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06/10/2016“Corremos o risco de reduzir o sagrado mistério a bons sentimentos”, advertiu o Prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, Cardeal Robert Sarah, em uma entrevista na qual recordou a importância do “silêncio” dentro da liturgia como caminho para chegar a Deus, destacado pelo Concílio Vaticano II.
“O silêncio não é uma ideia; é o caminho que permite os seres humanos chegar a Deus”, afirmou o Purpurado em declarações ao jornal francês “La Nef” por ocasião da publicação do seu livro “A força do silêncio: Contra a ditadura do ruído”.
O Cardeal africano não hesitou “em declarar que o silêncio sagrado é uma lei fundamental em toda a celebração litúrgica” que permite aos fiéis ingressar no mistério celebrado. “O Concílio Vaticano II enfatiza que o silêncio é um meio privilegiado para promover a participação do povo de Deus na liturgia”, afirmou durante a entrevista divulgada em inglês pelo “The Catholic World Report”.
Entretanto, advertiu que “sob o pretexto de tornar mais fácil o acesso a Deus, alguns quiseram que tudo na liturgia seja imediatamente inteligível, racional, horizontal e humano. Mas, atuando desse modo, corremos o risco de reduzir o mistério sagrado a bons sentimentos”.
“Sob o pretexto da pedagogia, alguns sacerdotes permitem inúmeros comentários que são insípidos e mundanos. Esses pastores temem que o silêncio na presença do Altíssimo possa desconcertar os fiéis? Acreditam que o Espírito Santo é incapaz de abrir os corações aos divinos Mistérios derramando sobre eles a luz da graça espiritual?”, questionou.
“Deus é silêncio e o demônio é barulhento. Desde o princípio, Satanás procurou esconder as suas mentiras sob uma agitação falaciosa, ressonante”, assinalou a autoridade vaticana.
Nesse sentido, advertiu que nesta época “o ruído chegou a ser como uma droga da qual nossos contemporâneos são dependentes. Com sua festiva aparência, o ruído é um redemoinho que evita que cada pessoa se olhe cara a cara e enfrente o vazio interior. É uma mentira diabólica. O despertar pode ser somente brutal”.
Diante disso, o Cardeal Sarah afirmou que recuperar o sentido do silêncio é uma prioridade e uma “necessidade urgente. A verdadeira revolução vem do silêncio, esta nos dirige a Deus e aos outros e assim podemos nos colocar humildemente a seu serviço”.
Além disso, “assinalou que o silêncio é o tecido do qual nossas liturgias devem ser cortadas. Nada nelas deveria interromper a atmosfera silenciosa, que é o seu clima natural”. “Não há uma espécie de paradoxo que indica a necessidade de silêncio na liturgia, enquanto admite que nas liturgias orientais não têm momentos de silêncio, enquanto elas são particularmente belas, sagradas e orantes?”.
O silêncio, indicou, “expõe o problema da essência da liturgia. Agora a liturgia é mística. Enquanto nos aproximamos da liturgia com um coração ruidoso, esta terá uma aparência humana, superficial. O silêncio litúrgico é uma disposição radical e essencial; é uma conversão do coração”.
Nesse sentido, o Cardeal Sarah perguntou: “Como podemos entrar nesta disposição interior a não ser dirigindo o nosso olhar, todos juntos, sacerdote e os fiéis, para o Senhor que vem, para o leste simbolizado pela abside, onde o trono é a cruz?”.
A autoridade vaticana assegurou que “a orientação ao exterior nos leva à orientação interior que esta simboliza. Desde os tempos apostólicos, os cristãos foram familiarizados com esta maneira de rezar. Não é uma questão de celebrar de costas para o povo ou olhando para eles, mas para o Oriente, ad Dominum, para o Senhor”.
Para o Cardeal africano, esta forma “promove o silêncio”. Olhando para o Senhor, “o celebrante está menos tentado a ser um professor que faz uma leitura durante toda a Missa, reduzindo o altar a um pódio centrado já não na cruz, mas no microfone!”.
O sacerdote, assinalou, “deve recordar que é somente um instrumento nas mãos de Deus” e que “nossas palavras humanas são ridículas comparadas com a única Palavra Eterna”.
O Purpurado esclareceu que esta forma, “legítima e desejável, não deve ser imposta como uma revolução”. Do mesmo modo, embora em muitos lugares a catequese “tenha permitido aos fiéis aceitar e apreciar a orientação”, isto não deve chegar a ser “ocasião de um choque ideológico entre facções”, pois “estamos falando da nossa relação com Deus”.
“Como tive a oportunidade de dizer recentemente, durante uma entrevista privada com o Santo Padre, aqui só estou fazendo as sugestões sinceras de um pastor preocupado pelo bem dos fiéis. Não tenho a intenção de colocar uma prática contra a outra. Se não for fisicamente possível celebrar ad orientem, é absolutamente necessário pôr uma cruz no altar em plena vista, como um ponto de referência para todos. Cristo na cruz é o Oriente cristão”, afirmou.
Do mesmo modo, defendeu a continuidade do Concílio Vaticano II e assinalou que “é tempo de aprender do Concílio em vez de utilizá-lo para justificar nossas preocupações sobre a criatividade ou defender nossas ideologias mediante a utilização das sagradas armas da liturgia”.
Reler o Concílio, afirmou, “permitiria que evitemos que os ofertórios sejam desfigurados por demonstrações que estão mais relacionadas com o folclore do que com a liturgia”.
A respeito da sua menção há algum tempo da “reforma da reforma”, o Cardeal Sarah assinalou que “a liturgia sempre deve ser reformada a fim de ser mais fiel a sua essência mística. O que é chamado ‘reforma da reforma’ e que nós talvez devemos chamar ‘mútuo enriquecimento dos ritos’, para adotar uma expressão do magistério de Bento XVI, é uma necessidade espiritual. Portanto, isto corresponde a ambas as formas do rito Romano”.
Finalmente, exortou a não “desperdiçar o nosso tempo contrastando uma liturgia com a outra, ou o rito de São Pio V ao do Beato Paulo VI”. “Danificar a liturgia é prejudicar a nossa relação com Deus e a expressão da nossa fé cristã”, assinalou.
A autoridade vaticana recordou que “o diabo quer que estejamos uns contra os outros no verdadeiro sacramento da unidade e da comunhão fraternal”.
“É tempo de acabar com esta desconfiança, desprezo e suspeita. É tempo de redescobrir um coração católico. É tempo de redescobrir juntos a beleza da liturgia”, concluiu o Cardeal africano.
Por ACI Digital