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18/02/2016“Há sempre a possibilidade de mudar, estamos a tempo de reagir e transformar, modificar e alterar, converter aquilo que nos está destruindo como povo, o que nos está degradando como humanidade.”
Foi a forte e premente exortação do Papa Francisco na missa celerada esta quarta-feira (17/02) em Ciudad Juárez – norte do México –, cidade que, apesar dos progressos feitos nos últimos anos no combate ao crime organizado, permanece tristemente marcada pela violência.
Foi justamente numa terra marcada por tantos sofrimentos que Francisco quis concluir a sua 12ª viagem apostólica internacional, visita esta na qual – como missionário da misericórdia e da paz – pôde tocar todas as realidades do México, “um grande país”, como ele mesmo o definiu.
A glória de Deus é o homem vivo
“A misericórdia anima-nos a olhar o presente e confiar naquilo que, de são e bom, está escondido em cada coração. A misericórdia de Deus é o nosso escudo e a nossa fortaleza”, reiterou Francisco após ter lembrado com Santo Irineu que “a glória de Deus é a vida do homem”.
O livro de Jonas, na primeira leitura – com o episódio de Nínive que se estava autodestruindo em consequência da opressão e degradação, da violência e injustiça –, serviu de moldura ao Santo Padre para evidenciar alguns traços que caracterizam a misericórdia divina.
Ao mover o coração de Jonas, Deus o envia para evidenciar o que estava acontecendo, envia-o para despertar um povo inebriado de si mesmo.
Neste texto, encontramo-nos perante o mistério da misericórdia divina, afirmou o Pontífice:
A misericórdia de Deus aproxima-se e convida à conversão
“A misericórdia sempre rejeita o mal, tomando muito a sério o ser humano; sempre faz apelo à bondade adormecida, anestesiada, de cada pessoa. Longe de aniquilar, como muitas vezes pretendemos ou queremos fazê-lo, a misericórdia aproxima-se de cada situação para a transformar a partir de dentro. Isto é precisamente o mistério da misericórdia divina: aproxima-se e convida à conversão, convida ao arrependimento; convida a ver o dano que está a ser causado a todos os níveis. A misericórdia sempre entra no mal para o transformar.”
O apelo de Jonas à conversão encontra homens e mulheres capazes de se arrependerem, capazes de chorar: deplorar a injustiça, deplorar a degradação, deplorar a opressão.
“São as lágrimas que podem abrir o caminho à transformação; são as lágrimas que podem abrandar o coração, são as lágrimas que podem purificar o olhar e ajudar a ver a espiral de pecado em que muitas vezes se está enredado. São as lágrimas que conseguem sensibilizar o olhar e a atitude endurecida, e sobretudo adormecida, perante o sofrimento alheio. São as lágrimas que podem gerar uma ruptura capaz de nos abrir à conversão.”
“Hoje esta palavra ressoa vigorosamente no meio de nós” – disse Francisco. “Esta palavra é a voz que clama no deserto e nos convida à conversão”, acrescentou.
Pedir a Deus o dom das lágrimas, o dom da conversão
Neste Ano da Misericórdia, disse, “quero implorar convosco neste lugar a divina misericórdia, quero pedir convosco o dom das lágrimas, o dom da conversão.
Com o olhar voltado para a realidade dos nossos dias, o Pontífice foi incisivo:
“Aqui em Ciudad Juárez, como noutras áreas fronteiriças, concentram-se milhares de migrantes da América Central e doutros países, sem esquecer tantos mexicanos que procuram também passar para «o outro lado». Uma passagem, um caminho carregado de injustiças terríveis: escravizados, sequestrados, objetos de extorsão, muitos irmãos nossos acabam vítimas do tráfico humano.”
Migração forçada tornou-se fenômeno global
Não podemos negar a crise humanitária que, nos últimos anos, levou à migração de milhares de pessoas. Hoje, esta tragédia humana que é a migração forçada, tornou-se um fenômeno global, prosseguiu o Papa.
Em seguida, ressaltou as chagas sociais que forçam os irmãos e irmãs a partirem: a pobreza, a violência, o narcotráfico e o crime organizado.
“À pobreza que já sofrem, vem juntar-se o sofrimento destas formas de violência”, de cuja espiral é difícil sair:
“Uma injustiça que se radicaliza ainda mais contra os jovens: como «carne de canhão», eles veem-se perseguidos e ameaçados quando tentam sair da espiral de violência e do inferno das drogas.”
“E que dizer das tantas mulheres à quais se lhes foram injustamente ceifadas a vida!”, exclamou o Santo Padre, aludindo ao fenômeno que a partir dos anos noventa fez de Ciudad Juárez teatro de violentos homicídios em série contra as mulheres.
Implorar a misericórdia do Pai
“Não mais morte nem exploração! Há sempre tempo para mudar, há sempre uma via de saída e uma oportunidade, é sempre tempo para implorar a misericórdia do Pai.”
Francisco reconheceu o trabalho de muitas organizações da sociedade civil em favor dos direitos dos migrantes, e não só:
“Estou a par também do trabalho generoso de muitas irmãs religiosas, de religiosos e sacerdotes, de leigos votados ao acompanhamento e à defesa da vida. Prestam ajuda na vanguarda, muitas vezes arriscando a própria vida. Com a sua vida, são profetas de misericórdia, são o coração compreensivo e os pés da Igreja que acompanha, que abre os seus braços e apoia.”
“É tempo de conversão, é tempo de salvação, é tempo de misericórdia”: concluiu o Papa Francisco em seu último encontro com os fiéis e peregrinos mexicanos, numa celebração Eucarística presidida na área da Feira de Ciudad Juárez, cujo altar fora montado a 80 metros da fronteira internacional entre México e EUA.
Por Rádio Vaticano