A identidade
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22/08/2017“Não sei exatamente o que significa síndrome do pânico, eu só sei que é uma coisa muito ruim de sentir”, desabafou Padre Fábio de Melo, ao revelar que vem enfrentando esta doença, ao mesmo tempo em que chamou a atenção para o cuidado da saúde física e emocional dos sacerdotes.
Um sacerdote conhecido, cantor, compositor, apresentador de televisão, com uma vasta agenda, Pe. Fábio de Melo relatou no dia 11 de agosto em uma publicação em seu Instagram que havia tido 20 dias antes “sintomas de síndrome de pânico”, algo que já tinha enfrentado “2 anos atrás” e superado “muito rapidamente na época”.
Mas, desta vez, o presbítero compartilhou com seus seguidores da rede social que “foi muito diferente”. “Fiquei praticamente uma semana trancado em casa, com sensação de morte, tristeza profunda e medo de tudo. Nunca chorei tanto na minha vida”, contou.
Agradecendo pelo carinho de todos, garantiu que falaria “mais sobre o assunto”, quando estivesse “mais inteiro”, por considerar que poderia “ajudar os que enfrentam o mesmo problema”.
Foi o que fez no dia 16 de agosto, durante o programa ‘Direção Espiritual’, que apresenta na TV Canção Nova.
Pe. Fábio de Melo contou sobre “esse momento difícil” que está vivendo. Segundo ele, tudo começou quando, em julho, foi para Fortaleza cumprir sua agenda. Quando o avião aterrissou, disse ter sentido um grande mal-estar, taquicardia, mãos suando, sensação de medo e opressão.
Ao tomar o medicamento que leva sempre consigo, conseguiu cumprir sua agenda e retornou para casa, no interior de São Paulo, onde enfrentou os sintomas da síndrome do pânico. “Um estado emocional, espiritual, que eu nunca tinha experimentado em minha vida”.
Foram dez dias durante os quais disse ter vivido “um processo tão destrutivo” que, “ao mesmo tempo em que o meu medo de morrer era tão grande, eu sentia vontade de morrer, para cessar tudo aquilo”.
“Claro, em dois ou três dias, eu entreguei os pontos mesmo, de não querer sair do quarto. Mas, nos outros dias não, era conciliando esta dor, esta angústia com uma tentativa de sobreviver”, relatou o sacerdote, que atualmente faz uso de medicamentos para a síndrome.
Pe. Fábio disse que logo procurou seu Bispo, Dom Wilson Luís Angotti (da Diocese de Taubaté), que o acolheu “com muito carinho”. “Desabafei, contei a ele todas as minhas angústias, todas as minhas dores. Ele concordou comigo que eu precisava de um auxílio médico e também procurar criar na agenda da minha vida um espaço para eu ter condições de viver o que não é obrigação”, disse.
Nesse sentido, salientou que, embora se realize “naquilo que é obrigação”, também é preciso “ter um espaço para o lúdico, para o não compromisso”.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), de 2 a 4% da população mundial tem a síndrome do pânico. Ainda segundo a entidade, no Brasil, 9% da população sofre de algum transtorno de ansiedade, entre os quais se encontram a síndrome do pânico, fobias, transtorno obsessivo-compulsivo, ansiedade social, entre outros.
O próprio Pe. Fábio de Melo revelou que recebeu retorno de outros sacerdotes amigos seus que contaram estar “vivendo algo semelhante”.
“Isso tem sido muito próprio da vida sacerdotal, parece que o padre foi assumindo trabalhos, trabalhos e trabalhos, e nós perdemos o direito de viver sem culpa o divertimento, parece que, se a gente é visto em um lugar que não é a Igreja, se a gente é visto de repente com alguns amigos, aquilo pode não soar bem”, sublinhou.
“Quando esse meu amigo me mandou uma mensagem se solidarizando comigo, ele me disse: ‘eu estou enfrentando a mesma coisa, com uma diferença, não tenho a coragem que você tem de contar’”, relatou Pe. Fábio, ao aconselhar que “as nossas dores precisam ser partilhadas, as nossas angústias, as nossas ansiedades”.
Para o sacerdote, “quando nós dizemos, de alguma forma, começamos a organizar dentro de nós o que está desorganizado”. Trata-se de “uma forma de você se comprometer com aquilo que está acontecendo. Falar faz bem, contar às pessoas que nós amamos faz bem”.
Por fim, Pe. Fábio declarou: “Estou vivendo um momento difícil na minha vida, um momento de crise, e eu tenho fé de que essa crise vai me tornar um ser humano melhor”.
Por ACI Digital