Bispos elegem a partir de hoje a nova presidência da CNBB
06/05/2019Papa na missa em Skopje: prisioneiros da virtualidade, perdemos o gosto da realidade
07/05/2019
Após a Ressurreição e Ascensão de Jesus e a descida do Espírito Santo, no Pentecostes, começou a maravilhosa aventura da Igreja, chamada por Deus e atuar como sal, luz e fermento na sociedade. Os Atos dos Apóstolos retratam a vida das primeiras Comunidades, com os percalços havidos no confronto com os costumes, legislação e prática religiosa existentes na Palestina daquele tempo. Depois, especialmente através do ministério de Paulo, ampliaram-se os horizontes e os problemas afloraram. Tratava-se do ambiente helênico e romano, com hábitos e cultura diferentes. Trata-se de adequar-se a cada ambiente, sem perder a originalidade da graça do cristianismo, tarefa que acompanha a Igreja no correr dos séculos.
Já na Sagrada Escritura e na História da Igreja, o Espírito Santo abriu sempre as portas para o reconhecimento sincero das faltas existentes nas pessoas, sabedores que somos da santidade da Igreja, malgrado os nossos pecados pessoais, comunitários e sociais. De fato, ela é santa, pois “Cristo também amou a Igreja e se entregou por ela, a fim de santificar pela palavra aquela que ele purifica pelo banho da água. Pois ele quis apresentá-la a si mesmo toda bela, sem mancha nem ruga ou qualquer reparo, mas santa e sem defeito” (Ef 5,26-27). Os pecados são nossos, e o Senhor quer deles purificar-nos. A Igreja é santa, mas feita de pecadores, que somos nós! Se assim não fosse e a Igreja tivesse sido criada como uma associação de pessoas interessadas até no Evangelho, não teria subsistido! Ela se mantém porque o Senhor está no meio de nós! Mistério da Misericórdia de Deus!
O confronto da Igreja nascente com os poderes religiosos e políticos então reinantes nos trouxe uma magnífica experiência, cujos reflexos podem multiplicar-se também hoje, com edificantes consequências. “Os guardas levaram os apóstolos e os apresentaram ao Sinédrio. O sumo sacerdote começou a interrogá-los: ‘Não vos proibimos expressamente de ensinar nesse nome? Apesar disso, enchestes a cidade de Jerusalém com a vossa doutrina. E ainda quereis nos responsabilizar pela morte desse homem!’ Então Pedro e os outros apóstolos responderam: ‘É preciso obedecer a Deus antes que aos homens. O Deus de nossos pais suscitou Jesus, a quem vós matastes, pregando-o numa cruz. Deus, porém, por seu poder, o exaltou, tornando-o Chefe e Salvador, para propiciar a Israel a conversão e o perdão dos seus pecados. E disso somos testemunhas, nós e o Espírito Santo, que Deus concedeu àqueles que lhe obedecem’. Quando ouviram isto, ficaram furiosos e queriam matá-los” (At 5,27-33).
Nós fomos criados por Deus e a ele devemos dar contas de nossa caminhada nesta terra e das decisões que tomamos. Antes de sermos membros de qualquer sociedade organizada nesta terra, temos uma dignidade fundante de nossa existência, e esta vem de Deus e seu plano infinito de amor, com o qual quer que vivamos nesta terra e numa eternidade feliz. Passa na frente do Estado ou dos Governos a liberdade religiosa e o dever de respeitar as pessoas, em suas decisões de consciência. Por isso, sistemas sociais e políticos vieram à tona e depois se esvaíram, mas a Igreja, com todos os limites dos homens e mulheres que a compõem, permanece firme estável, solidamente alicerçada na Rocha que é Cristo. Um dos sinais mais impressionantes da solidez da Igreja é o ministério de Pedro e seus sucessores, chamados a proclamar que se deve obedecer antes a Deus do que aos homens. E é um verdadeiro milagre que percorre a história o fato de o Espírito Santo ter sempre alguém misteriosamente preparado para ser Papa, e o nome dele em nosso tempo é Francisco. Independente da idade, nacionalidade, formação ou cultura, impressiona fortemente a nós e ao mundo a fidelidade dos que são responsáveis pela eleição de um Papa, ao acolherem e a ele fazerem plena unidade e prestarem obediência, sabendo que sua palavra e ministério confirmam os irmãos, segundo a promessa do Senhor: “Eu, porém, orei por ti, para que tua fé não desfaleça. E tu, uma vez convertido, confirma os teus irmãos” (Lc 22,32).
Para obedecer antes a Deus do que aos homens, faz parte da vida da Igreja o discernimento, com o qual se buscam fontes seguras: a Palavra da Escritura, as inspirações de Deus acolhidas com serenidade na oração e o conselho dos irmãos e irmãs. Daí o respeito que nos cabe ter diante de realidades tão sérias, com que a Igreja busca o discernimento dos passos a serem dados no anúncio do Evangelho. Claro exemplo é o que os Bispos do Brasil inteiro realizam nestes dias, com dez jornadas intensas de reflexão, oração e tomada de decisões, na 57ª Assembleia Geral Ordinária da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, nosso organismo eclesial de comunhão e partilha. Um dos pontos mais importantes será a elaboração das novas Diretrizes da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil. Desejamos “anunciar a alegria do Evangelho, no Brasil cada vez mais urbano, e formar discípulos, em comunidades de fé, para sair em missão rumo às periferias existenciais, em solidariedade com os pobres, sofridos e abandonados, no cuidado da Casa Comum, testemunhando o Reino de Deus, até à plenitude”.
E a Igreja vive a sua missão num mundo pluralista e desafiador, quanto às convicções religiosas, políticas e culturais, devendo responder com espírito de humildade, aliado à grande paixão pela verdade, que é Jesus Cristo. Sabemos que os próximos dias serão também de grandes provocações a um testemunho fiel do Evangelho sobre os Bispos e toda a Igreja, vindas das mais diversificadas correntes de pensamento e opinião, pelo que nós confiamos à fervorosa oração de todo o Povo de Deus, para que sejamos mais fiéis a Deus do que aos homens (Cf. At 2,27-33). E vamos adiante, preparando-nos para a Assembleia especial do Sínodo dos Bispos sobre a Evangelização na Amazônia e a busca da Ecologia integral, prevista para o próximo mês de outubro, em Roma, com a presença e presidência do Papa Francisco.
No entanto, não só na Assembleia dos Bispos faz-se necessário obedecer antes a Deus do que aos homens. O discernimento há de acompanhar os jovens em suas opções de vida, o matrimônio nas decisões sobre os filhos e a educação dos mesmos, os homens e mulheres que têm responsabilidades na vida pública nas escolhas e na execução das políticas públicas!
O Espírito Santo nos conceda o mesmo ardor e a coragem das primeiras comunidades cristãs, para sermos sinais de Deus para o nosso tempo e o nosso mundo. Maria, Mãe da Igreja e Rainha dos Apóstolos, interceda por nós!
Por Dom Alberto Taveira Corrêa – Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará, via CNBB