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Roberto hoje trata sua depressão. Mas como manifestação desse problema, ele passou muito tempo evitando se envolver em projetos e iniciativas familiares.
Sua falta de entusiasmo e interesse era justificada pelo argumento de que ele não tinha tempo ou estava cansado. Em casa, ele não escondia o rosto de tédio, aborrecimento e uma seriedade incompreensível que a família tinha de suportar.
“Acontece que eu sofro de depressão”, reconhece hoje, “mas agora com os medicamentos que estou tomando e a ajuda psicológica, tenho certeza de que em breve estarei melhor.”
Certamente, a princípio ele estava deprimido, com ideias inconsistentes e a auto-estima baixíssima. Mais à medida que progredia em seu tratamento, seu comportamento mudou, tornando-se calmo e autoconfiante.
Em um determinado momento, ele percebeu que durante toda a sua vida tinha lutado contra a depressão, mesmo sem saber.
Assim, ele passou a valorizar seus êxitos, mas insistia em deixar a família de lado.
Suas conversas giravam em torno do quanto ele havia conseguido: seus estudos, sua experiência de vida e trabalho, isso e aquilo… Era evidente que, em sua escala de valores, os afetos da família não estavam conscientemente em primeiro plano.
Pouco a pouco, ele foi reconhecendo que havia uma certa falta de humildade nele.
Então, expliquei-lhe que ele estava acometido por uma doença do espírito, o que seria um obstáculo para superar definitivamente o seu problema.
Não convencido, nossa conversa continuou assim:
– Doença do espírito? Eu realmente não esperava isso! – ele me disse.
– Acontece que você não começou a olhar pela janela da sua alma e, por isso, proponho um exercício de imaginação – afirmei.
– Tudo bem, então vamos em frente – ele me respondeu com certa ironia.
Eu lhe disse:
– Feche os olhos. Agora imagine-se trancado em uma sala em uma escuridão impenetrável. De repente, você abre uma janela através da qual entra uma luz que ilumina seu coração e você consegue ver com grande clareza que sua esposa e filhos o amam, que você é a coisa mais importante na vida deles e que sua própria felicidade depende da deles.
Então eu lhe pedi que fizesse uma interpretação dessa imagem a partir da perspectiva de sua doença e de sua situação familiar, sendo muito honesto consigo mesmo.
Deixei-o sozinho por alguns instantes, e depois retornei.
Ele me disse:
– Consigo ver claramente o que você indica e entendo que o quarto escuro se refere à minha depressão. Essa escuridão é causada pela minha doença, o que é algo muito real.
– O seu amor também é real – eu lhe disse.
– Sim, é verdade – ele respondeu, balançando a cabeça tristemente –. Mas com relação a isso e aos problemas que tenho causado, os especialistas me dizem que, de certa forma, não sou culpado pelo meu comportamento.
Eu lhe disse:
– Não se trata de se sentir culpado, mas de se sentir responsável. Trata-se de descobrir por si mesmo que a solução definitiva não virá de lidar apenas com o orgânico e o mental. Ou seja, confiar apenas na ciência ou na sua vontade. Também é necessária a humildade para esvaziar seu coração de tantas ideias sobre si mesmo, preenchê-lo com a bela realidade do amor de Deus e dos outros e, assim, tirar proveito das energias que podem fluir disso. É por isso que proponho que você olhe pela janela da alma todos os dias, para deixar seu coração se iluminar, de forma que sua inteligência, sua vontade e seu espírito possam unir forças para fazer mudanças verdadeiramente significativas em sua vida, as quais o levarão a não complicar sua existência recaindo na doença.
As mudanças necessárias são:
* Colocar em primeiro lugar sua relação com Deus, para que seja Ele a ajudá-lo a ordenar todo o resto.
* Colocar logo em seguida ao lado de Deus a sua família, para aumentar a qualidade de seu amor por ela.
* Focar em seu trabalho como marco de sua personalidade e meio de subsistência.
Roberto segue seu tratamento e logo terá alta. Mas ele reconhece que cuidará sempre de manter aberta a janela de sua alma.
Via Aleteia