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Caros amigos, seguir a Jesus Cristo implica sairmos de nós mesmos para ir ao encontro do outro. É na vivência do amor que os Seus discípulos são reconhecidos: “Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” (Jo 15, 35).
No entanto, o pensamento moderno contrapondo-se ao Evangelho tem gerado uma sociedade cada vez mais individualista. Voltado somente aos seus próprios interesses, o homem é capaz de lançar mão de atitudes terrivelmente perversas, ferindo de morte a dignidade do próximo.
O Papa Francisco usa os termos “globalização da indiferença” e “cultura do bem-estar” para denunciar este mal (cf. EG 54). O Mestre sempre lutou contra esta situação, que é inimiga do homem e da mulher de fé. Pois ouvir a voz de Deus e seguir seus mandamentos, amá-lo sobre todas as coisas e fazer o bem ao próximo são atitudes exigentes, que pedem de nós esforço e uma sensibilidade apurada.
O crescimento da violência e o escândalo da corrupção dominante em nossa sociedade, relevam quão ferida está a comunidade dos homens criados à imagem e semelhança de Deus. Incapaz de viver como irmão, cada qual reivindica os seus direitos isentando-se da responsabilidade pelo bem comum.
A história da salvação revela que o ser humano não foi criado isolado, mas inserido num contexto que lhe garante a liberdade, a dignidade e, sobretudo, a vida em comunidade. “Não é bom que o homem esteja só” (Gn 2, 18), nesta sentença está manifesta a essência relacional intrínseca à natureza humana.
O Catecismo da Igreja Católica ensina que a vida social não é algo de acessório, mas uma exigência de nossa natureza. É graças ao contato com os demais, ao serviço mútuo e ao diálogo com os irmãos, que o homem desenvolve as suas capacidades. É nas relações que se responde à vocação, que se torna verdadeiramente homem (cf. §1879).
“O que quer que você deva ser, seja lá qual for o chamado que você venha a atender, lembre-se de que o chamado fundamental de um ser humano é ter humanidade. E você deve sempre entender que esse chamado fundamental, sempre e em todo lugar, nós realizamos na medida em que temos verdadeira humanidade. Apenas quem é realmente humano é realmente filho de Deus” (São João Paulo II em O Papa e o executivo).
Sem dúvida o zelo pela integridade da comunidade humana é de todos, sobretudo de quem abraçou o seguimento de Cristo. O cristão é chamado fazer vir à tona, de modo pleno e novo, a identidade e a sociabilidade da pessoa humana, com as suas concretas consequências no plano histórico e social. São Paulo adverte que somos todos filhos de Deus, por isso não há lugar em nosso meio para discriminação e egoísmo, “pois todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gal 3, 26-28).
Nesta perspectiva, as comunidades eclesiais, convocadas pela mensagem de Jesus Cristo e reunidas no Espírito Santo ao redor do Ressuscitado, convertem-se em lugares de comunhão, de testemunho e de missão, como fermento de redenção e de transformação das relações sociais (cf. Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 52).
O cumprimento da lei do amor passa pelo reconhecimento que somos todos irmãos e participantes do mesmo Corpo de Cristo. Assim, com os olhos e o coração abertos, seremos capazes de ver naquele que sofre um igual, que espera “ser reconhecido, tocado e assistido cuidadosamente por nós” (Bula Misericórdia vultus, 15).
Por Dom Edney Gouvêa Mattoso – Bispo de Nova Friburgo (RJ), via CNBB