Instrumento de Trabalho para o Sínodo da Pan-Amazônia é apresentado ao Conselho Permanente
27/06/2019Bento XVI: o Papa é um só, Francisco
28/06/2019
A partir da reforma litúrgica do Concílio Vaticano II é destacada a importância da valorização da vida em nossas celebrações litúrgicas, pois estas não acontecem de forma abstrata, mas celebram os fatos salvíficos no hoje da nossa história. Assim, a Liturgia é o cume para o qual tende a ação da Igreja e a fonte donde emana toda a sua força, conservando na vida dos fiéis o que receberam pela fé (cf. SC 10). Por isso tanto se destaca a participação plena, consciente, frutuosa e ativa, a fim de que não seja recebida em vão (cf. SC 11 e 14). Isso vale sobretudo para a eucaristia, celebração do “Pão da Vida” (cf. Jo 6). Vejamos alguns aspectos da celebração eucarística que se relacionam com a vida, especialmente com o mundo do trabalho:
* Na eucaristia como ação de graças, a pessoa humana deseja oferecer simbolicamente a Deus tudo o que conquistou pelo trabalho. Ela se vê representante do próprio Deus no meio das criaturas, qual operário com Deus (cf. 1Cor 3, 9) e por isso sente-se agradecido e louva Aquele a quem tudo pertence; oferece-lhe os dons de sua obra transformadora e recriadora no universo. É o ofertório de sua vida como trabalhador. O pão e o vinho, frutos de seu trabalho, são transformados em oferenda litúrgica com todos os demais trabalhos e serviços, frustrações e lutas, realizações e esperanças. Unidos ao oferecimento do Corpo e Sangue de Cristo, eles participam do gesto redentor (cf. CF 1991, Texto-base, n. 162);
* Na Eucaristia como sacrifício, o trabalhador celebra seu sofrimento, sua luta, sua decepção, enfim seu mundo do trabalho, por vezes em situação angustiante, injusta e incerta; celebra a busca de uma realidade mais humana e fraterna, de mais vida para si e seus companheiros. É celebrar a passagem (Páscoa) da morte para mais vida (cf. Idem, n.143). Suportando o que há de penoso e conflituoso no trabalho, assumindo a cruz da transformação, em união com Cristo crucificado, o trabalhador colabora com o Filho de Deus na redenção da humanidade (cf. Idem, n. 157);
* Na eucaristia como ceia de comunhão, o trabalhador celebra a partilha de seu trabalho, mas sobretudo de sua própria vida com os irmãos. Seu sentimento faz eco com as palavras de Jesus, quando diz: “tomai e comei, isto é meu corpo”. O trabalhador pode dizer: “O pão que comeis, o vinho que tomais, as vestes que vos cobrem, as ruas, as praças, as ciências, os móveis, as plantas… são o meu corpo trabalhador repartido, que faz a vida em abundância para todos” (Almeida Cunha R. I. Teologia do Trabalho, p. 166). A partilha da vida de Jesus, o trabalhador do Pai, se repete de forma semelhante na doação da vida dos trabalhadores que se entregam pelos irmãos (cf. Jo 12, 24-26);
* Na eucaristia como celebração festiva e de dimensão escatológica, o trabalhador reaviva a sua esperança para novos céus e nova terra, para os quais tendem os acontecimentos da história em todos os setores da vida, também no trabalho. Sem essa dimensão da esperança a vida perde seu valor e seu sentido; torna-se escravidão e fadiga sem razão (cf. CF 91, n. 164). É ela que sustenta e valoriza toda luta por uma vida mais humana, solidária e justa no mundo do trabalho.
A partir dessa reflexão poder-se-ia relacionar outros aspectos da missa com a vida do trabalhador. Mas isso fica para você, que celebra sua vida de trabalho na comunidade.
Por Dom Aloísio Alberto Dilli – Bispo de Santa Cruz do Sul, via CNBB