São Saturnino de Toulouse
29/11/2016Santuário de Fátima abre Ano Jubilar do centenário das aparições
29/11/2016“Tudo tem seu tempo e sua hora e cada ocupação e obrigação tem seu tempo debaixo do céu” (Ecle 3,1). Estamos no tempo do Advento, tempo cronológico e teológico de preparação para o Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo. O tempo, como a água, não tem cabelo para que se possa agarrá-lo e pará-lo. Por isto, às vezes, tem-se a impressão de que o tempo não passa, ou passa mais rapidamente do que queremos. Cada cultura tem o seu modo e a sua forma de contar o tempo. Há na cultura grega dois termos para se contar o tempo: o cronos e o kairós. Com a contagem cronológica marca-se a sucessão das horas, dos dias, das semanas, dos meses e do ano. Este é o tempo quantificado. Esta contagem do espaço e do compasso do tempo, breve ou longo, é chamado de tempo do homem. Este tempo é comumente representado por o que falta para a morte, já que dela não se pode fugir. Com a contagem kairológica marca-se o tempo de Deus: a sua entrada, “invasão” e intervenção na nossa vida e na nossa história. Este tempo não pode ser medido, pois, não tem hora, nem semana, nem mês e nem ano para acontecer. É tempo qualificado e contemplativo, da graça, da oportunidade, da providência, da misericórdia, da esperança e da santidade. Este tempo é livre do peso, da carga, do cansaço, do estresse e da rotina do relógio, do calendário e da agenda.
Estes dois modos de medir o tempo, aqui no Cerrado, coincide com o período das mudanças climáticas: a chegada da estação das chuvas; das primeiras e das trocas das águas; das ninhadas, revoadas e cantatas dos pássaros e das aves, do acasalamento dos animais; das semeaduras, das variedades da tonalidade do verde e das floragens. É que o tempo do Avento é o tempo da fecundação e da gravidez de Maria, da Igreja e de cada um de nós. Gosto muito do tempo do Advento exatamente por causa disto. Combina com o meu biótipo, corporal e espiritual: me adequo, me alimento e me rejuvenesço com este tempo: gosto de esperar, de me preparar e de expectativa, sou vigilante e creio nas promessas de Deus. Certa feita, uma moça me procurou, desesperada, porque o tempo passou e ela ainda não tinha encontrado a pessoa certa com quem se casar. Eu tentei acalmá-la e animá-la, dizendo-lhe que ainda não tinha chegado o tempo de Deus. Depois de um curto período de tempo, a encontrei novamente, agora casada com um homem de Deus. Foi o que Jesus disse à Maria: “a minha hora ainda não chegou” (Jo 2,4). E, por seus discípulos, nos diz: “o tempo chegou, se completou e o Reino de Deus está próximo: convertam-se e creiam no Evangelho” (Mc 1,15). E ainda: “venham a mim todos vocês que estão cansados e curvados pelo peso do fardo e eu lhes aliviarei e lhes darei descanso” (Mt 11,28). Portanto, busquemos a Deus, enquanto Ele pode ser buscado e encontrado (Is 55,6-7); enquanto está disposto a nos perdoar; enquanto se encontra à porta de casa, de abraços abertos, para nos acolher como a filhos pródigos. Jesus continua chorando, às portas de Jerusalém, para que percebamos que a hora e o tempo da paz chegou (Lc 19,41). Ele continua batendo às nossas portas, se convidando para entrar em nossa casa e em nossa intimidade e fazer refeição conosco (Ap 3,20).
Ninguém, por melhor que seja, está livre, dispensado, proibido e condenado a viver a cotidianidade no tempo e no espaço. Devemos nos ocupar e não nos preocupar com a comida, a bebida e o casamento (Mt 24,38). A pergunta mais inteligente, segundo Victor Frankl, não é: “o que eu ainda devo esperar da vida?” Mas é: “o que a vida pode ainda esperar de mim?” O tempo de Deus pede que o vivamos com leveza, suavidade, gratuidade e sem o exagerado peso dos compromissos agendados, na busca incansável de autenticidade, crescimento e amadurecimento na fé, na vocação e na missão. O teólogo Anselmo Grün, acertadamente diz: “a maior oportunidade é a vida mesma, pela qual passamos quando tão somente planejamos e pensamos, em vez de vivermos”. O papa Francisco, na Evangeli Gaudium, faz uma bela e oportuna aplicação de uns princípios filosóficos para a nossa vida e o nosso tempo, cronológico e kairológico: “o tempo é superior ao espaço” (EG 222-225) = o tempo não cabe nos nossos espaços, pois, é maior. “A unidade prevalece sobre os conflitos” (EG 226-230) = é preferível a unidade, mesmo se perdemos a batalha, do que apostar nos conflitos. “A realidade é mais importante do que a ideia” (EG 231-233) = é perigoso viver somente no mundo das idéias, sem os pés na realidade. E “o todo é superior à parte” (EG 234-237) = quem tem o mais tem o menos, quem tem o menos não tem o mais. Um santo e abençoado Advento, cronológico e kairológico, para todos e todas!
Por Dom Pedro Brito Guimarães – Arcebispo de Palmas (TO)