Integrantes da paróquia marcam presença no IV Congresso Nacional da ADMA
07/09/2014Espaço Valdocco 4 – Três irmãos muito diferentes.
17/09/2014Como dissemos na semana passada, a morte de Francisco Luís, o pai da família Bosco, causou uma grande tristeza e uma situação dificílima. Naquela época, moravam na casa a mãe de Dom Bosco, Margarida Occhiena, com apenas 29 anos; a sua vó, Margarida Zucca, com aproximadamente 70 anos, imobilizada em uma poltrona por causa de uma paralisia; o seu meio-irmão Antonio, de 9 anos, o irmão José, com 4 anos e o próprio Joãozinho Bosco, com 2 anos.
Vinte e oito anos antes da morte do pai de Dom Bosco, estourava em Paris a Revolução Francesa, um evento de repercussão mundial que transformou a nossa história. O ar de novidade e expectativa tomou conta das pessoas, aos gritos de “liberdade” e “igualdade”. No entanto, a violência não demoraria a chegar. Os pobres, cada vez mais pobres, invadiam os castelos e os queimavam. A fome é uma realidade muito presente na vida dos camponeses europeus. A guerra tomou conta de grande parte da Europa. Napoleão, com seu exército, conquistou muitos territórios e instaurou o seu Império, que irá perdurar até outubro de 1813, dois anos antes do nascimento de João Bosco. O resultado de tudo isso foi uma Europa exausta e destruída pelas guerras, com um anseio muito forte pela paz, mas ainda vendo o povo simples passar fome e grandes necessidades.
Foi nesse contexto que Margarida Occhiena precisou assumir o controle da família Bosco. O patrimônio deixado por Francisco Luís consistia em alguns pedaços de terra, algumas cabeças de gado e uns poucos materiais agrícolas. Isso, além de uma dívida de 445 liras (para se ter uma ideia, a casa e os terrenos da família foram estimados em 452 liras). Como já dissemos, a seca havia devastado a colheita, assim como aconteceria novamente neste ano de 1817 e no ano seguinte. Os prejuízos foram muito grandes!
Dom Bosco narra nas “Memórias do Oratório”1 que Mamãe Margarida alimentou sua família enquanto pôde. Certa vez, entregou todo o seu dinheiro a um vizinho, chamado Bernardo Cavallo, para que pudesse ir comprar alimentos. Ele retornou de mãos vazias, porque não conseguiu encontrar nada, sequer com preços altos. Diante de uma situação extrema, Mamãe Margarida se ajoelhou e rezou, lembrando-se da recomendação que seu marido fez antes de morrer: “tenha confiança em Deus”. Após a oração, foi ao estábulo e matou um bezerro, matando a fome de toda a família naquela noite. Só dias depois foi possível encontrar cereais a venda, mas por preços exorbitantes, trazidos de povoados distantes.
Margarida era muito jovem para este peso que devia carregar. No entanto, não se entregou em lamentações. Pôs-se a trabalhar pela sua família com coragem, amor e dedicação. Assim como outras camponesas do seu tempo, manejava a foice, arava, semeava, colhia o trigo, transportava, trilha e guardava. Cuidava do parreiral e fazia o vinho. Tinha as mãos calejadas pelo seu trabalho, mas sabia cuidar com carinho dos seus filhos. Era uma trabalhadora, mas, sobretudo uma mãe!
Criou seus filhos com uma firmeza suave. Dom Bosco dirá mais tarde que a maneira pela qual educou os seus jovens não nasceu de nenhuma grande teoria pedagógica, mas sim da imitação daquilo que havia aprendido com a sua mãe.
Na base da maneira de Margarida educar os seus filhos, estava um profundo sentido religioso da vida. Dizia sempre a eles: “Deus te vê”. Com isso, não queria de forma alguma inculcar uma imagem de um Deus que fica vigiando tudo aquilo que fazemos, mas sim a imagem de um Deus presente, amigo, preocupado com a nossa felicidade. Ao final de cada dia de trabalho, sempre dizia: “Agradeçamos a Deus. Foi bom para conosco. Deu-nos o pão de cada dia”.
Quando o terrível tempo da seca passou e a situação econômica melhorou, Margarida recebeu uma vantajosa proposta de casamento. Os seus filhos seriam deixados com um bom tutor, que cuidaria muito bem deles. A resposta de Margarida é objetiva: “Deus me deu um marido e mo tirou; ao morrer, deixou-me três filhos, e eu seria uma mãe cruel se os abandonasse justamente quando mais precisam de mim. Um tutor é um amigo, ao passo que eu sou a mãe dos meus filhos. Não os abandonarei jamais, ainda que me oferecessem todo o ouro do mundo”.
Por todos estes fatos, os historiadores salesianos não hesitam em ressaltar o papel primordial que Mamãe Margarida teve na educação de Dom Bosco e no seu amadurecimento humano, religioso e vocacional
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1 BOSCO, São João. Memórias do Oratório de São Francisco de Sales, 1815-1855 [tradução: Fausto Santa Catarina]. 3ª edição [aos cuidados de Antônio da Silva Ferreira]. São Paulo: Editora Salesiana, 2005.
TEXTO: Pe. Glauco Félix Teixeira Landim, SDB
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ADAPTAÇÃO E LOCUÇÃO: Domingos Sávio