Júri de especialistas escolhem os 3 finalistas dos Prêmios de Comunicação da CNBB
14/05/2019Dom João Inácio Müller, Novo Arcebispo de Campinas
15/05/2019
Esta pergunta ouvimos frequentemente ao constatar a dificuldade crescente que as pessoas têm para conviverem pacificamente. Viver na sociedade sempre foi difícil, um desafio, porém, hoje, a impressão que se tem é que a convivência pacífica está se tornando impossível. São significativos os dados que indicam a infelicidade causada pela incapacidade de conviver que as pessoas provam, com consequente corolário de desentendimentos, brigas, vinganças, crimes, mortes.
A época moderna que tanto progresso trouxe à humanidade começou sob o signo da valorização do indivíduo. Penso, logo existo! Ouse pensar, portanto, faça a crítica e coloque-se no centro do Universo. O antropocentrismo trouxe muitos benefícios, porém, quando o homem se coloca no centro, como se fosse Deus, sente a vertigem do poder, da autossuficiência. Instala-se o individualismo, marca da cultura do consumo que é a cultura da globalização. Essa cultura funda-se no ter e não no ser, portanto, relacionar-se não tem valor, o que vale é possuir, então, é a guerra.
A dificuldade para se entender com os outros é consequência desse estado de coisas. O outro é sempre ameaça, compete comigo, é alguém a ser vencido. Já dizia Sartre, corifeu do existencialismo ateu: “o inferno são os outros”. Cresce especialmente entre os jovens a ideia de que “ser feliz é amar a si mesmo o suficiente para não precisar de ninguém”. Nossa cultura favorece a proliferação de narcisistas que no dizer de Theodore Rubin, “são pessoas que se tornam o próprio mundo e acabam crendo que são o mundo inteiro”. Assim, o conceito de liberdade, palavra chave para se entender a cultura moderna, se torna sinônimo de falta de limites.
Não é de se estranhar que os desencontros se agudizem, desde a dificuldade de conviver com o vizinho até a dificuldade de se entender, existente entre as nações. Tome-se como exemplo o desentendimento entre países ricos e pobres numa questão tão urgente como a questão climática. Questão abordada pelo papa Francisco na sua Encíclica Laudato Si’. Por que não se entendem?
Porque falta diálogo. Isso dificulta o entendimento entre as pessoas, grupos, nações. Diálogo que é característica própria do ser humano, animal racional. Diálogo que é escuta, respeito, consideração, acolhida. Quantos conflitos não foram desarmados e resolvidos com o convite: “vamos conversar?”. O ser humano não é só indivíduo, o ser humano é também pessoa, e pessoa é “um nó de relacionamentos” como ensina o pensamento personalista de Emanuel Mounier.
O exemplo consumado de diálogo nos é dado pelo próprio Deus. Na Bíblia, temos os relatos da busca que Ele faz do homem, que por sua vez também o busca. Não é só o relato de uma busca, mas de um encontro maravilhoso entre o céu e a terra: em Jesus Cristo, Deus vem ao encontro do ser humano, não para condená-lo, mas para salvá-lo num sublime diálogo de amor.
Sem diálogo ninguém se entende, sem diálogo não há solução para nenhum problema humano. Sem saber dialogar uns com os outros, não se é capaz de dialogar com o grande Outro: Deus. E nessa incapacidade de dialogar, surge a violência como opção, uma opção que não é solução para nada, ao contrário do diálogo. É destruição da qual pedimos: Deus nos livre!
Por Dom Pedro Cipollini, Bispo da Diocese de Santo André