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10/10/2018
A mais elevada vocação do ser humano é viver em espírito de santidade, ou seja, guiar a própria existência segundo o Espírito de Deus, de acordo com suas inspirações. A vocação à santidade é, então, um chamado a integrar adequadamente em nós as diversas dimensões humanas e, assim, ser feliz. De fato, a verdadeira felicidade consiste em nos religarmos ao projeto do Criador, unindo-nos cada vez mais a Ele e àquilo que desejou para nós. Somente dessa forma se pode afirmar que é possível ao cristão ser feliz ou bem-aventurado. A vocação à santidade é, portanto, vocação à felicidade! Aquele que vive em santidade, por sua vontade e contando com a benfazeja ação Deus, escolhe e recebe a graça de ser feliz.
Todos são convidados à vivência da santidade. Sim, todos! Santidade não é somente para alguns “iluminados”, especiais ou mesmo apenas para alguns “esquisitos” de mãos postas. Todos somos chamados a ser santos, porque todos somos chamados a ser felizes! Contudo, cada um deve corresponder a este chamado no horizonte próprio de sua existência, nos contextos em que está inserido e com as características do seu próprio ser. A ninguém é pedido ser feliz da mesma maneira que o outro, assim como ninguém é chamado a ser santo aos moldes de outrem. Cada um pode e deve corresponder à graça de Deus com aquilo que é e tem, realizando-se como pessoa à medida que busca realizar o plano de Deus em sua vida.
Papa Francisco reiterou, recentemente, na Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate (GE), que a convocação à santidade é para todos e que sua vivência é o “rosto mais belo da Igreja” (GE 9). “Todos somos chamados a ser santos, vivendo com amor e oferecendo o próprio testemunho nas ocupações de cada dia, onde cada um se encontra” (GE 14). “Para um cristão, não é possível imaginar a própria missão na terra, sem a conceber como um caminho de santidade […]. Cada santo é uma missão, um projeto do Pai que visa refletir e encarnar, num momento determinado da história, um aspecto do Evangelho” (GE 16), afirma o Pontífice.
A busca de cumprir a vontade de Deus, ao contrário do que se possa pensar, não nos tira aquilo que nos é próprio. “A santidade não te torna menos humano, porque é o encontro da tua fragilidade com a força da graça. No fundo, como dizia León Bloy, na vida «existe apenas uma tristeza: a de não ser santo»” (GE 34), confirma o Papa. Em outras palavras, a santidade é um caminho que nos torna verdadeiramente humanos e plenos, realizados enquanto pessoas, felizes, bem-aventurados. Este é o grande sinal que cada um pode deixar para o mundo e para todas as pessoas que encontrar: o desejo comprometido e ativo de corresponder à graça d’Aquele que nos criou, vivendo em santidade.
A vocação de toda pessoa à santidade, no entanto, está ligada a Cristo. N’Ele, tem seu fundamento e sua razão de ser, e somente n’Ele pode ser adequadamente compreendida. “No fundo, santidade é viver em união com Jesus os mistérios da vida, consiste em associar-se de uma maneira única e pessoal à morte e ressurreição do Senhor, em morrer e ressuscitar continuamente com Ele” (GE 20). É Jesus Cristo o protótipo, o paradigma, o critério e parâmetro da busca de santidade de cada cristão. É Ele o Homem Novo que deve estar sempre no horizonte de nossos olhos, a nos inspirar a agirmos sempre como “homens novos”, recriados segundo Deus.
Ele mesmo instrui com Sua Palavra, indica um caminho de santidade, caminho que passa pelas via das “Bem-aventuranças”. Elas “são como que o bilhete de identidade do cristão. Nelas está delineado o rosto do Mestre, que somos chamados a deixar transparecer no dia a dia da nossa vida. […] A palavra «feliz» ou «bem-aventurado» torna-se sinônimo de «santo», porque expressa que a pessoa fiel a Deus e que vive Sua Palavra alcança, na doação de si mesma, a verdadeira felicidade” (GE 63-64). Em outras palavras, o caminho da santidade passa por vias que nos tornam “bem-aventurados”, ou seja, felizes, mesmo que haja dificuldades e sofrimentos nessa busca.
Partindo das proposições indicativas do Evangelho, mais especificamente das bem-aventuranças, é possível pensar que o chamado à santidade é, para cada pessoa, um chamado à felicidade, a vivermos como bem-aventurados! Cada uma das atitudes interiores e exteriores apresentadas nas bem-aventuranças – o desapego, a mansidão, a compaixão, a justiça, a pureza, a misericórdia, a paz, a autenticidade (Cf. Mt 5,1-12) – conduz-nos à nossa integração, à nossa essência mais profunda que restabelece em nós uma relação positiva e amorosa com Deus, com os outros e com nós mesmos. Aquele que busca, com o auxílio da graça de Deus e na medida de suas características próprias, estabelecer relações integradoras consigo mesmo, com o outro e com Deus, este é “santo”, e porque é santo, é feliz, bem-aventurado!
Por Diácono Josimar Baggio, scj, via Canção Nova