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23/01/2019Nomeação para o Brasil
24/01/2019
O novo governo iniciou com proposta positiva que vale a pena lembrar: “construir uma sociedade sem discriminação ou divisão”. Fica claro que este propósito é um propósito de empenho por uma sociedade alicerçada na paz e fraternidade. É o que todos desejam e esperam.
Agora nos perguntamos: onde entra a liberação de armas, para que a população ande armada, incentivando assim uma espiral de violência que dificilmente será controlável? Isto porque sabemos: violência gera violência! Jesus disse a Pedro: “Guarde sua espada porque quem com ferro fere com ferro será ferido” (Mt 26,52).
O assunto da violência pelas armas puxa não só a questão da legítima defesa, mas também a questão do homicídio. Existe homicídio legítimo? É preciso considerar que, a imoralidade do homicídio não pode ser simplesmente deduzida da proibição positiva de Deus (quinto mandamento: não matar). A presença deste preceito na Bíblia é confirmação de uma verdade moral que o homem traz inscrita dentro de si.
O horror que o homicídio suscita em todas as culturas é um horror metafísico, antropológico porque coincide com a realidade do ódio, o qual arruína os relacionamentos humanos e desagrega a sociedade. Homicídio e ódio são perversões da natureza humana. O homicídio é a cifra do antiamor. Satanás é definido como “homicida desde o início” (Jo 8,44), homicida não só porque mata, mas porque é movido pelo ódio que apaga no ser humano a imagem de Deus.
Sempre se ouviu dizer: se queres a paz prepare-se para a guerra (si vis pace para bellum) e assim, a violência no mundo cresce cada dia, o comércio de armas dá um lucro astronômico. Comércio que se baseia em razões militares, políticas e sobretudo econômicas, com base no artigo 51 da Carta das Nações Unidas que consagra o princípio de legítima defesa.
Devemos defender o porte de armas pela população em geral? Quais serão as consequências disto em um país violento como o nosso que, sem liberação do porte de armas, é um país que vive uma “guerra civil não declarada”, na qual morrem mais pessoas por ano do que na atual guerra da Síria?
A Revolução Francesa conclamava os cidadãos a pegarem em armas. Terminou na implantação dos princípios basilares de uma sociedade renovada: igualdade, liberdade e fraternidade. Porém não conseguiu legislar no sentido de obrigar as pessoas a serem fraternas. A fraternidade não depende de leis que obrigam como a liberdade e a igualdade. A fraternidade depende de um amadurecimento social no qual cada um se torna irmão e protetor do outro. Por isso Deus perguntou a Caim, o primeiro assassino: “Onde está teu irmão?” (Gn 4,9 ).
O que esperamos não é o incentivo a uma sociedade armada, propensa a agressividade, como em países que liberam armas fingindo se escandalizar com as matanças ou massacres em escolas, supermercados, igrejas, etc. O que se espera é o incremento da cidadania, da justa distribuição de renda, diminuição do desemprego, da corrupção e sobretudo dos privilégios, de um pequeno grupo de cidadãos que praticamente ainda estão cima da lei.
O armamento da população não parece ser um caminho para a paz e a pacificação da sociedade; mais parece um caminho de legitimação da violência já presente através do crime organizado e outros seguimentos que adotam a violência como prática. Assim, como não se combate incêndio com gasolina não se pode combater a violência propiciando mais violência.
A defesa de uma causa má é pior que a própria causa, escreveu Baltazar Gracián no seu famoso compêndio intitulado Oráculo Manual. Não seria este o caso?
Por Dom Pedro Cipollini– Bispo de Santo André (SP)