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24/11/2014O ano de 1826 também foi um ano difícil para Joãozinho Bosco. Talvez tenha sido o inverno mais triste de sua vida. A sua avó, Margarida Zucca, falecera no dia 11 de fevereiro. Ela tinha um pouco mais de 80 anos. Com a saúde bastante prejudicada, viveu serenamente os seus últimos dias. Teve o cuidado total de sua nora, Mamãe Margarida, que não saía de perto da sua cama para lhe garantir todos os cuidados necessários.
Nesta época, Antônio – o meio-irmão de João Bosco – já tinha chegado aos 18 anos. Estava cada vez mais “afastado” de sua família e a sua agressividade com todos em casa era crescente.
No final deste ano, por volta de outubro, Mamãe Margarida cogitou a possibilidade de fazer João retornar para a escola de Castelnuovo, com o Pe. Lacqua, por mais um ano. Agora teria chance de aprender os fundamentos do latim. Antônio se enfureceu quando soube dos planos de Margarida. Dizia, agressivamente: “Por que temos necessidade de latim nesta casa? Precisamos sim trabalhar… Trabalhar!”.
É bem provável que Margarida tivesse conversado em alguma oportunidade com Antônio sobre a possibilidade João tornar-se padre um dia. Mas como Joãozinho mesmo dizia muitas vezes em casa, eram necessárias cerca de dez mil liras para entrar no seminário e cobrir todas as futuras despesas. Um valor inimaginável para uma família de camponeses. Naquela época era o próprio candidato, com a ajuda da sua família, que arcava com as despesas pessoais, de estudo e de hospedagem nos seminários. É claro que Antônio sequer aceitou ouvir tal possibilidade.
O temperamento de Antônio e as suas reações precisam ser compreendidas dentro do contexto complicado em que esse jovem cresceu. Precisamos lembrar que ele muito cedo perdeu a sua mãe e logo depois o seu pai. Embora tenha sido criado com muito amor por Mamãe Margarida, certamente lhe entristecia o coração a falta de seu pai e de sua mãe. Mais ainda, lhe pesava o fato de se tornar prematuramente o homem da casa, responsável pelo sustento de uma família que não tinha condições financeiras tão confortáveis assim. E para alguém criado para o trabalho, que sabe o quanto custa para trazer o alimento para casa, um irmão que não vai trabalhar são dois preciosos braços a menos na labuta do campo. É claro que este contexto não justifica alguma atitude mais rude por parte dele, mas ajuda a olhar com mais misericórdia para este rapaz que também enfrentou muito cedo as dores da orfandade e da pobreza extrema.
Mamãe Margarida, que queria o bem de todos de casa – inclusive de Antônio – dava um jeito de ajudar a todos com o mínimo de conflitos possível. Com a desculpa de precisar dar recados para sua tia Mariana e para o seu avô (afinal, naquela época não havia telefone!), João podia aproveitar as idas para Capriglio e frequentar algumas aulas durante o inverno de 1826-27.
Mas Antônio não amolecia. Constantemente tinha seus ataques de raiva. Em um certo dia, Joãozinho colocou um livro sobre a mesa ao lado de seu prato. Antônio, primeiro com Mamãe Margarida, e depois para seu irmão José, disse em tom imperativo: “Chega. Vou dar um jeito nesta gramática. Eu cresci forte e gordo sem nunca ler um livro”. Sem conseguir segurar a raiva, Joãozinho responde o que não devia: “Pois é, o nosso burro também nunca foi à escola e é mais gordo e mais forte que você”. Joãozinho tentou correr, mas não conseguiu escapar da surra de Antônio.
Foi neste contexto familiar que Mamãe Margarida precisou tomar uma das decisões mais difíceis de sua vida. No próximo artigo, vamos saber o que aconteceu.
TEXTO: Pe. Glauco Félix Teixeira Landim, SDB
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ADAPTAÇÃO E LOCUÇÃO: Domingos Sávio