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O sentido da minha vida tem a ver com Deus. Vai além do “eu gosto”, “me sinto bem”, “sou feliz assim”, para a compreensão de que a felicidade é consequência de uma autotranscendência, um sair de si, romper a crosta do eu que me aprisiona no egoísmo e individualismo. Humanamente sabemos que existimos em relação, isto é, precisamos do outro, de seu rosto, para sermos nós mesmos, como o pai e a mãe precisam dos filhos para serem o que são. Porém, o sentido da vida vai além do humano, abre-se para o divino. Para quem faz um caminho de fé, descobre admirado e agradecido uma ligação essencial com o Criador, que na fé cristã nos é revelado por Jesus Cristo como Pai de amor e misericórdia. Portanto, em Jesus Cristo, divino-humano, nos reconhecemos, descobrimos o fundamento de nossa existência. O sentido da vida tem a ver, então, com vocação, com chamado, com um Outro, que me antecede, me envolve com seu amor, me acompanha com fidelidade: Deus. A pergunta certa, então, é esta: o que Deus quer de minha vida?
Deste pressuposto decorrem três atitudes básicas que ajudam os jovens no processo de discernimento vocacional: a oração, o testemunho e o acompanhamento. A primeira, a oração, é uma resposta ao pedido de Jesus, que rezemos ao Pai para enviar operários, servidores.Este é o primeiro método para termos vocações sacerdotais, religiosas e matrimoniais:“Pedi ao Senhor da messe que envie operários para a sua messe” (Mt 9,38). “Não poderemos descobrir o chamado especial e pessoal que Deus pensou para nós, se ficarmos fechados em nós mesmos, nos nossos hábitos e na apatia de quem desperdiça a sua vida no círculo restrito do próprio eu, perdendo a oportunidade de sonhar em grande e tornar-se protagonista daquela história única e original que Deus quer escrever conosco” (Francisco,Mensagem para a 55º Jornada Mundial de Oração pelas Vocações, 2018 ). Por isso, incentivamos a todas as famílias e, sobretudo, nossas comunidades a continuarem a rezar pelas vocações, como nos orienta o projeto que já estamos seguindo: “Cada comunidade, uma nova vocação”. A proposta é que cada comunidade se coloque em oração, como um único corpo, pedindo ao Senhor, por intercessão de Nossa Senhora, vocações para a Igreja. A vocação para o sacerdócio, a vida consagrada e a família é um dom concedido somente por Deus, mas também é fruto da comunidade que reza.
Além da oração, é de suma importância o testemunho positivo de quem já vive, com alegria sua vocação. O que faz a vida de uma consagrada, de um padre ou de uma família ser bela e feliz? Os jovens precisam ver testemunhos marcantes de pessoas que se dedicam inteiramente ao Senhor com alegria, e assim sentirem-se motivados a apostar sua vida nesse mesmo caminho.O chamado deve apontar para algo que atraia, que confirme que vale a pena gastar as energias, a vida inteira. O sim generoso de Deus pede uma resposta também generosa, total. Deve ser um projeto que cativa, que desperte sonhos, que alarga os horizontes da existência.
A terceira e muito importante atitude é a proximidade, o acompanhamento dos jovens neste processo de discernimento e decisão vocacional.“A Igreja decidiu perguntar-se sobre como acompanhar os jovens para reconhecer e acolher o chamado ao amor e à vida em plenitude”, afirma o Documento Preparatório para o Sínodo dos Bispos sobre Os jovens, a fé e o discernimento vocacional. Todos os jovens têm direito de serem acompanhados e acolhidos pela família e pela Igreja.
Esta perspectiva da vocação indica algo que lhe é central: é uma questão de fé, de entrega confiante em Deus, que chama, que mostra a direção. Mas não mostra todo o caminho, somente a direção. A resposta é sempre “pela tua Palavra, lançarei as redes” (Lc 5,5). Deus nunca mostra como será o futuro e o que acontecerá no percurso, somente garante sua companhia: “Estarei contigo” (Ex 3,12).
Por Dom Adelar Baruffi – Bispo de Cruz Alta