Espaço Valdocco 48 – Uma experiência marcante: Os jovens prisioneiros
31/07/201501 e 02 de Agosto
02/08/2015Após as experiências vividas em suas visitas às prisões de Turim, Dom Bosco toma uma resolução inabalável, qual seja, o de impedir, a todo custo, que rapazes tão jovens acabem nas prisões. Dom Bosco quer ser o salvador desta juventude. Quer realizar um centro em que os menores abandonados pela família encontrem um amigo, em que os rapazes ex-prisioneiros saibam ter uma ajuda e um sustento, um amparo. Centro esse não ligado a uma paróquia, o que era comum na sua época, mas à sua pessoa. E que não houvesse só funções dominicais de catecismo, mas algo mais que se prolongue pela semana adentro, mediante a amizade, a assistência, os encontros no local de trabalho destes jovens.
O tímido início dessa realização aconteceu na manhã de 08 de dezembro de 1841, 35 dias após o seu ingresso no Colégio Eclesiástico. Um feliz encontro proporcionou-lhe a oportunidade de tentar a concretização do projeto em favor dos jovens que andavam pelas ruas da cidade. Segue a narrativa deste encontro:
No dia solene da Imaculada Conceição de Maria, 8 de dezembro de 1841, Dom Bosco estava vestindo-se para celebrar a santa Missa, na igreja de São Francisco de Assis. O sacristão, vendo um rapazinho rm um canto da sacristia, convidou-o a ajudar na Missa.
– Não sei – respondeu o rapaz, todo mortificado.
– Vem – replicou o sacristão – tens de ajudar.
– Não sei – retorquiu o rapaz – nunca ajudei.
– És um animal – disse o sacristão enfurecido. – Se não sabes ajudar a Missa, que vens fazer na sacristia? E, assim dizendo, tomou do espanador e começou a desferir golpes nas costas e na cabeça do pobrezinho.
Enquanto este fugia, Dom Bosco grita em voz alta:
– Que está fazendo? Por que bater nele desse jeito? Que é que ele fez?
– Se não sabe ajudar a missa, por que vem à sacristia? – respondeu o sacristão
– Mas você agiu mal – respondeu Dom Bosco.
– E que lhe importa? – indagou o sacristão
Disse-lhe Dom Bosco: Importa muito pois ele é um meu amigo; chame-o imediatamente, preciso falar com ele.
O sacristão correu atrás do rapaz, chamando-o e trazendo-o até Dom Bosco.
O rapaz aproximou-se a tremer e a chorar pelas pancadas recebidas. Dom Bosco, então, inicia um diálogo com o menino:
– Já ouviste Missa?
– Não – respondeu o rapaz.
– Vem então ouvi-la. Depois gostaria de falar de um negócio que vai-te agradar.
Era desejo de Dom Bosco aliviar o sofrimento do pobrezinho e não deixá-lo com a má impressão que lhe causara o sacristão.
Celebrada a santa Missa e terminada a ação de graças, Dom Bosco levou o rapaz ao coro. Com um sorriso no rosto e garantindo-lhe que já não devia recear novas pancadas, começou a interrogá-lo assim:
– Meu bom amigo, como te chamas?
– Bartolomeu Garelli.
– De onde és?
– De Asti.
– Qual é o teu ofício?
– Pedreiro.
– Tens pai?
– Não, meu pai morreu.
– E tua mãe?
– Morreu também.
– Quantos anos tens?
– Dezesseis.
– Sabes ler e escrever?
– Não.
– Sabes cantar?
– Não.
– Sabes assobiar?
Bartolomeu Garelli começou a rir. Era o que Dom Bosco queria, conquistar sua confiança.
– Já fizeste a Primeira Comunhão?
– Ainda não.
– Já te confessaste?
– Sim, quando era pequeno.
– E agora, vais ao catecismo?
– Não tenho coragem porque os meninos menores caçoam de mim…
– E se eu te desse catecismo à parte, virias?
– Sim, certamente.
– Gostarias que fosse aqui mesmo?
– Com muito gosto, contanto que não me batam.
– Fica sossegado, que ninguém te maltratará. Pelo contrário, serás meu amigo. Terás de haver-te só comigo e mais ninguém. Quando queres começar?
– Quando o senhor quiser.
– Esta tarde serve?
– Sim.
– E se fosse agora mesmo?
– Sim, agora mesmo. Que bom!
Dom Bosco ajoelhou-se e rezou uma Ave-Maria. Depois fez o sinal da cruz para começar, mas Bartolomeu Garelli não o fez porque não sabia. No final, Dom Bosco convida o rapaz a retornar no domingo, trazendo outros amigos. No domingo seguinte, na sacristia, entraram nove meninos.
Quarenta e cinco anos depois Dom Bosco dirá aos seus padres Salesianos: “Todas as bênçãos chovidas do céu para nós são fruto daquela primeira Ave-Maria rezada com fervor e com reta intenção”.
ADAPTAÇÃO E LOCUÇÃO: Domingos Sávio