Espaço Valdocco 5 – O início dos estudos de João Bosco e o começo dos conflitos familiares.
30/09/2014Ação Entre Amigos
29/10/2014
O Papa Pio IX, preocupado com a continuidade da obra salesiana mesmo quando Dom Bosco não pudesse mais estar a frente dela, pede que ele escreva a história da origem do seu trabalho com a juventude pobre e abandonada.Este pedido já havia sido feito por outras pessoas e em outras ocasiões. Porém, Dom Bosco relutava em atender por saber que, para falar da gênese da obra salesiana, precisaria falar bastante a respeito de si mesmo, uma vez que a missão salesiana nasceu de um chamado pessoal que Deus fez a Ele, por meio da Virgem Maria. O pedido do papa, no entanto, Dom Bosco não podia recusar.É assim que ele começa a escrever as Memórias do Oratório, situando a origem da sua obra na sua própria experiência de vida: com a sua orfandade, com a pobreza da sua infância e um sonho, que ficou gravado profundamente em sua mente, como ele mesmo escreveu.É este sonho, que Dom Bosco teve pela primeira vez aos nove anos, que vamos contar para você hoje. Conheceremos o sonho nesta semana, deixando para a próxima semana a análise e os comentários sobre ele.
Vamos ler, com as palavras do próprio São João Bosco, como foi este sonho*:
“Nessa idade tive um sonho, que me ficou profundamente impresso na mente por toda a vida. Pareceu-me estar perto de casa, numa área bastante espaçosa, onde uma multidão de meninos estava a brincar. Alguns riam, outros divertiam-se, não poucos blasfemavam. Ao ouvir as blasfêmias, lancei-me de pronto no meio deles, tentando, com socos e palavras, fazê-Ios calar. Nesse momento apareceu um homem venerando, de aspecto varonil, nobremente vestido. Um manto branco cobria-lhe o corpo; seu rosto, porém, era tão luminoso que eu não conseguia fitá-lo. Chamou-me pelo nome e mandou que me pusesse à frente daqueles meninos, acrescentando estas palavras:
– Não é com pancadas mas com a mansidão e a caridade que deverás ganhar esses teus amigos. Põe-te imediatamente a instruí-los sobre a fealdade do pecado e a preciosidade da virtude. Confuso e assustado repliquei que eu era um menino pobre e ignorante, incapaz de lhes falar de religião. Senão quando aqueles meninos, parando de brigar, de gritar e blasfema, juntaram-se ao redor do personagem que estava a falar. Quase sem saber o que dizer, acrescentei:
– Quem sois vós que me ordenais coisas impossíveis?
– Justamente porque te parecem impossíveis, deves torná-Ias possíveis
com a obediência e a aquisição da ciência.
– Onde, com que meios poderei adquirir a ciência?
– Eu te darei a mestra, sob cuja orientação poderás tornar-te sábio, e sem a qual toda sabedoria se converte em estultice.
– Mas quem sois vós que assim falais?
– Sou o filho daquela que tua mãe te ensinou a saudar três vezes ao dia.
– Minha mãe diz que sem sua licença não devo estar com gente que não conheço; dizei-me, pois, vosso nome.
– Pergunta-o a minha mãe.
Nesse momento vi a seu lado uma senhora de aspecto majestoso, vestida de um manto todo resplandecente, como se cada uma de suas partes fosse fulgidíssima estrela. Percebendo-me cada vez mais confuso em minhas perguntas e respostas, acenou para que me aproximasse e, tomando-me com bondade pela mão, disse:
– Olha.
Vi então que todos os meninos haviam fugido, e em lugar deles estava uma multidão de cabritos, cães, gatos, ursos e outros animais.
– Eis o teu campo, onde deves trabalhar. Torna-te humilde, forte, robusto; e o que agora vês acontecer a esses animais, deves fazê-lo aos meus filhos.
Tornei então a olhar, e em vez de animais ferozes apareceram mansos cordeirinhos que, saltitando e balindo, corriam ao redor daquele homem e daquela senhora, como a fazer-lhes festa.
Neste ponto, sempre no sonho, desatei a chorar, e pedi que falassem de maneira que pudesse compreender, porque não sabia o que significava tudo aquilo. A senhora descansou a mão em minha cabeça, dizendo:
– A seu tempo tudo compreenderás.
Após essas palavras, um ruído qualquer me acordou, e tudo desapareceu. Fiquei transtornado. Parecia-me ter as mãos doloridas pelos socos que desferira e doer-me o rosto pelos tapas recebidos; além disso, aquele personagem, a senhora, as coisas ditas e ouvidas de tal modo me encheram a cabeça que naquela noite não pude mais conciliar o sono.
De manhãzinha contei logo o sonho, primeiro aos meus irmãos, que se puseram a rir, depois à mamãe e à vovó. Cada um dava o seu palpite. O irmão José dizia: ‘Vais ser pastor de cabras, de ovelhas e de outros animais’. Mamãe: ‘Quem sabe se um dia não serás sacerdote’. Antônio, secamente: ‘Chefe de bandidos, isso sim’. Mas a avó que, de todo analfabeta, entendia muito de teologia deu a sentença definitiva: ‘Não se deve fazer caso dos sonhos’.”
*JOÃO BOSCO, São, 1815-1888. Memórias do Oratório de São Francisco de Sales, 1815-1855; tradução Fausto Santa Catarina; 3ª ed., revista e ampliada aos cuidados de Antônio da Silva Ferreira. São Paulo: Editora Salesiana, 2005.
Vamos ler, com as palavras do próprio São João Bosco, como foi este sonho*:
“Nessa idade tive um sonho, que me ficou profundamente impresso na mente por toda a vida. Pareceu-me estar perto de casa, numa área bastante espaçosa, onde uma multidão de meninos estava a brincar. Alguns riam, outros divertiam-se, não poucos blasfemavam. Ao ouvir as blasfêmias, lancei-me de pronto no meio deles, tentando, com socos e palavras, fazê-Ios calar. Nesse momento apareceu um homem venerando, de aspecto varonil, nobremente vestido. Um manto branco cobria-lhe o corpo; seu rosto, porém, era tão luminoso que eu não conseguia fitá-lo. Chamou-me pelo nome e mandou que me pusesse à frente daqueles meninos, acrescentando estas palavras:
– Não é com pancadas mas com a mansidão e a caridade que deverás ganhar esses teus amigos. Põe-te imediatamente a instruí-los sobre a fealdade do pecado e a preciosidade da virtude. Confuso e assustado repliquei que eu era um menino pobre e ignorante, incapaz de lhes falar de religião. Senão quando aqueles meninos, parando de brigar, de gritar e blasfema, juntaram-se ao redor do personagem que estava a falar. Quase sem saber o que dizer, acrescentei:
– Quem sois vós que me ordenais coisas impossíveis?
– Justamente porque te parecem impossíveis, deves torná-Ias possíveis
com a obediência e a aquisição da ciência.
– Onde, com que meios poderei adquirir a ciência?
– Eu te darei a mestra, sob cuja orientação poderás tornar-te sábio, e sem a qual toda sabedoria se converte em estultice.
– Mas quem sois vós que assim falais?
– Sou o filho daquela que tua mãe te ensinou a saudar três vezes ao dia.
– Minha mãe diz que sem sua licença não devo estar com gente que não conheço; dizei-me, pois, vosso nome.
– Pergunta-o a minha mãe.
Nesse momento vi a seu lado uma senhora de aspecto majestoso, vestida de um manto todo resplandecente, como se cada uma de suas partes fosse fulgidíssima estrela. Percebendo-me cada vez mais confuso em minhas perguntas e respostas, acenou para que me aproximasse e, tomando-me com bondade pela mão, disse:
– Olha.
Vi então que todos os meninos haviam fugido, e em lugar deles estava uma multidão de cabritos, cães, gatos, ursos e outros animais.
– Eis o teu campo, onde deves trabalhar. Torna-te humilde, forte, robusto; e o que agora vês acontecer a esses animais, deves fazê-lo aos meus filhos.
Tornei então a olhar, e em vez de animais ferozes apareceram mansos cordeirinhos que, saltitando e balindo, corriam ao redor daquele homem e daquela senhora, como a fazer-lhes festa.
Neste ponto, sempre no sonho, desatei a chorar, e pedi que falassem de maneira que pudesse compreender, porque não sabia o que significava tudo aquilo. A senhora descansou a mão em minha cabeça, dizendo:
– A seu tempo tudo compreenderás.
Após essas palavras, um ruído qualquer me acordou, e tudo desapareceu. Fiquei transtornado. Parecia-me ter as mãos doloridas pelos socos que desferira e doer-me o rosto pelos tapas recebidos; além disso, aquele personagem, a senhora, as coisas ditas e ouvidas de tal modo me encheram a cabeça que naquela noite não pude mais conciliar o sono.
De manhãzinha contei logo o sonho, primeiro aos meus irmãos, que se puseram a rir, depois à mamãe e à vovó. Cada um dava o seu palpite. O irmão José dizia: ‘Vais ser pastor de cabras, de ovelhas e de outros animais’. Mamãe: ‘Quem sabe se um dia não serás sacerdote’. Antônio, secamente: ‘Chefe de bandidos, isso sim’. Mas a avó que, de todo analfabeta, entendia muito de teologia deu a sentença definitiva: ‘Não se deve fazer caso dos sonhos’.”
*JOÃO BOSCO, São, 1815-1888. Memórias do Oratório de São Francisco de Sales, 1815-1855; tradução Fausto Santa Catarina; 3ª ed., revista e ampliada aos cuidados de Antônio da Silva Ferreira. São Paulo: Editora Salesiana, 2005.
TEXTO: Pe. Glauco Félix Teixeira Landim, SDB
e-mail: [email protected] – Facebook: www.facebook.com/glaucosdb
ADAPTAÇÃO E LOCUÇÃO: Domingos Sávio
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