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20/02/2019
Um fato realmente histórico aconteceu no início deste mês de fevereiro, a visita do Papa Francisco aos Emirados Árabes Unidos na península arábica. Nunca ali esteve um papa, nem mesmo o papa São João Paulo II, o mais viajado de todos. O motivo da viagem não poderia ser mais nobre. Não foi somente o encontro com a população local, mas a assinatura de um documento, em prol da paz mundial e convivência comum entre os povos. Documento firmado entre a Igreja Católica e a instituição espiritual cultural das mais respeitada do Islã na pessoa do grande Imã de Al-Azhar, Anmed Al-Tayyeb.
Neste documento se afirma que a fé leva o crente a ver no outro um irmão que se deve apoiar e amar. Da fé em Deus criador de tudo, brota a fraternidade que o crente é chamado a expressar às pessoas e também o cuidado com a criação. Em nome da fraternidade humana que abraça e une todos os homens, em nome da justiça e misericórdia, “fundamentos da prosperidade ” e pilares da fé, declaram os signatários, adotarem a cultura do diálogo como caminho, a colaboração comum como conduta e o conhecimento mútuo como método e critério.
A declaração indica como motivos da crise que o mundo atravessa hoje, a consciência humana anestesiada, o afastamento dos valores religiosos, o individualismo e o materialismo. Reconhece os passos positivos da nossa civilização moderna nos campos da ciência, tecnologia e bem-estar. Mas ao mesmo tempo verifica uma deterioração da ética nas atividades internacionais e o enfraquecimento dos valores espirituais e do sentido de responsabilidade.
Algo preocupante neste documento é a constatação de que vivemos uma “terceira guerra mundial aos pedaços” que produz sempre mais vítimas. “Afirmamos igualmente que as graves crises políticas, a injustiça e a falta duma distribuição equitativa dos recursos naturais, geram, e continuam a fazê-lo, enormes quantidades de doentes, necessitados, e mortos, causando crises letais de que são vítimas vários países”.
Duas indicações merecem destaque. A afirmação da família como núcleo fundamental da sociedade e da humanidade, família que deve ser defendida por todas as instituições. E a importância de ter claro o objetivo das religiões, que é crer e honrar a Deus, autor e doador da vida que deve ser preservada por todos, desde seu início até seu fim natural. De igual importância é a afirmação de que as religiões nunca incitam à guerra nem suscitam ódio ou violência. Tudo isso é desvio dos verdadeiros ensinamentos das religiões através de falsas interpretações. As religiões não devem ser instrumentalizadas para conduzir à guerra, espalhar terrorismo, mas devem ser promotoras da paz.
Os valores que as religiões cultivam são condensados na ideia de “fraternidade humana e convivência comum”. O cultivo da justiça, do diálogo e da liberdade deve ser o objetivo maior da atuação e prática religiosa que favoreçam uma autêntica cidadania promotora da dignidade humana, capaz de tutelar os direitos humanos.
Por fim, o documento sela a cooperação da Igreja Católica e esta instituição, das maiores do Islamismo, no propósito de uma cooperação conjunta em levar a mensagem deste documento ao mundo todo, para o bem e a paz e para defender o direito dos oprimidos e marginalizados.
A declaração se conclui expressando o desejo de que ela mesma seja um convite à reconciliação e à fraternidade entre todos os crentes. Mais ainda, entre os crentes e os não-crentes, e entre todas as pessoas de boa vontade, para levar avante os valores da tolerância e da fraternidade.
Realmente, temos de reconhecer, que este encontro e esta declaração conjunta entre o Papa, cristão, e o Imã, muçulmano, inicia uma nova época de relacionamento e união entre as religiões. O cristianismo e o islamismo são as maiores correntes religiosas da humanidade. Este acontecimento prova a ação misteriosa do próprio Deus na história através das pessoas de boa vontade para transformar para melhor o nosso mundo. Deus seja louvado.
Por Dom Pedro Cipollini – Bispo de Santo André (SP)