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Num primeiro momento, parte das nossas orações não atendidas se devem ao fato de que, como vimos, “não sabemos o que devemos pedir” (Rm 8,26). E a consequência disso é que pedimos e não recebemos, simplesmente porque pedimos mal (Tg 4,3). O apóstolo Tiago, logo em seguida, explica o que é este pedir mal: queremos que Deus satisfaça os nossos desejos. Enfim, rezamos para que Deus se coloque a nosso serviço e, como um verdadeiro gênio da lâmpada, faça aquilo que mandamos. Reflita por um momento: será que os seus pedidos, por mais justos e necessários que pareçam ou realmente sejam, não se resumem a essa postura de que você sabe o que é o melhor a ser feito neste caso, e Deus só precisa realizar aquilo que você está “pedindo”?
Nossa oração muda o pensamento de Deus?
A oração seria um pedido motivado por nossos desejos. Não passaria de um movimento dos nossos sentimentos. É importante, por isso, recapitular algo do que já vimos para podermos prosseguir.
A oração é um movimento do intelecto que faz o ser humano aproximar-se de Deus, para que possa entrar em comunhão estreita com Ele e, assim, realizar a Sua vontade. Também para pedir coisas necessárias à salvação, que Ele já dispôs por Sua providência, mas que depende do assentimento de cada um. Vimos, desta forma, que a oração não é para mudar o pensamento de Deus, mas para O entender e nos ajudar a realizá-Lo diariamente. Isso mantém a saúde de nossa alma, promovendo também a santificação e ordenação do corpo por meio das virtudes, e faz com que possamos manter nossas promessas e propósitos assumidos, anteriormente, e é a mais importante arma para resistirmos às tentações.
Nada disso é possível se não se está em estado de graça. De fato, a oração em pecado é como a palavra do filho que diz ao pai que vai fazer a sua vontade, mas, de fato, não vai (Mt 21,30). O pecado nos faz perder a comunhão com Deus e, segundo Santo Tomás de Aquino, atrapalha até mesmo o mérito de quem se coloca em oração querendo se unir ao Criador. Ou, sendo bem claro, diz que quer, mas, pelos atos e de fato, não quer.
O prêmio da oração
A partir disso, podemos entender que, se o principal prêmio da oração é a bem-aventurança eterna, ou salvação, é isso que devemos pedir quando rezamos. Pedir a Deus que nos una com Ele, já aqui neste mundo, e que nos conceda a união eterna e indissolúvel que virá, insistentemente, perseverantemente. Ele mesmo, a partir disso, orientará sobre que passos também devem ser dados pelo homem para que a vontade d’Ele, que é a nossa salvação, cumpra-se.
Como vimos no artigo anterior, pode-se e deve-se contar com a intercessão da Virgem Maria, dos anjos e dos santos para que possamos entender e realizar os desígnios de Deus para nossa salvação. Afinal, como diz a própria Palavra de Deus, é vontade d’Ele que todos os homens se salvem (1Tm 2,4) e, já vimos, que a Providência Divina condicionou muitas coisas à nossa oração particular. Lembre-se de que, após ensinar os pastorinhos a rezar, o Anjo de Portugal lhes explica: “Os corações de Jesus e Maria estão atentos à voz das vossas súplicas”. E, após encontrá-los brincando, como é normal em quaisquer crianças da idade deles, relembra que muitas coisas estavam condicionadas à oração dos três, dizendo: “Que fazeis? Orai. Orai muito. Os corações de Jesus e Maria têm sobre vós desígnios de misericórdia”.
É necessário, portanto, pedir a Deus, constantemente, por nossa salvação, para que possamos ouvir a Sua voz que nos orienta e para que tenhamos forças para levar até o fim as promessas que já realizamos, como uma consagração, o matrimônio ou a ordenação sacerdotal. São pedidos bem determinados, semelhantes àqueles que o próprio Cristo nos ensinou a fazer por meio da oração do Pai-Nosso: santificar o nome de Deus, fazer a Sua vontade, propagar o Seu Reino no nosso interior e no mundo, receber as graças necessárias para cada dia e correspondê-las, principalmente vivendo o perdão incondicional.
Posso pedir bens materiais?
Posso também pedir bens materiais na oração? Esse será o tema do nosso próprio artigo. Até lá, Santo Tomás de Aquino nos orienta que nunca devemos pedir a Deus nada que possa causar o mal a nós mesmos e a outros. Mas como saber o que vai nos causar mal? Muitos acreditaram que a solução para seus problemas era o dinheiro, no entanto, as riquezas provocam a perdição de muitos. Assim como o desejo de ser reconhecido, valorizado, honrado, conquistando um título ou status na sociedade. Também muitos se perderam e se perdem através da conquista de vantagens nos negócios, através de “promoções” no trabalho que os fazem desprezar o espiritual e viver unicamente em função do material, sobrecarregados pelo mundo.
Por enquanto, fiquemos somente com aqueles bens que nunca podem causar o mal e não tem como produzir resultados ruins. São aqueles que nos tornam verdadeiramente felizes e nos fazem merecer a felicidade eterna e que, os santos, utilizando as Sagradas Escrituras, pediam sem cessar: “Despertai vosso poder, e vinde salvar-nos!” (Sl 79,3) e as lindas orações do Salmo 118, entre elas: “De todo o coração eu vos procuro; não permitais que eu me aparte dos vossos mandamentos” (Sl 118,10).
Por Flávio Crepaldi, via Canção Nova