Espaço Valdocco 39 – O Pe. Cinzano, instrumento da providência divina no caminho vocacional de João Bosco.
05/06/2015Memória de São Barnabé
10/06/2015Até pouco tempo atrás, antes do Concílio Vaticano II, os jovens que decidiam entrar no seminário participavam de uma celebração na qual, solenemente, recebiam a batina. Era o rito de passagem para dizer que, a partir daquele momento, aquele jovem tornava-se um clérigo, um homem a caminho e em formação para o exercício do sacerdócio. João Bosco, tendo decidido entrar no seminário diocesano após os conselhos do Pe. Comollo e a ajuda do Pe. Cinzano, preparava-se para receber o hábito eclesiástico.
Cultivava a absoluta certeza que a salvação da pessoa depende da escolha certa da sua vocação. Por isso, pediu para muitos amigos que, nestes dias, rezassem por ele. Ele mesmo realizou uma novena para, no dia 25 de outubro de 1935, receber a batina pelas mãos do Pe. Cinzano.
Temos que lembrar que João, assim como sua mãe, haviam aprendido dos sermões que escutavam que Deus nos havia “predestinado” a uma determinada vocação. Esta era a doutrina da época sobre a vocação, fruto de uma antiga tradição teológica usual na catequese e na literatura deste tempo. Às vezes, porém, por conta de um rigorismo moral que ensinava que a vida cristã era difícil, ameaçada continuamente pelo pecado e que a escolha da vocação era um passo do qual dependia a salvação da pessoa. Eram convicções religiosas e morais que causavam lamentáveis estados de preocupação e de angústia. Por isso para João é indispensável rezar muito, ler algum livro sagrado ou devoto que poderia lhe ajudar a acertar em sua escolha. Sentia necessidade de mortificar as tendências negativas da natureza e de pedir oportunos conselhos para não correr o risco de errar.
No dia em que João recebeu a batina, havia a igreja um número extraordinário de jovens naquele dia, vindo de vários lugares da região. Todos admiravam a compostura, a grande devoção e a humildade de João durante a celebração.
Nas “Memórias do Oratório de São Francisco de Sales”, Dom Bosco conta o que sentiu e viveu neste dia, narrando os gestos do rito da vestidura clerical. No momento em que o padre pede para que o candidato ao sacerdócio retire as suas vestes seculares, ele diz: “despoje-te o Senhor do homem velho e das suas ações”. João, no seu coração, rezou: “Oh! Quanta coisa velha há que tirar! Meu Deus, destruí em mim todos os maus hábitos”.
Dom Bosco continua contando que, ao entregar o colarinho da batina para João colocar, o padre disse: “Revista-te o Senhor do novo homem, que foi criado segundo Deus, na justiça e na santidade da verdade”. João ficou profundamente comovido e disse para si: “Sim, meu Deus, fazei que neste momento eu me revista de um novo homem, isto é, que a partir de agora eu comece uma vida nova, toda conforme a divina vontade e que a justiça e a santidade sejam o objeto constante dos meus pensamentos, das minhas palavras e das minhas obras. Assim seja. Ó Maria, sede a minha salvação”.
Assim que acabou a celebração, o pároco de João quis levá-lo à festa de São Miguel em um povoado de Castelnuovo. João estava um pouco sem graça de ir nesta festa, ficou pensando que seria um “boneco de roupa nova, que se apresentava ao público para ser visto”. Além disso, depois de toda a preparação espiritual daqueles dias, não se sentiu à vontade na festa com toda aquela comida, bebida e diversão.
O pároco observou o comportamento de João e na volta para a casa perguntou porque estava tão retraído e pensativo num dia de tanta alegria. João procurou ser muito sincero e respondeu que não encontrava sintonia entre o que haviam celebrado pela manhã com esta festa da tarde. E disse mais: “ver padres bancarem os palhaços no meio dos convidados, já um tanto altos pelo vinho, quase despertou em mim aversão à minha vocação. Soubesse que havia de ser um desses padres, preferiria deixar este hábito e viver como um pobre leigo, mas bom cristão”.
“O mundo é assim”, respondeu o pároco – “É preciso ver o mal para conhecer e evitar”. João se calou após esta resposta, mas, no seu coração, prometeu que não iria mais a estes festejos públicos, a não ser que fosse por obrigações religiosas.
Mais tarde, ainda motivado pelo ideal de mudança de vida, João escreveu sete propósitos a serem seguidos daí em diante:
1) Não participar de espetáculos públicos em feiras e mercados, nem assistir bailes ou tatros; e na medida do possível não participar dos almoços que se ofereciam nestas ocasiões.
2) Não fazer mais exibições de prestidigitador, saltimbanco, malabarismo, corda; não tocarei violino, não irei mais à caça. Essas coisas todas considero-as contrárias à gravidade e ao espírito eclesiástico.
3) Amar e praticar o retiro, a temperança no comer e no beber; e para o repouso usar apenas as horas estritamente necessárias à saúde.
4) Procurar a servir a Deus com leituras religiosas.
5) Combater com todas as forças qualquer leitura, pensamento, conversa, palavras e obras contrárias à virtude da castidade. Fazer tudo para a conservação desta virtude.
6) Além das práticas ordinárias de piedade, fazer todos os dias um pouco de meditação e de leitura espiritual.
7) Contar todos os dias algum exemplo ou máxima que aproveite a alma do próximo.
Estes propósitos Dom Bosco colocou diante de uma imagem de Nossa Senhora e prometeu diante dela que as cumpriria. Alguns destes propósitos são um pouco radicais e ele mesmo chegará a conclusão que alguns deveriam ser revistos, como o que diz respeito às exibições de saltimbanco e de prestidigitação, que serão tão úteis na sua missão futura.
TEXTO: Pe. Glauco Félix Teixeira Landim, SDB
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ADAPTAÇÃO E LOCUÇÃO: Domingos Sávio