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O Novo Testamento se inicia por quatro livros que têm o mesmo título: Evangelho, que deriva da palavra grega evangélion, que significa originalmente “boa notícia”. Esses livros são o coração das Sagradas Escrituras, porque são os principais testemunhos da vida de Jesus Cristo. O nome de cada Evangelho indica seu vínculo com a missão apostólica, pois não são uma biografia completa da vida de Jesus Cristo, mas sim testemunhos de Seus seguidores. Vez ou outra, esses testemunhos narram os mesmos fatos e trazem pequenos detalhes que se diferenciam entre si. Ao contrário de causar confusão, essas diferenças devem ser instrumento de uma ampla compreensão, pois é como ouvir a mesma história de pessoas diferentes, onde cada detalhe foi melhor percebido por cada um.
Quando Jesus estava em Cafarnaum, os Evangelistas Mateus (Mt 8, 5-13) e Lucas (Lc 7, 1-10) narram a fé do centurião que pediu o milagre da cura de seu servo. Lucas nos diz que “o centurião mandou alguns anciãos dos judeus” e depois “o centurião mandou alguns amigos”. Já Mateus conta que “um centurião aproximou-se dele”. O contexto histórico nos leva a crer que, de fato, o centurião não foi pessoalmente até Jesus. É que Lucas narrou a passagem de forma mais literal, enquanto Mateus interpretou a representação da atitude do centurião.
A riqueza das Sagradas Escrituras
Se analisarmos com clareza, podemos ver que Lucas descreve que os anciãos pediram pelo centurião com insistência e disseram que “ele até construiu uma sinagoga para nós”. Nesse ponto, nenhum de nós entendeu que, literalmente, o centurião pôs-se a trabalhar e erguer os muros da sinagoga. Na verdade, ele mandou que os servos a construíssem. A mesma força de expressão é usada por Mateus ao dizer que o centurião se aproximou de Jesus. Ainda analisando o contexto histórico, devemos considerar que o centurião era romano, chamados de gentios pelos judeus. E o judeu que entrasse na casa de um gentio estaria contaminado (Jo 18, 28). A fé do centurião se torna ainda mais evidente neste ponto, pois demonstrou empatia e compreensão em relação à origem judia de Jesus, dispensando que Ele fosse até sua casa. Também reforça sua humildade, colocando-se em posição de indignidade perante o Cristo.
“Não sou digno de que entres em minha casa”, disse o centurião. Pessoalmente ou através de seus amigos, não altera a profissão de fé. Tanto que Jesus se admira por tamanha fé. A passagem destaca a universalidade do Evangelho na relação entre o alto servo romano e os judeus, sejam os anciões ou o próprio Cristo. Jesus, como Mateus relata outras vezes, afirma que os milagres se realizam segundo a fé daquele que crê. A Liturgia coloca em nossos lábios essa valiosa oração antes de recebermos a Comunhão, para que compartilhemos da fé e humildade do centurião ao recebermos o Cristo.
Oportunidades de conhecermos em profundidade os testemunhos
Ao aprofundarmos nossas reflexões nessas passagens, saibamos que aquele milagre não se resume em curar um servo a pedido de seu senhor. Um centurião romano – normalmente – oprimia o povo sobre o qual governava. Diferente disso, aquele homem que se apresentou a Jesus tinha um coração justo, acolheu o povo sobre o qual tinha autoridade, respeitou suas crenças e era bom com eles: “ama o nosso povo”, foi o que disseram os anciãos judeus. O centurião tinha um alto cargo político, mas reconheceu em Jesus a autoridade divina. Ainda, seu pedido a Jesus não foi para si próprio, mas para um de seus servos, mostrando misericórdia. Saibamos reconhecer esses méritos do centurião, e assim entender em profundidade a admiração de Jesus, que conhece o que há em nossos corações e sabia que não era um simples pedido, mas uma prece sincera de um homem bom e justo.
Em todo o Evangelho, a coincidência entre as passagens no permite conhecer com maiores detalhes as ações e os ensinamentos de Jesus Cristo. As pequenas diferenças entre elas, longe de confundir, são oportunidades de conhecermos em profundidade os testemunhos, possibilitando analisar o que cada Evangelista testemunhou e compartilhou desses momentos. Que a Luz do Espírito Santo nos possa instruir na leitura das Sagradas Escrituras, para que possamos compreendê-La com clareza e profundidade. Que assim seja!
Referências:
BÍBLIA SAGRADA. Tradução da CNBB, 18 ed. Editora Canção Nova.
Por Luis Gustavo Conde, via Canção Nova