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29/10/2015O mundo tem acompanhado a tensa crise de refugiados que já está sendo considerada a pior desde a Segunda Guerra Mundial. Os problemas estouraram principalmente em setembro passado, quando a mídia passou a noticiar diariamente casos de mortes no Mar Mediterrâneo, principal meio de travessia rumo à Europa, e o sofrimento dos que sobreviveram à viagem mas não têm para onde ir.
O que causa essa crise? Essa é a pergunta que não cessa de aparecer toda vez que o assunto é refugiados. Na raiz do problema, há vários fatores, em especial de ordem política e econômica nos países de origem dessas pessoas.
O geógrafo Henrique Alckmin, que também é mestre em Ciências da Comunicação pela USP, explica que essa onda de refugiados não é de agora, pois é uma história que vem se repetindo desde a queda do socialismo e a emergência de uma nova ordem mundial nos anos 90. Agora, porém, o contingente é muito maior e o grau de fragilidade das pessoas é muito grande.
“São pessoas extremamente fragilizadas que estão fazendo de tudo, se arriscando em pleno mar aberto, mar mediterrâneo, para poder atingir um país seguro, uma fronteira segura porque estão fugindo da morte, da violência, de assassinatos que acontecem”.
Países que mais exportam refugiados
No topo da lista que exportam refugiados estão países como Afeganistão, Síria, Somália e Iraque, além de outros do Oriente Médio e África, principalmente. Eles têm em comum sérias crises internas motivadas, sobretudo, pelo desejo de poder e pela falta de um governo autônomo. A Síria, por exemplo, sofre com a divisão territorial: áreas controladas pelo ditador Bashar Al Assad, pelo grupo terrorista Hezbollah e outras sofrem com a ação do Estado Islâmico. Além disso, há rebeldes que fazem oposição ao governo.
Já em alguns países da África, como Eritreia e Somália, o problema é o radicalismo muçulmano, também praticado por militantes do Estado Islâmico. “Essa situação de verdadeira instabilidade nesses países, de uma falta de controle governamental e de grupos extremamente conflitantes que lutam entre si produzem esse movimento de refugiados”, explica Henrique.
Um pouco da história do Oriente Médio
Para o professor universitário Mohamed Habib, que é natural do Egito e lá morou por 31 anos, essa crise é apenas a ponta de um iceberg muito grande. Ele explica que, durante toda a história, a região do Oriente Médio foi palco de disputa de interesses e, por isso, sempre sofreu invasões e ocupações.
Como exemplo, o professor citou o que aconteceu na 1ª Guerra Mundial. A Inglaterra fez um acordo com os governantes árabes: se eles apoiassem os Aliados, encabeçados pelos Estados Unidos, contra o Império turco-otomano, teriam a independência (os países árabes eram dominados por esse império). Os árabes aceitaram e os aliados venceram, mas não honraram sua parte no acordo e ainda fizeram o contrário: passaram a ocupar alguns territórios árabes.
“Essa situação de ocupação militar dos países europeus no mundo árabe se estende até os anos 50 quando começa um movimento de libertação dos países árabes do colonialismo europeu. A partir de então, começa uma divisória desses países árabes na sua relação com as grandes potências”.
Os países que se libertaram como repúblicas foram obrigados a se aliar à União Soviética, até mesmo por questões políticas, já que eram contrários ao colonialismo europeu. Já as monarquias existentes continuaram aliadas às políticas europeias e depois às norte-americanas.
Conflito na Síria: embate entre as potências Rússia e EUA
A Síria, principal palco dos conflitos atuais no Oriente Médio, foi um dos países que se aliou à União Soviética e que atualmente possui forte vínculo com a Rússia. E aí está a causa de tudo: “É uma matança geral por motivos políticos entre o último palco da União Soviética no Oriente Médio, que é a Síria, e o Ocidente capitalista. Essa é a causa do caos que se instalou na Síria”, explica Mohamed.
Dentro do país, de um lado está o exército nacional, combatendo pelo governo de Bashar Al-Assad, e de outro está o exército de oposição que trabalha com o apoio de grupos paramilitares estrangeiros.
“Os EUA querem que o al-Assad saia, o Obama já declarou isso, o secretário de estado John Kerry também foi muito enfático. E o presidente Russo não, ele quer o contrário, ele vem fortalecendo o al-Assad (…) Qual é o perigo? É o perigo da Rússia se envolver na Síria para atacar os rebeldes que lutam contra o al-Assad. Nesse ponto, a Rússia estaria ajudando o al-Assad e não enfraquecendo o Estado Islâmico, então tem uma situação muito complicada aí”.
E quem sofre, no final, são os civis, mortos ou obrigados a fugirem sem ao menos saber o motivo. Para Henrique, essa situação toda não configura apenas uma crise de refugiados, mas uma crise humanitária, cuja solução depende de uma nova organização desses países para que haja pacificação sem violência. Isso inclui a participação das Nações Unidas.
Por Canção Nova