar tanto aos novos colegas, no dia seguinte, você prepara novamente o café e os elogios se repetem. Acontece que, no terceiro dia, para sua surpresa, são poucos os elogios. Por quê?
Não é porque seu trabalho perdeu a qualidade, porque sua dedicação diminuiu ou seu talento não foi suficiente. No exemplo, o café estava tão bom quanto nos outros dias. Seu café é ótimo e você já sabia disso, todos já lhe haviam dito. Todo e qualquer elogio, a partir de agora, é mera vaidade. Nós devemos ficar atentos para que nossas ações não se tornem uma busca vazia pelo reconhecimento do outro. Elogios nos dão ânimo, é claro, mas não podem ser a motivação de nossas obras.
Se deixar que sua vida se torne uma incessante busca por elogios, uma perseguição constante do reconhecimento dos homens, você estará muito próximo dos mestres da lei que Jesus revelou a hipocrisia às multidões, como aqueles que “fazem todas as suas ações só para serem vistos pelos outros” (Mt 23, 5). Quando toda obra da tua vida é pretexto para receber mais e mais elogios, é sinal de que se esqueceu desta tão valiosa lição: “Quem se exaltar será humilhado, e quem se humilhar será exaltado” (Mt 23,12).
E esse anseio pelo elogio nos desvia para uma vida miserável, porque buscamos uma recompensa sem valor. Seria como viver o tormento do rico da parábola, mas ainda em vida. Lembra-se dele? Em vida, vestia-se de púrpura e de linho fino, vivia no luxo todos os dias, mas, na morte, implorava para que Lázaro molhasse a ponta do dedo na água e refrescasse sua língua (cf. Lc 16,19-31). É bem assim que nos acontece, mas o tormento ocorre em vida, quando ansiamos que o outro nos diga um elogio, nem precisa ser sincero, é só para saciar nossa carência, é só uma ponta de dedo molhado.
Busquemos amor em vez de elogios
Se há algo o que buscar em vida, que nos enche e conforta, é o amor. E pelo amor o caminho é inverso, não é uma busca para nós mesmos o tempo todo. Nas palavras do Papa Francisco: “Quem ama não só evita falar muito de si mesmo, mas, porque está centrado nos outros, sabe manter-se no seu lugar sem pretender estar no centro. […] Por outras palavras, alguns se julgam grandes, porque sabem mais do que os outros, dedicando-se a impor-lhes exigências e a controlá-los; quando, na realidade, o que nos faz grandes é o amor que compreende, cuida, integra, está atento aos fracos”.
Não sei se você tem forte em si alguma virtude ou se a prática lhe recompensou com a facilidade; talvez o estudo tenha lhe trazido muito conhecimento ou mesmo a experiência lhe concedeu sabedoria. Seja como for, que suas obras busquem sempre o bem do seu irmão e nunca o reconhecimento do obreiro. Como São Josemaría Escrivá nos ensina: “Não queiras ser como aquele catavento dourado do grande edifício; por muito que brilhe e por mais alto que esteja, não conta para a solidez da obra. Oxalá, sejas como um velho silhar oculto nos alicerces, debaixo da terra, onde ninguém te veja; por ti não desabará a casa”.
Que possamos receber os elogios de coração aberto, que, por nossas obras, os mereçamos, mas, no fim das contas, tenhamos em abundância o amor para com o próximo, e que cada obra realizada seja sempre para servir. Que os elogios vazios não nos ceguem nem escravizem, nem a mim nem a vocês. Que assim seja.
REFERÊNCIAS
BÍBLIA SAGRADA. Tradução da CNBB, 18 ed. Editora Canção Nova.
PAPA FRANCISO. Exortação Apostólica Pós-Sinodal Amoris Lætitia. Roma, 19 mar. 2016.
Por Luis Gustavo Conde (Via Canção Nova)