Espaço Valdocco 37 – Crise vocacional de João Bosco e a decisão de se fazer franciscano.
05/06/2015Espaço Valdocco 39 – O Pe. Cinzano, instrumento da providência divina no caminho vocacional de João Bosco.
05/06/2015Como vimos em nosso último texto, João Bosco foi aceito como postulante franciscano, no Convento da Paz, em Chieri. Nos arquivos do Convento de Santa Maria dos Anjos, em Turim, onde João Bosco prestou os exames, pode-se ler: “O jovem João Bosco de Castelnuovo foi aceito com todos os votos; possui todos os requisitos exigidos – 18 de abril de 1834”.
Poucos dias depois, João procurou o seu pároco, o Pe. Dassano, para solicitar os documentos necessários para o ingresso no convento. O padre não consegue esconder o seu espanto:
– Você, João, no convento? Já pensou bem nisso?
– Acho que sim – foi a resposta de João.
O Pe. Dassano preocupou-se com a decisão de João e resolveu procurar a sua mãe, Margarida, para lhe falar sobre este assunto:
– João vai entrar para os franciscanos. Não tenho nada contra. Mas me parece que seu filho é feito mais para trabalhar em paróquia. Sabe falar com o povo, atrair os meninos, fazer-se querer bem. Por que então ir se enterrar num convento? Além disso, Margarida, quero ser claro: a senhora não é rica nem tão jovem. Um filho pároco, quando já não puder trabalhar, poderá ajudá-la. Mas um filho frade para a senhora é como que se não existisse. Estou convencido de que deveria dissuadi-lo dessa ideia. E parece-me dizê-lo para o seu bem.
Depois desta conversa, Margarida se pôs a caminho de Chieri, para encontrar-se com João.
– O pároco esteve lá em casa para dizer-me que você vai para o convento. É verdade?
– Sim, mamãe. E espero que não tenha nada contra.
– Então, escute cá, meu filho. Quero que pense bem e com calma. Uma vez que tenha decidido, siga o seu caminho, sem se preocupar com ninguém. O mais importante é fazer a vontade de Deus. O pároco gostaria que o fizesse mudar de ideia, porque no futuro eu poderia precisar de você. Eu, porém, lhe digo: nestas coisas sua mãe não conta. Antes de tudo, Deus. De você não quero nada, não espero nada. Nasci pobre, vivi pobre e quero morrer pobre. Aliás, fique logo bem claro, João: se ficasse padre e por desgraça se tornasse rico, eu jamais poria os pés na sua casa. Lembre-se bem disto.
Foram palavras ditas com solenidade, com tom forte na voz e grande energia no rosto. Dom Bosco relatou que nunca mais esqueceu essas palavras de Mamãe Margarida.
Entretanto, alguns dias antes de ingressar, algo faria João repensar a sua decisão. Mais uma vez, um sonho faz Dom Bosco pensar sobre o seu futuro.
Conta que viu um grande número de religiosos com os seus hábitos rasgados, correndo em sentido contrário uns dos outros. Um destes religiosos, sempre no sonho, teria abordado João e dito: “Procuras a paz e aqui não haverás de encontrá-la. Observa a atitude dos teus irmãos. Deus te prepara outro lugar, outra messe”. João queria fazer algumas perguntas para aquele frade, mas um ruído qualquer fez com que ele acordasse e não visse mais nada.
No dia seguinte, João contou tudo para o seu confessor. Assim como já havia acontecido quando quis falar sobre a vocação, também desta vez o Pe. Maloria se eximiu de se posicionar sobre a questão dizendo: “Neste assunto é preciso que cada um siga as próprias propensões, e não os conselhos dos outros”.
O Pe. Maloria não era um mal confessor. Apesar de jovem (tinha 31 anos nesta época) era um dos presbíteros mais bem preparados da Arquidiocese de Turim. Foi também confessor do Pe. José Cafasso, futuro confessor e diretor espiritual de Dom Bosco. É bem provável que esta sua atitude com João tenha sido motivado pela sua prudência em compreender que um acompanhamento vocacional exigiria muito mais elementos do que um simples sentimento ou um sonho com frades.
Mas e agora? O que faria? Resolveu continuar na escola pública, mas a inquietação vocacional estava mais forte do que nunca. Conversando um dia com seu grande amigo, Luís Comollo, recebeu um sábio e santo conselho: “
– Por que não faz uma novena?
E sugere que, além da ajuda de Deus também peça ajuda ao seu tio, o Pe. José Comollo. E que seguisse cegamente a orientação que recebesse.
É o próprio Dom Bosco quem nos conta o que sucedeu: “no último dia da novena fiz na companhia dele [de Luís Comollo] a confissão e a comunhão. Ouvi uma missa e ajudei outra no altar de Nossa Senhora das Graças [aquela para a qual João, como estudante, se dirigia todos os dias para fazer sua oração]. Voltando para a casa, encontramos uma carta do Pe. Comollo, tio de Luís. Dizia: ‘Considerando bem, aconselharia seu colega a não entrar no convento. Vista o hábito clerical e não tenha medo de perder a vocação. Com o recolhimento e as práticas de piedade superará todos os obstáculos’”.
Ou seja, João deveria entrar no seminário diocesano e lá prosseguir os seus estudos, “até conhecer melhor o que Deus quer”. João seguiu o conselho do Pe. Comollo e começou a pensar como faria para ingressar no Seminário da Arquidiocese de Turim.
TEXTO: Pe. Glauco Félix Teixeira Landim, SDB
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ADAPTAÇÃO E LOCUÇÃO: Domingos Sávio