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Provavelmente, ao ver o título deste artigo, você pensou: “Como assim? É claro que rezamos com palavras!” No entanto, a resposta é: “nem sempre”. Isso porque alguns santos nos alertam que os mais profundos graus de oração, aqueles conhecidos como contemplação infusa, atuam como uma profunda união da vontade com Deus mesmo em silêncio. Esse começo de união, como um caminho de purificação, deixa o entendimento completamente “no escuro” e “sem palavras”. Por isso, o autor conhecido como Pseudo-Dionísio, o Aeropagita, chamou a contemplação de raio de treva, e São João da Cruz a trata como noite espiritual, onde “os mergulha Nosso Senhor em tanta escuridão que ficam sem saber por onde andar, nem como agir pelo sentido, com a imaginação e o discurso” (Noite Escura, livro I, VIII, 3).
Não devemos, no entanto, considerar que as orações nas quais utilizamos palavras, conhecida por oração vocal, seja uma forma inferior de intimidade com Deus. Ela permanece sempre útil e, se bem feita, cumpre eficazmente sua função. Por exemplo, engana-se quem acredita que, como Deus conhece o mais profundo dos corações, não devemos lhe dizer nada ou não usar as palavras para comunicar aquilo que sobre nós Ele já conhece. Afinal, como vimos até aqui, a oração não serve para levar coisas desconhecidas a Deus, mas para unir todo o nosso ser e nossa mente ao Senhor.
Neste caso, Santo Tomás de Aquino relembra que, principalmente aqueles que não tem uma vida espiritual desenvolvida ainda, precisam da oração com palavras para manter sua mente focada no que está fazendo. E, se por um lado, as palavras ou o discurso interior pode nos distrair da oração, se bem ordenados ao que estamos fazendo, isto é, à própria oração, ajudam a nos concentrar.
A força das palavras expressadas
Precisamos lembrar também que, em um caso específico, a oração “com palavras” é fundamental quando rezamos coletivamente, como na liturgia. Afinal, a oração feita pelos ministros ordenados e por todo o povo precisa ser conhecida por todos e rezada em comum acordo, e isso só é possível vocalmente e, além disso, em voz alta.
No caso da oração privada ou particular, aquela que Jesus recomenda que seja até mesmo oculta (Mt 6,6), e é oferecida por uma pessoa singular por si mesma ou pelos outros, não há necessidade que seja vocal ou que se utilize da voz “externa” para ser veiculada. No entanto, Santo Tomás acrescenta dois bons motivos para fazê-lo.
Primeiro, como vimos, rezar com palavras e até exteriormente ajuda a concentrar e aumentar a devoção interior. Santo Agostinho nos diz que “pelas palavras ou por outros sinais, nós mesmos nos excitamos para o aumento dos santos desejos”. Claro que, se isso for fonte de distração ou agir impedindo a devoção, deve ser evitado. Também deve-se prestar bastante atenção para que essa oração por demais exterior não seja uma forma dissimulada de exibicionismo. Contra esse perigo nos alertou gravemente o Senhor com a parábola do fariseu e do publicano (Lc 18,9-14). E sobre o mesmo tema nos esclarece Santo Agostinho dizendo que “não é mau que sejamos vistos pelos homens; mas [é mau] fazer alguma coisa com a intenção de sermos vistos por eles”. Por isso, São João Crisóstomo utiliza a mesma passagem para ensinar que “o Senhor não quer que se participe da oração coletiva com a intenção de ser visto pelos outros. Por isso, quem ora não deve manifestar extravagâncias que os homens observam”.
Reze vocalmente
Em segundo lugar, a oração com palavras emitidas vocalmente é boa para que o homem reze por inteiro. Afinal, somos corpo e alma! Não somente alma, não somente corpo. Assim, essa oração acontece como dita nos Salmos: “alegrou-se meu coração, e a minha língua exultou” (Sl 15,9) e “minha voz clama ao Senhor, em alta voz suplico ao Senhor” (Sl 141,2). O ser humano todo, corpo e alma, louva, agradece e glorifica ao Senhor.
Por Flávio Crepaldi, via Canção Nova