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30/09/2019
Se você acha que a felicidade é algo que simplesmente acontece, você errou como filósofo grego.
Mesmo que a filosofia aristotélica (profundamente terrena) não ignore o fato de que existem certas coisas que estão além da ação humana (gostemos ou não, o acaso desempenha um papel em nossa vidas), o que é uma boa vida e como podemos viver a vida adequadamente é uma de suas questões centrais – e não deve ser entendida em termos de sorte, mas de atitude.
Agora, a ação não deve ser sempre heroica. De fato, o cidadão grego deveria se preocupar não apenas com heroísmo, mas também com a vida simples e cotidiana, vivida e pensada em termos mais amplos.
Ou seja, a vida cotidiana era considerada (pelo menos pelos aristotélicos) teleológica. Simplificando, dizer que a vida é “teleológica” significa que a vida tem um objetivo final (“telos”) independentemente do que nós mesmos queremos fazer com ela.
Para Aristóteles, esses “telos” seriam a felicidade. Isso significa que, mesmo se decidirmos que queremos ser encanadores ou cavaleiros, queremos ser encanadores felizes e cavaleiros felizes, e não irritados e irritadiços.
Mas a felicidade não é simplesmente um sentimento. A palavra grega para felicidade, “eudaimonia”, pode ser traduzida como “ter um bom espírito” ou “possuir uma boa alma”.
É aqui que o gênio aristotélico entra em ação. Ter um bom espírito seria o equivalente humano de ser uma faca com um bom corte. Você não chamaria uma faca de “boa” se não pudesse cortar bem, simplesmente porque é para isso que serve uma faca. Então, para que serve um ser humano? Se o corte é a atividade adequada de uma faca, qual é a atividade mais apropriada para um ser humano?
Aristóteles responderia dizendo que, mesmo que compartilhemos certas características comuns com plantas e animais (todos nos nutrimos, crescemos e reproduzimos), o que nos torna distinta e especificamente humanos é a nossa capacidade de pensar.
Essa parte racional da alma seria o que poderíamos considerar a “identidade” da pessoa, por assim dizer; o que é especificamente humano na pessoa humana.
Ou seja, a atividade própria de um ser humano é o pensamento racional. E o pensamento racional, traduzido em termos práticos, implica ação virtuosa.
Em resumo: assim como uma faca pode ser considerada “uma boa faca” porque corta bem e sem esforço, um ser humano pode ser chamado de “bom” se estiver vivendo racional e virtuosamente.
“É mais fácil falar do que fazer, Aristóteles”, podemos responder, mas Aristóteles pode muito bem responder: “Na verdade, é até fácil.” É apenas uma questão de criar hábitos seguindo uma regra simples: quando houver duas opções, sempre escolha a média relativa a você. Ou seja, o que não é um excesso nem um defeito, de acordo com suas próprias capacidades.
Então, se você é um boxeador peso-pesado de altíssimo nível, lutar com Tyson pode ser o que você deve fazer. Mas se você é um mestre de pingue-pongue, lutar com Tyson é algo que você não deve fazer.
Isso é prudência, segundo Aristóteles: a capacidade de distinguir entre excesso e defeito em todos os casos, o que nos permite distinguir a coragem tanto da imprudência (excesso) quanto da covardia (defeito).
A prudência é a chave virtude que garante a felicidade: aponta para a média entre ser esbanjador ou mesquinho (para que possamos ser generosos); arrogante ou autodepreciativo (para que possamos ser sinceros); e obsequioso ou briguento (para que possamos ser verdadeiramente amigáveis).
Se você quiser saber mais sobre essa abordagem clássica da felicidade, a Ética a Nicômaco, de Aristóteles, é o livro que você precisa ler.
Via Aleteia