Espaço Valdocco 34 – Uma presença que causava admiração e fazia a diferença.
05/06/2015Espaço Valdocco 36 – Um jovem com muitos talentos e habilidades
05/06/2015Na escola que João estudava em Chieri havia também alguns rapazes judeus. Eles moravam em um gueto, em uma parte separada da cidade, por força de uma lei do Rei Carlos Félix, para que vivessem em uma lugar separado dos cristãos. Não eram totalmente aceitos na sociedade, mas apenas tolerados.
Os meninos judeus sofriam porque, por força de sua religião, não podiam exercer nenhum tipo de trabalho aos sábados. O que fazer? Agir contra a consciência ou ser zombado e prejudicado na escola por causa das notas baixas?
João se aproximou de vários destes judeus, chegando até a fazer para alguns deles a tarefa do sábado. Tornou-se um bom amigo de um especialmente, chamado de Tiago-Levi, mas conhecido pelos colegas como Jonas. Ele tinha algo em comum com João Bosco: não possuía mais o seu pai.
A amizade de Jonas foi muito apreciada e importante para João. Anos mais tarde, Dom Bosco falava elogiosamente de seu amigo da juventude: “De muito bonito aspecto, cantava com uma voz de rara beleza. Jogava bilhar muito bem. Eu lhe tinha um grande afeto e ele uma louca amizade por mim. Vinha estar comigo todo momento livre. Ficávamos a cantar, a tocar piano, a ler, a conversar”.
Certo dia, no entanto, Jonas se meteu em uma encrenca. João, por conta do grande afeto que tinha pelo seu amigo, ofereceu-lhe o conforto da fé cristã. Emprestou-lhe o seu catecismo e se propôs a ensiná-lo as principais verdades da fé.
Relata-nos Dom Bosco que a partir deste dia Jonas “sentia-se muito feliz e se tornava cada dia melhor na maneira de proceder e conversar”. Ia ao Café Pianta com muita frequência e, após uma partida de bilhar, procurava logo João para conversar sobre religião e catecismo.
Um dia, porém, o inevitável acontece: a mãe de Jonas encontra o livro do catecismo cristão no quarto de seu filho. Vai desesperada ao encontro de João, lhe dizendo: “você arruinou meu filho!”.
Por mais que João tentasse amenizar a situação, nada aliviava a tensão da mãe de seu amigo. Jonas foi ameaçado depois pelos seus parentes e até mesmo pelo rabino. Também João chegou a ser ofendido por todos eles. Precisou afastar-se um tempo da família. Com o tempo, as coisas foram se acalmando.
Enfim, no dia 10 de agosto de 1833, na catedral de Chieri, o jovem Jonas foi batizado. No arquivo oficial da igreja, ainda é possível encontrar o seguinte registro: “Eu, Sebastião Schioppo, teólogo e cônego, por concessão do Revmo. E Ilmo. Sr. Arcebispo de Turim, batizei solenemente o jovem hebreu Tiago-Levi, de 18 anos, e lhe impus o nome de Luís…”. Seu nome completo depois do batismo passou a ser Luís Bólmida, por causa da família que o apadrinhou. Tratava-se do casal Carlos e Otávia Bertinetti, que providenciaram tudo o que Jonas precisava para se tornar cristão e para ganhar honestamente o seu pão de cada dia.
“Jonas” permaneceu sendo sempre um grande amigo de Dom Bosco. Há informações que a sua família sanguínea o tenha deserdado por conta da sua conversão à fé cristã. Casou-se em 1840 e contraiu segundas núpcias em 1860. Chegou a ser um homem de negócios em Turim. O certo é que, ainda em 1880, ia para o Oratório de Valdocco para visitar seu amigo e lembrar os belos tempos passados. E o casal Bertinetti, padrinhos de Jonas, tornaram Dom Bosco o herdeiro universal da família, o que possibilitou o surgimento, no futuro, da casa salesiana de Chieri.
TEXTO: Pe. Glauco Félix Teixeira Landim, SDB
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ADAPTAÇÃO E LOCUÇÃO: Domingos Sávio