Papa: inimaginável o inferno vivido pelos migrantes nos campos de detenção
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08/07/2020
“Irai-vos e não pequeis; não se ponha o sol sobre o vosso ressentimento” (Efésios 4, 26). Essas palavras de São Paulo falam profundamente ao meu coração e sempre exortaram a minha consciência na prática da mansidão. Por quê?
Porque existe um limite tênue entre o zelo pela verdade, pela justiça, a necessidade da correção fraterna e a injustiça, a violência ou a ofensa. O problema não está na ira, mas como a administramos, pois a ira ou cólera é um sentimento que demonstra uma oposição à injustiça. Porém, vivida de maneira desordenada, pode se tornar um pecado. Até o Senhor se irou quando expulsou os vendilhões do templo, mas sem ter pecado (cf. Lc 19,45-48).
A ira ou a cólera é uma paixão que, como qualquer outra, vem e vai embora com a mesma velocidade. Seu efeito virtuoso ou imoral depende do combustível que nós fornecemos: dar vazão à violência, à destruição, à vingança ou dar vazão à justiça, marcada, muitas vezes, pela penitência no calar ou no agir, para exercitá-la no momento certo, com caridade.
Viva a prática da mansidão
As paixões humanas, entendidas como emoções, são numerosas e mobilizam a pessoa, impondo-se a sua vontade e a sua razão. São movimentos da nossa sensibilidade. São partes naturais do nosso psiquismo humano que garante a ligação entre a vida sensível e a vida espiritual. Em si mesmas, as paixões não são nem boas nem más. Só podemos avaliá-las moralmente, se boas ou más, na medida em que elas são comandadas por nossa razão, que nos ajuda a discernir o que é o bem e o que é o mal, e a nossa vontade, que nos impele a escolher entre o bem e o mal. As paixões não determinam nem a moralidade nem a santidade de ninguém. Elas são neutras.
Nosso Senhor designa o coração do homem como fonte de onde brota o movimento das paixões: “Porque é do interior do coração dos homens que procedem os maus pensamentos: devassidões, roubos, assassinatos” (Marcos 7,21).
Virtude da mansidão
São Gregório de Nissa enfatiza em seus escritos que cabe a cada um de nós colocarmos as nossas paixões, estas emoções, a serviço da virtude, de modo que a razão governe verdadeiramente sob pena de descermos ao nível do irracional e acabarmos cometendo algum pecado.
A paixão mais fundamental é o amor provocado pela atração do bem. O amor causa o desejo do bem ausente e a esperança de consegui-lo. Porém, a percepção do mal provoca ódio, aversão e medo do mal que está por chegar. Este movimento se completa na tristeza que o mal pode causar ou na cólera que a ele se opõe. As principais paixões são o amor, o ódio, o desejo, o medo, a alegria, a tristeza e a cólera ou ira. (Cf. Catecismo da Igreja Católica, n.1766).
Para viver a emoção da ira ou cólera de maneira equilibrada é preciso buscar a virtude da mansidão. Não é algo que consigamos fazer sozinhos. “Jesus, manso e humilde de coração, fazei o meu coração semelhante ao vosso”, já nos diz a jaculatória que costumamos fazer.
Como viver um equilíbrio moral
As virtudes humanas, adquiridas pela educação, por atos deliberados e por uma sempre renovada perseverança no esforço, são purificadas e elevadas pela graça divina. Com a ajuda de Deus, forjam o caráter e facilitam a prática do bem. O homem virtuoso sente-se feliz ao praticá-las. (cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 1810).
Evitar o mal praticar o bem, este é o verdadeiro temor de Deus, a verdadeira atitude de justiça! Não é fácil ao ser humano, ferido pelo pecado, viver um equilíbrio moral, mas o dom da salvação dado pelo Cristo vem em socorro das nossas fraquezas. A nossa vida de oração, a busca dos sacramentos – sobretudo o da confissão e o da Eucaristia – e a prática das virtudes nos ajudam nesse processo.
Peçamos sempre a Deus a graça de não pecarmos pela ira, de vivermos na mansidão, se preciso for suportando injustiças, observando sempre no nosso interior, os nossos sentimentos, as nossas emoções, antes de pensarmos ou tomarmos alguma atitude. É um verdadeiro combate, mas é algo que nos faz crescer na nossa caminhada de santidade.
Por Tarciana Barreto, via Canção Nova