“Procurar, encontrar e seguir Jesus, este é o caminho”, afirma Papa
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15/01/2018As palavras que usamos corriqueiramente podem ter efeitos diversos. É lhes possível gerar situações boas ou más. Também o tom usado para proferir termos modifica tais efeitos. As palavras apenas ditas divergem em resultados com relação às escritas. Diz o velho ditado latino: “Verba volant, scripta manent”. Há perigo em dizer e mais perigo ainda em escrever. Se as palavras ditas voam, nunca mais serão recolhidas, pois o autor dos termos proferidos, por mais que se esforce ou deseje, jamais poderá saber até onde chegou sua fala. Pior se torna a situação quando se trata de ofensa, calúnia, difamação. Sempre haverá alguém para acreditar na maledicência, ainda que não tenha o mínimo fundamento.
Um dos grandes problemas da era midiática são os “fake news”. Espalham-se notícias falsas sem nenhum escrúpulo, põem-se palavras na boca de pessoas que nunca foram ditas por elas, comentam-se fatos não comprovados ou prejulgados com a maior facilidade, denegrindo indivíduos ou grupos, pisoteando a moral e a ética. Diante de tanto progresso tecnológico da comunicação, pergunte-se: onde mora a irresponsabilidade? Nem falemos sobre legislação totalmente desatualizada a respeito da punição a este tipo de crime que, hoje, pela velocidade e extensão das informações, agigantam ofensas e destroem moralmente pessoas inocentes.
A fé pode vir em nosso auxílio. Na interessantíssima organização da liturgia do Natal, há pouco celebrado, há três textos especiais para as missas. O primeiro é para a noite, quando se lê a narrativa do nascimento de Cristo, após a rejeição dos habitantes daquela aldeia; o segundo é para a Missa da Aurora, quando se reflete sobre a visita dos pastores, e o terceiro para a chamada Missa do Dia, cujo o tema central está na afirmação bíblica: “A Palavra se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1, 14).
A Sagrada Escritura ensina que esta Palavra com “P” maiúsculo não pode ser simplesmente confundida com “vocábulo”, ou um verbete dos dicionários, nem com um enunciado de uma página, nem mesmo com o livro das Sagradas Escrituras, a Bíblia. A Palavra, segundo o trecho do evangelho citado, do chamado Prólogo de São João, é uma pessoa. O verbo encarnado no seio virginal de Maria é Cristo, é o Menino de Belém. Tal Palavra que existiu desde todos os tempos, sem princípio, é o Filho de Deus que veio da Trindade sem dela se distanciar, tornou-se pessoa humana sem deixar de ser divina. Mais tarde, Pedro vai dizer a Cristo: “A quem iremos, só Tu tens Palavra de vida eterna” (Jo 6, 68).
A Palavra de Deus tem poder e não conhece defecção. Pela sua Palavra, Ele criou todas as coisas. A narrativa da criação presente no Gênesis demonstra a força da Palavra e, entre as suas etapas, um momento especial se pode destacar na criação da luz. Dita a Palavra, as trevas já não tiveram mais poder, pois a luz foi feita. Assim como a Palavra se fez carne, a luz apareceu nas trevas. Cristo é luz, como mais tarde afirmará: “Eu sou a luz do mundo, quem me segue não andará nas trevas” (Jo 8, 12).
No texto litúrgico do dia do Natal, Palavra e Luz se identificam. A Palavra de Deus ilumina a vida das pessoas humanas, como já cantara antes o Salmo: “Tua Palavra é lâmpada para os meus pés, é luz para o meu caminho” (Sl 119,105).
Se nossas palavras do dia a dia não estão em sintonia com a grande Palavra, podem gerar danos irreparáveis. Porém, se alicerçam-se nela, sempre gerarão frutos de paz, justiça, caridade, harmonia, amor, bondade e jamais destruirão pessoas. Para que as palavras humanas sejam sempre produtoras do bem, deixem-se iluminar pelo Verbo Encarnado, o Salvador em todas as situações.
Por Dom Gil Antônio Moreira – Arcebispo de Juiz de Fora