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05/07/2018
Jesus viveu em Nazaré da Galileia, tendo sido carpinteiro como São José. A população da pequena cidade tinha boas lembranças a seu respeito, mas dele não se projetavam grandes lances intelectuais ou funções importantes na hierarquia religiosa do judaísmo, tanto que todos se surpreendem com sua presença e suas palavras, carregadas de sabedoria. “‘De onde lhe vem tudo isso?’, diziam. ‘Que sabedoria é esta que lhe foi dada? E esses milagres realizados por suas mãos? Não é ele o carpinteiro, o filho de Maria, irmão de Tiago, Joset, Judas e Simão? E suas irmãs não estão aqui conosco?”. É como jovens de nossas cidades do interior que retornam ao meio de amigos e vizinhos depois de tempos passados em grandes centros para estudos ou trabalho.
Tornou-se célebre a afirmação de que um profeta só não é valorizado na própria terra. “Com efeito, depois de Jesus, com quase trinta anos, ter deixado Nazaré e já há algum tempo pregava e fazia curas noutras partes, regressou uma vez à sua terra e pôs-se a ensinar na sinagoga. Os seus concidadãos ficaram admirados pela sua sabedoria e, conhecendo-o como o filho de Maria, o carpinteiro que viveu no meio deles, em vez de recebê-lo com fé ficaram escandalizados com ele (Cf. Mc 6, 2-3). Este fato é compreensível, porque a familiaridade a nível humano torna difícil ir além e abrir-se à dimensão divina. Eles têm dificuldade de acreditar que este Filho de um carpinteiro seja Filho de Deus. O próprio Jesus dá como exemplo a experiência dos profetas de Israel, que precisamente na sua pátria tinham sido objeto de desprezo, e identifica-se com eles. Devido a este fechamento espiritual, Jesus não pôde realizar em Nazaré milagre algum. Apenas curou alguns enfermos, impondo-lhes as mãos (Mc 6, 5). Com efeito, os milagres de Cristo não são uma exibição de poder, mas sinais de amor de Deus, que se realiza onde encontra a fé do homem na reciprocidade. Escreve Orígenes: ‘Do mesmo modo que para os corpos existe uma atração natural da parte de uns para com os outros, como o ferro atrai o ímã, também tal fé exerce uma atração sobre o poder divino’ (Comentário ao Evangelho de Mateus 10, 19). Portanto, parece que Jesus se resigna — como se diz — ao mau acolhimento que encontra em Nazaré. Ao contrário, no final da narração encontramos uma observação que diz precisamente o contrário. Escreve o Evangelista que Jesus se admira com a incredulidade deles (Mc 6, 6). À admiração dos cidadãos, que se escandalizam, corresponde a maravilha de Jesus. Também ele, num certo sentido, se escandaliza! Não obstante saiba que profeta algum é bem aceito na pátria, todavia o fechamento do coração do seu povo permanece para ele obscuro, impenetrável: como é possível que não reconheçam a luz da Verdade? Por que não se abrem à bondade de Deus, que quis partilhar a nossa humanidade? Com efeito, o homem Jesus de Nazaré é a transparência de Deus, nele Deus habita plenamente. E enquanto nós procuramos sempre outros sinais, outros prodígios, não nos apercebemos de que o verdadeiro Sinal é ele, Deus feito carne, é ele o maior milagre do universo: todo o amor de Deus contido num coração humano, num rosto de homem’ (Bento XVI, Angelus do dia 8 de julho de 2012).
A sabedoria vem do alto e nós a reconhecemos entre os dons do Espírito Santo. Antes de ser competência humana, há de ser pedida com confiança, para que seja derramada em profusão sobre o povo de Deus. A sabedoria que resplandece na experiência de nossos anciãos e anciãs, tão valorizados pelas populações tradicionais e originárias de tantas partes do mundo, inclusive de nossa Amazônia. A sabedoria que brota da boca das crianças, pois se estas se calarem as pedras clamarão (Cf. Lc 19,40). Sabedoria testemunhada na busca da verdade presente em nossa juventude. Sabedoria na compreensão da Palavra de Deus, testemunhada em nossos grupos bíblicos. Sabedoria das pessoas que respondem ao mal com o bem, nadando contra a correnteza da maldade que se espalha pelo mundo.
A Sabedoria vem de Deus e a ele conduz, pois eleva a alma à compreensão do jeito de Deus interpretar a realidade! Ela seja implorada numa vida intensa de oração, testemunhada e compartilhada nas comunidades cristãs, a fim de que de forma especial as novas gerações bebam na fonte viva e edifiquem a Igreja.
Para identificar a presença da sabedoria autêntica, recordamos suas manifestações num belíssimo canto, presente em diversas comunidades de Igreja: “Que sabedoria é esta que vem do meu povo, é o Espírito Santo agindo de novo. Quem te ensinou povo meu repartir entre irmãos o teu pão, os teus dons, teu coração? Quem te ensinou povo meu que o amor a teu Deus buscarás para o ódio não poder nascer? Quem te ensinou povo meu que o Senhor tudo vê, julgará o que procuras esconder? Quem te ensinou povo que é preciso ter fé pra sentir Deus que sempre esteve em ti? Quem te ensinou povo meu que na Bíblia terás reflexões para tudo sobre o sol? Quem te ensinou povo meu no Evangelho encontrar condições pra uma vida já igual?”.
É mais sábio partilhar, é mais sábio abrir o coração, mais sábio ser humilde, mais sábio perdoar e buscar a reconciliação, maior sabedoria construir o bem do que semear o mal, comprometer-se com a verdade em lugar de ter a corrupção nas mãos, na mente e no coração. Esperamos que nossa geração ofereça mais do que apenas técnicas ou teorias, mas vida autêntica, nascida de dentro, onde o Espírito Santo derrama seus dons!
Por Dom Alberto Taveira Corrêa – Arcebispo de Belém do Pará