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Temos a graça de celebrarmos a solenidade de Nossa Senhora Aparecida. Neste ano, de modo especial enfocamos o tema da restauração. Estamos comemorando 40 anos que a imagem de Aparecida, depois de foi despedaçada por uma pessoa doente voltou solenemente ao Santuário totalmente restaurada. Daí vem o tema da novena neste ano: “Em Jesus, com Maria, restauramos a vida”. O dia 12 de outubro vem lembrar a todos os brasileiros que a devoção à Senhora Aparecida está impregnada da certeza da proteção da Mãe de Cristo e de que Ela intercede por nós, seus filhos.
O dia 12 de outubro é o dia da Padroeira do Brasil e das crianças. Coloquemos sob a proteção de Nossa Senhora todas as crianças do Brasil e do mundo, e cada um de nós, pois “se não vos transformardes e vos tornardes como criancinhas, não entrareis no Reino dos céus” (Mt 18,3). O Evangelho desta solenidade é aquele das bodas de Caná (Jo 2,1-11) e, ao escutarmos o conselho de Maria, “fazei o que ele vos disser” (Jo 2,5), não só entendemos que a devoção a Nossa Senhora nos conduz sempre a Jesus, mas também aprendemos a acolher o Evangelho com um renovado ardor, também no que se refere ao fato da nossa filiação divina e do nosso “ser criança”. É importante que cada um de nós se transforme numa criancinha, aos pequenos está prometido o Reino
A Palavra de Deus (Ester 5, 1-2; 7,2-3) fala-nos da rainha Ester que se aproxima suplicante do grande rei, e este põe à sua disposição todo o seu poder. Diz o texto bíblico: “Então, qual o teu pedido, Ester, para que seja atendido? Que queres que eu te faça? Repito: Mesmo se pedires a metade do meu reino, tu a alcançarás! Ela respondeu: Se encontrei graça a teus olhos, ó rei, e se te agrada, concede-me a vida, pela qual suplico, e a vida do meu povo, pelo qual te peço” (Ester 7, 2b-3). Para nós é muito fácil perceber nesta rainha do Antigo Testamento a prefiguração da Rainha dos Céus, intercedendo junto de Deus por nós, que somos seu povo e seus filhos. Confiamos à intercessão de Maria as nossas necessidades, quer sejam pequenas, quer nos pareçam muito grandes, as da nossa família, da Igreja e da sociedade. Diante de Deus, Maria se referirá a nós dizendo que este é o meu povo, pelo qual intercedo.
Na Liturgia de hoje podemos perceber a “misericórdia de Maria”. No Evangelho (Jo 2,1-11) encontramos o primeiro milagre que Jesus fez, à pedido de sua mãe, em Caná da Galileia. Numa festa de casamento, Maria estava presente, como também Jesus e os seus primeiros discípulos. Maria, durante a festa, enquanto presta a sua ajuda, percebe o que se passa. Jesus está no início de seu ministério público.
A Mãe chega para o Filho e lhe diz: “Eles não têm mais vinho!” (Jo, 2,3). É interessante: Maria pede sem pedir, expondo uma necessidade. E desse modo nos ensina a pedir. Jesus responde-lhe: “Mulher, para que me dizes isso? A minha hora ainda não chegou”. (Jo 2, 4). Parece que Jesus vai negar à sua Mãe o que Ela lhe pede. Mas a Virgem, que conhece bem o coração do seu Filho, comporta-se como se tivesse sido atendida e pede aos serventes: “Fazei tudo o que Ele vos disser!” (Jo 2, 5). Maria é uma Mãe atentíssima a todas as nossas necessidades, de uma solicitude que mãe alguma sobre a terra jamais teve ou terá. O milagre acontecerá porque Ela intercedeu; só por isso.
A Festa de hoje recorda-nos a presença constante de Nossa Senhora na vida da Igreja, na vida do povo brasileiro e na vida de cada um de nós. Não poderia ser diferente! Foi o próprio Cristo quem lhe deu essa missão materna em relação a nós, seus discípulos amados. Recordemo-nos da cena dramática no Calvário. Jesus diz à sua Mãe, indicando o Discípulo Amado, que é cada um de nós, cada cristão, católico ou não: “Mulher, eis o teu filho!” (Jo 19,26). Não foi ela quem escolheu ser nossa Mãe. Não! Foi o Filho mesmo quem lhe deu a missão: “Eis o teu filho, os teus filhos, Virgem Maria! Tu és a Mulher do Gênesis, inimiga da serpente; tu és a Mãe dos viventes, a verdadeira Eva!” Fidelíssima à vontade do Senhor, como sempre foi, a Virgem vela por todos os cristãos; até por aqueles que não lhe têm amor e veneração, chegando mesmo a difamá-la! Mãe dos discípulos do Senhor Jesus, Mãe da Igreja, Virgem Maria! Foi esta maternidade tão amorosa, fecunda e providente que o povo brasileiro experimentou às margens do rio Paraíba do Sul, quando a imagem enegrecida da Imaculada apareceu nas redes dos pescadores. É esta maternidade que nós experimentamos continuamente em nossa vida. Quem de nós não tem uma história para contar a respeito da presença da Virgem no nosso caminho? “Filho, eis a tua Mãe!” (Jo 19,27).
Contudo, Jesus não nos nega nada; e concede-nos de modo particular tudo o que lhe pedimos através de sua Mãe. Hoje a Mãe de Jesus e nossa continua a nos dizer: “Fazei tudo o que Ele vos disser.” Foram as últimas palavras de Nossa Senhora registradas no Evangelho. E não poderiam ter sido melhores. Recorremos hoje a Nossa Senhora Aparecida, pedindo-lhe que nos ensine o caminho da esperança. Rezou esta bonita oração São João Paulo II: “Não cesseis, ó Virgem Aparecida, pela vossa mesma presença, de manifestar nesta terra que o Amor é mais forte que a morte, mais poderoso que o pecado! Não cesseis de mostrar-nos Deus, que amou tanto o mundo, a ponto de entregar o seu Filho Único, para que nenhum de nós pereça, mas tenha a vida eterna! Amém! (São João Paulo II, Dedicação da Basílica Nacional de Aparecida, 4/7/1980).
Que Nossa Senhora Aparecida, do seu trono de graça e de bênçãos, interceda junto de Deus pelo Brasil para que a paz reine em nossos corações e que a solidariedade, a misericórdia e a compaixão sejam apanágios dos homens e mulheres que temem a Deus e que abandonam todo e qualquer tipo de violência.
Nossa Senhora Aparecida, rogai por nós que recorremos a Vós!
Por Cardeal Orani João Tempesta – Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ), via CNBB