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25/05/2020
Caro internauta, nos dias de hoje, tem acontecido um fenômeno bem interessante. As pessoas estão cada vez mais conectadas umas às outras e, ao mesmo tempo, mais distantes entre si. Cada um quer ter o seu quarto, a sua televisão, o seu carro, a sua pasta de dente, o seu sabonete, o seu mundinho. Experimente o marido usar aquele condicionador todo especial da esposa para ver o que acontece…
As pessoas estão buscando, cada vez mais, o isolamento, e esse distanciamento voluntarioso gera e alimenta a desconfiança. Os reflexos desse fenômeno podem ser claramente constatados se lançarmos o olhar para as prisões de altíssima segurança nas quais os nossos lares estão sendo transformados.
Uma mureta na frente da casa já não causa a sensação de proteção. Até mesmo os muros altos já se tornaram démodés. Atualmente, no topo dos muros, tem-se usado uma espécie de barricada feita com uma concertina repleta de navalhas pontiagudas que é esticada em toda a extensão do muro. Quem nunca as viu? A propósito, essa engenhosidade instalada no meio dos grandes centros causaria espanto nos soldados mais preparados na construção de trincheiras de guerra.
Quando não é usada a concertina, usam-se os fios eletrocutados. E, observe que eu nem citei as câmeras de segurança e as equipes especializadas em segurança particular que, por sinal, têm se multiplicado enormemente nos dias de hoje.
Estar sozinho não é a melhor opção
Meu propósito não é afirmar que todas essas coisas não sejam importantes, ou não devam ser usadas, até porque conhecemos muito de perto a brutal violência que, querendo ou não, temos que enfrentar todos os dias. Quero apontar, na realidade, para a seguinte situação: no início, nós nos protegemos dos ladrões, mas, posteriormente, nos privamos também das pessoas e, portanto, das relações humanas. Com o passar do tempo, infelizmente, acabamos nos acostumando com essa situação a ponto de acharmos que tudo isso é natural. É nesse ponto que mora o perigo!
O isolamento exterior acaba levando ao isolamento interior e, por conseguinte, ao esfriamento das relações. Terminamos por nos convencer que não precisamos de mais ninguém, e o outro se transforma em alguém não grato.
É muito difícil quebrar esse círculo vicioso, mas nós não podemos nos esquecer de que o caminho que nos leva ao céu é povoado por muitos irmãos, e sempre será assim. O outro nunca pode ser encarado com o olhar de inconveniência. Ele deve ser percebido como meu irmão em Cristo. Ele é filho de Deus tanto quanto a mim. Sem o outro, perdemos a grande possibilidade de nos santificar. Sendo assim, um cristão nunca pode perder a viva consciência de que pertence a uma comunidade, sem a qual ele deixaria de conhecer a sua identidade mais profunda enquanto cristão.
Na Igreja Católica, não existe espaço para voos solos
Não foi por acaso que o grande poeta russo Alexei Khomiakov, na seção nove de sua obra intitulada “A Igreja é Una” afirmou: “Sabemos que, quando qualquer um de nós peca, peca sozinho, mas ninguém é salvo sozinho, e sim na Igreja, como um membro dela e em comunhão com seus outros membros”. Já o Catecismo da Igreja Católica, por meio de uma citação, vai direto ao ponto: “Não vivais isolados, fechados em vós mesmos, como se já estivésseis justificados, mas reuni-vos para procurar em conjunto o que é de interesse comum” (cf. CIC 1905). É lícito, portanto, proteger-se da violência, porém não se isole como se você fosse uma ilha perdida no oceano.
Diante de tudo isso, caro internauta, podemos concluir que não se pode chegar ao céu por vias privativas, secundárias, particularizadas ou de maneira isolada. O julgamento é particular, como já sabemos, mas a salvação passa por uma via repleta de irmãos que, no fundo, estão buscando o mesmo que você. Sendo assim, na nossa amada Igreja Católica, não existe espaço para voos solos.
Concluo o artigo com uma lindíssima afirmação de Antônio do Egito: “Se ganhamos um irmão, ganhamos Deus, mas se nele pisamos, pecamos contra Cristo”.
Deus abençoe você e até a próxima!
Por Gleidson Carvalho, via Canção Nova