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22/01/2020Não é por coincidência que a questão da utilidade da fé tem aparecido repetidamente nos dias de hoje. Sem dúvida essa questão não era feita da mesma maneira em outras épocas, quando não nos preocupávamos em lucrar com tudo. Mas hoje em dia é preciso reconhecê-la. Por que perder o seu tempo com coisas que não têm nenhuma utilidade? Você poderia me dizer que existem ótimos vídeo games, que consomem muito tempo e que não servem a muita coisa – senão para se divertir e para gerar lucros para aqueles que os vendem. Mas isso não responde a nossa questão.
Se o espiritual, que não fabrica nada, figura como um intruso em nosso mundo, talvez seja porque, precisamente do ponto de vista daqueles que buscam o mundo, ele não serve a nada. Por isso, antes de tudo é preciso se perguntar: o que o mundo está procurando? E o que busca o cristão que vive nesse mundo? Comparar ambas preocupações e objetivos pode ser interessante. Como disse Jesus: “De fato, onde está o seu tesouro, aí estará também o seu coração” (Lc 12,34). Isso quer dizer que para aquilo que é precioso para nós (nosso tesouro), nós iremos doar o melhor de nós mesmos (nosso coração). Qual é então o tesouro do mundo? A que ou a quem esse mundo doou seu coração? E qual é o tesouro do cristão?
O que o mundo busca?
A preocupação comum da população mundial é de se organizar, individualmente e coletivamente, para passar da melhor forma possível os seus anos de vida. O que haveria de mais estranho nisso? Os cristãos, considerando que também vivem no mundo, têm a mesma preocupação. Dentro dessa perspectiva, o que conta é ter sucesso, estar feliz e talvez ter uma bela família. O mais importante é ter dinheiro suficiente para viver bem, ter um certo status social, uma vida interessante, uma boa saúde – se possível, uma vida longa-, ter muitos ganhos e o mínimo de inconvenientes ou problemas possível. Nenhuma dessas preocupações é de se condenar. E ninguém pode reprovar aquele que pode, permanecendo honesto, fazer de tudo para ter uma vida boa e confortável. É um estilo de vida ao alcance das forças e do querer humano. A Bíblia diria uma vida “feita pelas mãos humanas”.
Nessa perspectiva, dependendo de cada pessoa, tudo o que possa servir ao sucesso pessoal e social será aceito e tudo o que possa ameaçar esse sucesso será reprovado. Isto é, tudo o que não contribui ativamente a alcançar o sucesso será rejeitado e posto na prateleira das coisas inúteis. E, ainda na mesma perspectiva, nós podemos nos perguntar, para que serve a fé cristã? Receio que não seja possível dizer que ela não serve para nada. Ou digamos que ela não serve para grande coisa, para não deixar ninguém irritado. Em todo caso, não é o seu objetivo servir diretamente ao sucesso social.
O mundo que Jesus promete
Era preciso chegar a essa conclusão para se perguntar ainda: qual é o tesouro do cristão? Em qual perspectiva ele se situa? Dito de outra forma: É preocupação do Evangelho o sucesso social ou a administração da vida sobre a terra? Seria um bom método seguir Jesus para ganhar um bom lugar no reino que ele vai certamente instaurar sobre a terra? Era isso que pensava a esposa de Zebedeu, que foi uma mãe muito boa e realista. Mas ela se equivocou.
Mesmo se encontramos humanamente um certo equilíbrio, se encontramos uma certa felicidade ao colocar os nossos passos naqueles de Jesus, mesmo se temos a sorte de fazer parte de uma comunidade bem calorosa que da gosto à vida e que nos sustenta nos momentos difíceis, mesmo se a sabedoria contida no Evangelho nos pareça muito maior a tudo já elaborado pelos maiores filósofos da humanidade, é preciso reconhecer que a perspectiva de Cristo não é a de nos fazer contentar com a terra. Aquilo que ele busca é o Céu. Aquilo que ele nos promete é um lugar junto a Ele e ao lado do Pai. Aquilo que ele nos oferece é um lugar no banquete do seu casamento celeste. E para chegar lá, o caminho que ele nos propõe passa por uma porta estreita (o que quer dizer que as bagagens não passam junto), é uma vida de renúncia (é proibido olhar para trás), é um caminho de cruz.
Não é uma vida “feita pelas mãos humanas”. É uma vida “impossível aos homens, mas possível para Deus”. É Jesus que diz isso. É Jesus que vive isso. E foi exatamente o que a Virgem Maria disse a Bernadete, em Lurdes: “Eu não te prometo a felicidade na terra, mas no Céu”. A graça de Santa Bernadete foi que esta promessa, longe de parecer irrisória e desinteressante, foi tomada por ela como uma promessa preciosa. Ela não pensou: para que servem todas essas aparições se vou continuar aqui na terra? Sua perspectiva era o Céu.
Como perceber a utilidade da fé na sua própria vida?
Agora podemos dizer: a fé cristã serve para aquilo que se refere à felicidade eterna, em termos de entrar realmente em comunhão com Deus e ao que se refere a alcançar a vida eterna. E podemos até mesmo dizer que sua utilidade é enorme. Ela é o único meio que existe, ao alcance dos homens, para entrar na Vida. Para isso é preciso crer nesta realidade, crer que nada é mais importante do que ascender a vida eterna, que nossa pátria é o céu, que tudo o que nos permite alcançar essa alegria é útil, e que tudo aquilo que não contribui ativamente deve ser posto em seu devido lugar.
A utilidade da fé cristã não aparece a não ser que olhemos a meta a ser alcançada. Se nosso objetivo é chegar ao próprio Deus, se nada nos parece mais importante, então pode-se dizer que encontramos o meio mais eficaz de alcança-lo. Mas se o que você busca é se acomodar o mais confortavelmente possível sobre esta terra então, de fato, a fé não servirá para grande coisa. Jesus nos advertiu bem: “Pois quem quiser salvar a sua vida (na terra) vai perdê-la (no eterno); mas quem perde a sua vida por causa de mim (na terra) vai encontrá-la (no eterno)” (Mt 16,25). É uma questão bem conhecida onde podemos perceber que a questão da utilidade da fé é importante.
A fé cristã, a ponte que permite passar de um lado para o outro do rio
Para aqueles que visam a vida eterna, a fé cristã é como a mão que ajuda e não nos deixa cair no precipício. Ela é como o ombro sobre o qual se pode repousar quando a caminhada é muito dura. Ela é como a luz que surge nas trevas e ilumina o caminho. Ela é como o ar que empurra as velas. Ela é como o pão e o vinho, indispensáveis para sobreviver. Ela é como o grupo de amigos que o acolhe na caminhada. Ela é como a palavra de amor mais verdadeira e mais confiável do mundo. Ela transforma sua vida cotidiana. Ela ilumina até mesmo os nossos piores problemas. Você se pergunta para o que serve a fé? Para simplesmente, viver! E viver eternamente.
Por Alain Quilici, via Aleteia