Carisma dos mequitaristas é de viva atualidade, diz Papa em mensagem
18/09/2018Os pais nos deram a vida, jamais insultá-los, pediu Francisco
19/09/2018
Quando Jesus falou à multidão, no Sermão da Montanha, Ele orientou os que estavam presentes: “Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; não, não; porque o que passa disto é de procedência maligna” (Mt 5,37). Essa ordem do Mestre, que se estende e ecoa através do tempo e chega aos nossos dias, porta como mensagem central a coerência. Ou seja, o compromisso responsável de associar, principalmente dentro da política, o conteúdo das palavras, dos ideais, dos princípios norteadores da vida, das ações concretizadas na vivência do cotidiano. O sim apenas pode ser sim, e o não apenas pode ser não.
Uma exortação tão clara e direta é atualíssima, se, como cristãos, introjetarmos um olhar sobre a política e nossa relação com esse aspecto de nossa vivência comunitária e humana. A política no Brasil, não por definição, mas por constatação histórica e social, é vinculada às práticas dissimuladas, volúveis, personalistas e incoerentes. O sim pode ser sim, pode ser não ou pode ser talvez. O não pode ser não, pode ser sim ou pode ser talvez. O que se diz pode não ser o que se expressa, e o que se expressa não contém o que se diz. A “coerência” vivida na política segue uma definição própria, específica e, às vezes, deturpada. Sobre a nossa política, uma figura de relevância na história recente afirmou: “Na política, o feio é perder”.
Somos chamados a ser sal da terra e luz do mundo
Diante disso, talvez fosse coerente que as pessoas de bem se afastassem de tais ambientes, de tais esquemas, dessa estrutura que, de tantas formas e meios, viabiliza a deturpação da ideia de coletividade e de trabalho para o bem comum. No afã do senso comum, poderia se perpetuar a máxima do “não sei, não quero saber e tenho raiva de quem sabe”. Essa ação até pode ser aceitável para as pessoas de bem, mas não para os cristãos, exatamente por uma questão de coerência.
No mesmo Sermão da Montanha, disse Jesus: “Vós sois o sal da terra; e se o sal for insípido, com que se há de salgar? Para nada mais presta senão para se lançar fora, e ser pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte; nem se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas no velador, e dá luz a todos que estão na casa” (Mt 5, 13-15). Ou seja, por força da natureza de nosso seguimento a pessoa de Jesus, não podemos dar de ombros para a realidade político-social, pois somos chamados a ser sal e luz. Temos de, onde estivermos, levar sabor ao que está insípido e dissipar as trevas com a luz emanada de Cristo por meio de nós. Um dos campos mais carentes dessa presença, seguramente, é o da política.
A responsabilidade e a própria consciência
A presença do cristão na política se dá de múltiplas formas, sendo a carreira na política a de menor expressividade. O Congresso Nacional é composto por 594 políticos (deputados federais e senadores) incumbidos de representar os 209 milhões de brasileiros, numa proporção de 1 político para 351.852 pessoas. Isso nos leva a afirmar: o meio mais eficaz de contribuirmos para o saneamento de nossa política nacional é sermos coerentes. Comprometa-se com sua consciência, com sua identidade e forma de vida. Comprometa-se com o seu chamado, com sua vocação à santidade.
Pesquise, debata, escute as propostas do seu candidato. Não vote por conveniências pessoais, mas por convicção. Após o voto, acompanhe o mandato de seus representantes, interpele-os se se desviarem de seus compromissos de campanha. Você tem o dever de prestar contas de seus votos a cada quatro anos, quando vai comparecer diante das urnas mais uma vez.
Comprometa-se e seja coerente
Se o seu voto, por desleixo, inconsequência, descompromisso ou pior, por corrupção (em troca de uma vantagem pessoal) elegeu um corrupto, que atuou contra os recursos da saúde, da educação, da segurança, que agiu contra a vida humana, dos nascituros ou na senescência, que aliou-se aos que se esbravejam como inimigos de Cristo e da Sua Igreja, você tem uma parcela direta de responsabilidade. Tal como Pilatos, por mais que você ou eu “lavemos as mãos”, o sangue dos inocentes ainda clama ao céu.
Comprometa-se, meu irmão. Seja coerente! Seja sal e luz. Se, na última eleição, você foi ludibriado ou mesmo equivocado em sua escolha, peça a Deus o auxílio do Espírito Santo e aja com discernimento. Não somos cristãos apenas nas missas e encontros religiosos, mas sim 24 horas por dia. E o seremos também nas dinâmicas que se vinculam à política.
“O castigo dos bons que não fazem política é serem governados pelos maus.”
Platão
Por Christian Moreira (Via Canção Nova)