Espaço Valdocco 17 – Um desastre que desfalece as esperanças.
26/12/2014Celebração da Vigília de Natal na Paróquia
26/12/2014Com a morte do Pe. João Calosso, Joãozinho volta para a sua casa nos Becchi. Mamãe Margarida não queria que o seu enteado Antônio voltasse a criar um clima de guerra dentro de casa. Por isso, propôs a ele a divisão do patrimônio da família.
Além disso, Antônio estava prestes a se casar. Foi um bom motivo para Mamãe Margarida se apoiar para apressar a divisão da herança e assim dar paz para João e toda a família Bosco. Foram divididos os campos e a casa dos Becchi: Antônio com a sua esposa morariam de um lado da casa e Margarida, José e João, do outro lado.
No início de dezembro de 1830, Joãozinho, ainda triste com a morte do Pe. Calosso, deseja voltar para a escola. O problema é que as aulas na escola de Castelnuovo já haviam começado no dia da Festa de Todos os Santos, em novembro. Entretanto, Mamãe Margarida conseguiu realizar a matrícula de seu filho, talvez por influência de seu irmão Miguel, que era muito conhecido em Castelnuovo.
Era uma mudança desconcertante para João. Deixava de ter um professor particular para frequentar uma escola pública. Teve que recomeçar os estudos da gramática italiana, para só depois poder estudar novamente o latim.
Depois, havia o fator da distância da escola. Eram cinco quilômetros que separavam os Becchi de Castelnuovo. A escola possuía dois turnos, três horas pela manhã e três horas de tarde. Com toda a vivacidade dos seus quinze anos, João saía bem cedo de casa, voltava para o almoço e depois voltava para a escola à tarde. Eram 20 quilômetros de caminhada por dia, um ritmo que não era possível manter por muito tempo.
Seu tio Miguel novamente lhe ajuda, conseguindo uma semi-pensão na casa de João Roberto, alfaiate e músico de Castelnuovo. João ia para lá na hora do almoço, para comer o que levava de casa em sua marmita.
Mesmo assim, a caminhada era dura. De vez em quando, enfrentava a chuva ou a neve. Mas sempre com rosto tranquilo e sereno. Quando a neve apertava demais, não dava para voltar para a casa. Então o senhor João Roberto permitia que Joãozinho Bosco dormisse no vão da escada da sua casa. Depois de um tempo, Mamãe Margarida procurou o alfaiate para que ele pudesse dar pensão completa ao seu filho. Ela pagaria com dinheiro ou com vinhos e cereais. A partir desse dia, Joãozinho passaria a dormir todos os dias no vão da escada e ter direito a uma sopa quente no almoço e no jantar.
Outra dificuldade que João enfrentou na escola foi a adaptação com os seus novos colegas. Todos eles possuem 10 ou 11 anos, enquanto João já tinha 15. Zombavam dele por causa de vir de um lugar simples como os Becchi e também por causa da roupa que usava, um jaquetão desproporcional ao seu tamanho e um sapato bastante grosseiro. Seu apelido na escola era “vaqueiro dos Becchi”.
É realmente muito ruim não se sentir acolhido em algum lugar. Podemos imaginar o quanto Joãozinho sofreu neste período de sua vida, ele que era tão admirado em sua terra e pelos amigos de Morialdo e de Moncucco.
Teve, no entanto, a sorte de encontrar um professor que tinha muita estima por ele e que o ajudou muito. Era o Pe. Manuel Virano. Gentil e competente, era dotado de uma rara habilidade para lecionar, possuía grande entrada com os alunos. Sabia distribuir muito bem o tempo da aula e dar lições adequadas para o ritmo de cada aluno.
Com ele, João retomou a motivação para os estudos e empenhou-se pra valer. Os seus progressos eram tão visíveis que chamavam a atenção de seu professor. Certo dia, João escreveu uma redação tão boa que os professores da escola chegaram a duvidar se era ele mesmo o autor do trabalho. O Pe. Virano, após ler o trabalho para toda a classe, disse:
– Quem sabe escrever assim pode também dar-se o luxo de calçar-se como um vaqueiro. O que vale na vida não é o sapato, mas o cérebro.
TEXTO: Pe. Glauco Félix Teixeira Landim, SDB
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ADAPTAÇÃO E LOCUÇÃO: Domingos Sávio