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04/06/2019
O aterro da Baia Sul, em Florianópolis, estava lotado. Naquela manhã – 18 de outubro de 1991 –, pela primeira vez na história um Papa celebraria a santa Missa em território catarinense. Seria uma celebração especial: Amabile Visintainer, nascida na Itália, que aos nove anos de idade, com sua família, imigrou para o Brasil, seria declarada “Bem-aventurada” e passaria a ser conhecida pelo nome que assumiu quando se tornou religiosa: Paulina do Coração Agonizante de Jesus. João Paulo II terminou sua homilia com voz pausada e forte: “A Igreja precisa, hoje, mais do que nunca, de santos!” E, para acentuar o que acabara de dizer, insistiu: “De muitos santos!”
Lembrei-me desse episódio quando soube que Irmã Dulce dos Pobres seria proclamada “santa”. Ela será uma das muitas santas e santos de que a Igreja precisa. Mas, o que é ser “santo”? Há os santos canonizados – isto é, colocados em uma lista oficial, que passam a ser apresentados ao mundo como prova de que é possível pôr em prática os ensinamentos de Jesus de Nazaré. Mas há um outro grupo, muito maior (“uma inumerável multidão”, diria o livro do Apocalipse), formado por pessoas que também seguiram o Senhor e, mesmo não tendo sido canonizadas, se tornaram santas. Explico-me: santo é o batizado que assume conscientemente o seu batismo, procura viver como filho de Deus e irmão de todos, espalha o bem ao seu redor, sabe perdoar, não vive em função de si mesmo e, como Irmã Dulce, dedica sua vida totalmente ao Senhor e a seus irmãos. O dom de santidade é oferecido a cada batizado, pois “Esta é a vontade de Deus: a vossa santificação” (1Ts 4,3). Isso vale para todos os cristãos, de qualquer época, lugar, idade ou situação.
Não teria sentido uma pessoa batizada contentar-se com uma vida medíocre e egoísta, ou com uma vida cristã superficial. Segundo o Papa S. João Paulo II, perguntar a uma pessoa se quer ser batizada é o mesmo que lhe perguntar: Você quer ser santo? Quer imitar e seguir Jesus Cristo? Aceita buscar a perfeição como o Pai celeste é perfeito? (cf. Mt 5,48) Insisto, pois: o ideal de perfeição cristã não é apenas para algumas pessoas excepcionais, mas para todas.
Irmã Dulce dos Pobres nos ensina que não há nada que impossibilite alguém de ser santo ou santa. Afinal, ela – pequena, fisicamente frágil, sem recursos econômicos, sem inteligência excepcional, sem grandes estudos, sem o dom da oratória etc. – fez o que fez e nos deixou uma imensa obra como herança. Seu maior legado, contudo, foi a capacidade de ver o rosto de Jesus no rosto de cada pessoa que sofre.
Não basta nos alegrarmos com sua próxima canonização. Busquemos também nós a santidade, pois a Igreja precisa de santos – de muitos santos!
Por Dom Murilo S.R. Krieger – Arcebispo de Salvador, via CNBB