Espaço Valdocco 35 – A amizade e a conversão do judeus Jonas.
05/06/2015Espaço Valdocco 37 – Crise vocacional de João Bosco e a decisão de se fazer franciscano.
05/06/2015A juventude de Dom Bosco também foi um tempo para aperfeiçoar muitas das habilidades que lhe serão muito úteis no futuro, em sua missão. Praticava o canto, o piano, a declamação, o teatro… tudo isso sem deixar de lado o empenho nas amizades e nos estudos. Ainda passava horas sem dormir debruçado nos seus livros, chegando muitas vezes a dedicar apenas um terço da noite para o sono.
Como já dissemos em outra ocasião, estas habilidades faziam com que João Bosco fosse um jovem de muito prestígio perante os seus amigos. Ele era bom em qualquer jogo! Nas “Memórias do Oratório de São Francisco de Sales”, Dom Bosco cita que tinha especial habilidade com baralho, bolinhas, malhas, perna de pau, saltos e corridas. Muitas dessas coisas ele havia aprendido ainda menino em Murialdo, mas outras havia aprendido já em Chieri. Ainda sabia fazer mágica e prestidigitações. Não ficava por baixo perante nenhum artista profissional, apresentava-se não só para seus amigos, mas também publicamente.
Nestes “espetáculos” que organizava João cantava, tocava ou recitava poesias que muitos julgavam ser verdadeiras obras-primas, mas na verdade trechos de obras clássicas da literatura adaptadas para o tema que ele queria. Por isso mesmo, nas mesmas “Memórias”, Dom Bosco confessa que nunca entregava suas “composições” para ninguém, por receio de ser considerado um plagiador.
Nos jogos de prestidigitação, fazia sair de um pequeno copo muitas e muitas bolinhas, mais do que normalmente caberia. Dos bolsos de seus expectadores fazia sair ovos e mais ovos. Fazia moedas sumirem em um estalar de dedos. Tudo isso levava seu público ao delírio. Mas também trouxe alguns problemas para João.
João não estava mais no Café Pianta. Agora morava, por indicação do seu vigário em Castelnuovo, na casa do Sr. Tomás Cumino. Era o ano escolar de 1834-1835. O dono da casa era alfaiate. João morava na cocheira e tinha os deveres de trabalhar um pouco na vinha e cuidar de um jumento. Também o Pe. Cafasso já havia sido hóspede ali e foi o responsável por melhorar as condições de vida de João alguns meses depois.
Este Sr. Cumino era um cristão fervoroso e que até gostava de brincadeiras. Dom Bosco, sempre nas “Memórias do Oratório”, conta que, sabendo disso, sempre pregava alguma peça com o senhor Tomás, a fim de brincar com ele.
Eis algumas destas “artes” lembradas por Dom Bosco: um galo vivo colocado dentro de uma panela no lugar de um frango assado, a macarronada trocada na panela por macarrão cru, a garrafa de vinho cheia de água, doces trocados por fatias de pão e moedas trocadas por pedacinhos de lata.
Em um momento, o bom Tomás começa a desconfiar dessas brincadeiras. Começa a achar que é coisa do demônio! Não tendo coragem de falar com ninguém que morava na pensão da sua casa, foi aconselhar-se com o Pe. Bertinetti, seu vizinho. Este também achou que tudo isso só podia ser coisa de magia branca e resolveu levar o caso para o delegado das escolas, o cônego Máximo Búrzio, que também era cura da catedral de Chieri.
O cônego, que era uma pessoa muito instruída, piedosa e prudente, sem falar com ninguém, chamou João para obter algumas explicações. Também com ele fez uma brincadeira de prestidigitação, fazendo-lhe sumir o relógio e a bolsa de moedas. Fez isso para mostrar ao cônego que não se tratava de magia ou coisa do demônio, mas sim de pura habilidade manual. No final da conversa, o cônego Búrzio ria e João ainda voltou para a casa com um presente como prêmio pela sua destreza.
Resolvido esse mal-entendido, João voltou a realizar os seus espetáculos públicos. No entanto, sentiu uma diminuição no seu público. Chamava a atenção um saltimbanco que estava em Chieri naqueles dias e que havia atravessado a cidade na corrida em apenas dois minutos e meio, quase o tempo que um trem usaria para o percurso. Sem pensar direito, João revela para algumas pessoas que gostaria de competir com este saltimbanco. Este desejo chegou ao interessado e não houve maneira de fugir do desafio. Um estudante, João, teria que competir com um corredor profissional.
A aposta era de 20 francos. Como João não tinha dinheiro, os amigos da Sociedade da Alegria completaram a quantia. Uma multidão já havia se juntado para assistir a grande corrida. Dada a largada, o saltimbanco toma a frente. João porém o alcançou e o deixou tão para trás, que o corredor acabou desistindo da prova.
Mas não havia desistido da competição! O saltimbanco agora queria rivalizar com João no salto e provar que a vitória na corrida foi apenas sorte. O lugar do salto seria um pequeno riacho. Fez um salto tão bom que a maioria acreditou que João já havia perdido. Mas não foi o que aconteceu… João saltou o riacho e ainda usou o parapeito da ponte para ir mais além ainda.
O saltimbanco não se conformava. Desafiou João a escolher qualquer jogo de destreza. A escolha foi uma varinha, que João usar para equilibrar um chapéu de quase todas as maneiras possíveis. O saltimbanco foi tentar fazer o mesmo, mas o chapéu esbarrou em seu nariz. Precisou pegar o chapéu com as mãos para que ele não caísse no chão.
Furioso por estar sendo derrotado por um simples estudante, o saltimbanco dá a última cartada: 100 francos para quem conseguisse colocar os pés mais perto da ponta de uma árvore que havia por ali próximo.
Também desta vez o saltimbanco atingiu um desempenho que muito dificilmente poderia ser superado. Mais um pouco que subisse na árvore e ela envergaria. João conseguiu vencer o desafio chegando o mais longe que podia e inclinando o seu corpo, fazendo com que seu pé ficasse cerca de um metro a mais que o seu competidor.
Os aplausos eram poucos para expressar a exultação das pessoas que assistiram a esse espetáculo. O saltimbanco não saiu de qualquer maneira. João e seus amigos fizeram a proposta de devolver o dinheiro se ele pagasse o almoço para eles. Foram cerca de 22. O almoço aconteceu no albergue do Muletto, a poucos metros do Café Pianta. Ainda hoje é possível passar por lá e almoçar neste mesmo lugar.
TEXTO: Pe. Glauco Félix Teixeira Landim, SDB
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ADAPTAÇÃO E LOCUÇÃO: Domingos Sávio