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03/12/2015O Prefácio de uma Bíblia voltada ao público jovem, escrito pelo Papa Francisco, foi publicado na revista dos jesuítas “La Civiltà Cattolica”. O Papa afirma no texto amar a sua velha Bíblia, que “viu a minha alegria, foi banhada pelas minhas lágrimas: é o meu inestimável tesouro. Vivo dela e por nada no mundo eu faria menos dela”. Francisco dá várias sugestões aos jovens em como usá-la, ao mesmo tempo em que confidencia a eles como lê a sua “velha Bíblia”.
Francisco iniciou o texto, afirmando que os jovens se surpreenderiam com a aparência de sua Bíblia, velha e usada, mas que por nada faria menos dela, pois é para ele “um inestimável tesouro”, que o acompanhou “metade” de sua vida. Após recordou as perseguições aos cristãos no mundo na atualidade, afirmando com certa ironia, que “evidentemente a Bíblia é um livro extremamente perigoso, que causa tanto risco, que em certos países quem possui uma é tratado como se escondesse no armário bombas ao alcance da mão”.
O Papa chama a atenção para o fato de que muitas vezes os cristãos consideram a Bíblia como uma simples obra-literária, fazendo referência às palavras de Mahatma Gandhi que afirmava: aos cristãos foi confiado um texto com “quantidade de dinamite suficiente para fazer explodir em mil pedaços a civilização inteira, para colocar de cabeça para baixo o mundo e levar a paz a um planeta devastado pela guerra”, mas o tratam como se fosse uma simples obra literária, nada além disto”.
Contrastando esta abordagem do texto sagrado, Bergoglio recorda que a Bíblia não é uma seleção de histórias antigas e bonitas, mas “pela Palavra de Deus, a luz veio ao mundo e nunca mais se apagou”, exortando – ao citar a Evangelii gaudium – que Deus mostrou-Se a Si mesmo». Acolhamos o tesouro sublime da Palavra revelada!”.
“Vocês têm entre as mãos, portanto, algo de divino – escreveu o Papa aos jovens – um livro como fogo, um livro no qual Deus fala. Por isto, recordem-se: a Bíblia não é feita para ser colocada em uma prateleira, mas é feita para ser levada na mão, para ser lida frequentemente, a cada dia, quer sozinho como acompanhados”.
Francisco sugere aos jovens a leitura conjunta da Bíblia, assim como se vai acompanhado ao shopping ou praticar esportes, propondo também que a leiam “ao ar livre, mergulhados na natureza, no bosque, na beira do mar, de noite à luz de velas…vocês fariam uma experiência forte”. E questiona: “Ou quem sabe vocês têm medo de parecerem ridículos diante dos outros?”
O Papa explica que a Palavra de Deus, para mostrar a sua força e transformar a nossa vida, deve ser meditada e lida em profundidade, pois através dela “Deus está me falando”. E confidencia como lê a sua velha Bíblia: “Frequentemente a pego, a leio um pouco, depois a deixo de lado e me deixo olhar pelo Senhor. Não sou eu que olho para ele, mas ele que olha para mim”, colocando assim “na escuta” do Senhor.
“Às vezes Ele não fala: e então não ouço nada, somente vazio, vazio, vazio…. Mas, paciente, permaneço lá e o espero assim, lendo e rezando. Rezo sentado, porque me faz mal ficar de joelhos. Às vezes, rezando, até mesmo adormeço, mas não tem problema: sou como um filho próximo ao seu pai, e isto é aquilo que conta”.
Ao concluir, escreveu: “Vocês querem me fazer feliz? Leiam a Bíblia”.
O Prefácio foi escrito para uma Bíblia dirigida aos jovens, que também colaboraram com os comentários da mesma. (Bibel. Jugendbibel der Katolishcen Kirche). A ideia da obra é de Thomas Söding, professor do Novo Testamento na Universidade de Bochu, e por longos anos membro da Comissão Teológica Internacional da Santa Sé. Pai de três filhos, sentia a necessidade de oferecer aos jovens uma possibilidade de acesso à Bíblia que fosse atraente. Assim, entrou em contato com Georg Fisher (Universidade de Innsbruck) e Dominik Markl (Pontifício Instituto Bíblico, em Roma), jesuítas austríacos e Professores de Antigo Testamento, convidando-os a colaborar com o projeto. Após a ampla divulgação do catecismo para jovens Youcat, os autores convidaram a Youcat Foundation (Augsburg), junto com a Katholische Bibelanstalt (Stuttgart) para colaborar com o projeto.
Eis o texto na íntegra:
“Meus queridos jovens amigos,
Se vocês vissem a minha Bíblia, talvez vocês não ficariam por nada tocados. Diriam: “O que? Esta é a Bíblia do Papa? Um livro assim velho, assim usado!”. Poderiam também me presentear uma nova, quem sabe uma de 1.000 euros: não, não gostaria. Amo a minha velha Bíblia, aquela que me acompanhou metade da minha vida. Viu a minha alegria, foi banhada pelas minhas lágrimas: é o meu inestimável tesouro. Vivo dela e por nada no mundo eu faria menos dela.
A Bíblia para os jovens, que vocês apenas abriram, me agrada muito: é tão vivaz, tão rica de testemunhos de santos, de jovens, que dá vontade de lê-la de uma só vez, desde o início até a última página. E depois? Depois a escondem, desaparece numa prateleira de uma biblioteca, quem sabe atrás, na terceira fila, acabando por encher-se de poeira. Até o dia em que os vossos filhos a venderão num mercadinho de usados. Não, isto não pode ser!
Quero dizer uma coisa a vocês: hoje, mais do que no início da Igreja, os cristãos são perseguidos; por qual razão? São perseguidos porque usam uma cruz e dão testemunho de Cristo; são condenados porque possuem uma Bíblia. Evidentemente a Bíblia é um livro extremamente perigoso, que causa tanto risco, que em certos países quem possui uma Bíblia é tratado como se escondesse no armário bombas de mão!
Mahatma Gandhi, que não era cristão, uma vez disse: “A vocês cristãos é confiado um texto que tem em si uma quantidade de dinamite suficiente para fazer explodir em mil pedaços a civilização inteira, para colocar de cabeça para baixo o mundo e levar a paz a um planeta devastado pela guerra. Mas a tratam, porém, como se fosse simplesmente uma obra literária, nada além disto”.
O que vocês têm, então, em mãos? Uma obra-prima literária? Uma seleção de antigas e belas histórias? Neste caso, seria necessário dizer aos muitos cristãos que se deixam aprisionar e torturar pela Bíblia: “Vocês são realmente tolos e pouco sábios: é somente uma obra literária!”. Não, com a Palavra de Deus a luz veio ao mundo e nunca mais se apagou. Na minha Exortação Apostólica Evangelii gaudium escrevi: “Nós não procuramos Deus tateando no escuro, nem precisamos esperar que Ele nos dirija a palavra, porque realmente «Deus falou, já não é o grande desconhecido, mas mostrou-Se a Si mesmo». Acolhamos o tesouro sublime da Palavra revelada!” (n.175)
Vocês têm entre as mãos, portanto, algo de divino: um livro como fogo, um livro no qual Deus fala. Por isto, recordem-se: a Bíblia não é feita para ser colocada em uma prateleira, mas é feita para ser levada na mão, para ser lida frequentemente, a cada dia, quer sozinho como acompanhados. De resto, acompanhados vocês praticam esporte, vão ao shopping; por que então não ler juntos, em dois, em três ou em quatro a Bíblia? Quem sabe ao ar livre, mergulhados na natureza, no bosque, na beira do mar, de noite à luz de velas…vocês fariam uma experiência forte e envolvente. Ou quem sabe vocês têm medo de parecerem ridículos diante dos outros?
Leiam com atenção. Não permaneçam na superfície, como se faz com histórias em quadrinho! A Palavra de Deus não pode ser lida com um passar de olhos! Antes, perguntem-se: “O que diz este texto ao meu coração? Por meio desta palavra, Deus está me falando? Talvez esteja suscitando anseios, a minha sede profunda? O que devo fazer?”. Somente assim a Palavra de Deus poderá mostrar toda a sua força; somente assim a nossa vida poderá transformar-se, tornando-se plena e bela.
Quero confidenciar a vocês como leio a minha velha Bíblia. Frequentemente a pego, a leio um pouco, depois a deixo de lado e me deixo olhar pelo Senhor. Não sou eu que olho para Ele, mas Ele que olha para mim: Deus está realmente alí, presente. Assim me deixo observar por Ele e escuto – e não é um certo sentimentalismo – percebo no mais profundo de meu ser aquilo que o Senhor me diz.
Às vezes não fala: e então não ouço nada, somente vazio, vazio, vazio…. Mas, paciente, permaneço lá e o espero assim, lendo e rezando. Rezo sentado, porque me faz mal ficar de joelhos. Às vezes, rezando, até mesmo adormeço, mas não tem problema: sou como um filho próximo ao seu pai, e isto é aquilo que conta.
Vocês querem me fazer feliz? Leiam a Bíblia”.
Por Rádio Vaticano