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02/04/2019
A Quaresma da penitência, da caridade e da oração nos conduz a um de seus frutos mais significativos, a alegria, cujas expressões se fazem presentes a esta altura de nosso caminho para a Páscoa. As Missas do quarto domingo da quaresma se iniciam com um convite jubiloso: “Alegra-te, Jerusalém! Reuni-vos, todos vós que a amais; vós que estais tristes, exultai de alegria! Saciai-vos com a abundância de suas consolações” (Is 66,10-11). E este Domingo da Alegria, com paramentos sacerdotais rosáceos, nos oferece uma das pérolas do Evangelho, a Parábola do Pai Misericordioso, do Filho Pródigo e do Filho Mais Velho (Lc 15,1-3.11-32). Encontremos o nosso lugar nestas três figuras, sem receio de entrar na cena evangélica, percorrendo os passos da misericórdia e da verdade, fontes preciosas da alegria. Podemos ampliar a nossa visão com as outras duas parábolas da Misericórdia (Lc 15, 4-10), a ovelha perdida e a moeda perdida.
Estão perdidos a ovelha, a moeda e o filho! Tudo começa com um fato tão possível, talvez corriqueiro e desafiador. O pastor tem ovelhas, a mulher tem moedas e o pai tem filhos! Tocar nos afetos, sejam eles ligados a propriedades ou ao relacionamento familiar, mexe com a história humana, cujo desenrolar traz consigo ganhos e perdas. Aliás, faz parte da vida aprender com as lições vindas de tais eventos! Prometer uma vida de lucros ou apenas de vitórias, ou dizer que nada nos incomoda, significa ludibriar as pessoas! O primeiro passo da misericórdia é conviver com esta realidade.
Na Parábola do Pai e seus filhos há um passo importante e decisivo, o respeito ao mistério da liberdade dos outros, mesmo quando temos praticamente a certeza de que tudo vai dar errado. A experiência de pais e mães que tantas vezes alertam os filhos, e estes querem experimentar “o choque da tomada”! Coloco-me na pele de tantos homens e mulheres que já passaram por isso, dizendo-lhes com simplicidade que o bem plantado durante anos e anos, pode demorar a frutificar, mas não morre dentro coração. Um dia a saudade da casa paterna vai doer lá dentro, com o desejo de um retorno!
O pastor que perdeu a ovelha saiu pelas estradas a procurá-la! Tomar a inciativa, dar o primeiro passo, escrever, chamar, mandar mensagens, manifestar ternura e carinho, tudo o que é correto vale como expressão da busca incessante da pessoa que se afastou. Com a humanidade, o Pai Misericordioso enviou o Filho amado, aquele que se fez obediente até à morte, e morte de Cruz. Ele se humilhou, como um escravo! Misteriosamente, pode ser visto até naquele jovem sem juízo, que buscou de forma errante estradas duvidosas. Parece-me ver aqui o rebaixamento de Jesus, o Filho amado, que faz o caminho do Filho Pródigo, para voltar com ele e nele ao Pai Misericordioso.
A dona das moedas varreu cuidadosamente a casa, para encontrar a única moeda perdida até encontrá-la. Trata-se de um apelo à criatividade, ao cuidado, atenção aos detalhes. Dá para entender que o sumiço de alguém ou o pecado escandaloso podem pedir de nossa parte uma revisão corajosa, com a qual nos perguntamos sobre as próprias omissões ou falhas, cujo fruto pode ter sido o desencaminhamento daquela pessoa que era uma verdadeira moeda de prata, com grande valor, e que não pode ser desprezada.
O Pai Misericordioso deve ter olhado muitas vezes para as curvas da estrada, à espera do Filho que não tinha morrido dentro de seu coração. De fato, não deixar morrer o afeto, a saudade sadia, que é um santo remédio, a memória agradecida, é outro passo da misericórdia.
O Pastor de ovelhas, tendo encontrado aquela que se perdera, toma-a sobre os ombros para reconduzi-la ao redil, conta a boa notícia aos amigos, para que não permaneça neles apenas a tristeza. Fico pensando na imensa enxurrada de notícias pesadas a respeito de infrações, falhas e até crimes de pessoas dentro e fora da Igreja, e na quase inexistência de partilha das boas experiências e conversões. É hora de fazer mais propaganda do bem e da autêntica mudança de vida.
A mulher das moedas parece que gastou mais com a festa do que o valor da moeda! É o sadio exagero, próprio daquele que criou a parábola, e ele é Deus e homem. E Deus sempre ama além dos limites: “Lá de longe o Senhor lhe apareceu: “Eu te amo com amor eterno; por isso, guardo por ti tanta ternura!” (Jr 31,3). Para ser misericordioso, faz-se necessário ir além dos limites da justiça ou da boa educação!
O Pai Misericordioso se lançou ao pescoço do Filho, cobriu-o de beijos, para morrer no abraço o mal feito, põe nos pés as sandálias da liberdade, reveste-o com a roupa nova, e esta para nós remete à veste branca do Batismo! E manda preparar o banquete com o melhor que possuía. Neste, o que Deus preparou para nós na Eucaristia, a festa que nunca se acaba e que durará até a vinda do Senhor, no fim dos tempos! E no filho mais novo, pode-se encontrar o mistério daquele, o Filho amado do Pai eterno, que foi e voltou, justamente na figura da humanidade chagada que desperdiça todos os bens. A dança da fraternidade e da alegria não pode parar!
Aos filhos mais velhos, a nós, você e eu, que certamente servimos ao Senhor há tanto tempo, aqueles que sabemos do Pai que o “que é meu é teu”, se dirigem palavras fortes, destinadas a nos convertermos à alegria! Nem sempre é fácil permanecer na alegria quando os abraços, os beijos, a refeição festiva e tantos gestos de afeto são para os outros, especialmente aqueles que são julgados piores, maldosos, corruptos, ladrões, esbanjadores, pecadores. É hora de nos convertermos à alegria, sabendo que ela é um dos frutos da ação do Espírito Santo (Cf. Gl 5,22-25). Que ninguém falte à festa pascal que se aproxima!
Por Dom Alberto Taveira Corrêa – Arcebispo de Belém do Pará, via CNBB